— O senhor pesquisou isso? — Perguntei casualmente. Parecia mais uma experiência própria. Tio Nino riu com desânimo. 

— Eu vivi isso. Tanto vindo de mim mesmo, tanto de Alessa, tanto de Nico. — Ele suspirou. — A mente de um depressivo é um lugar escuro e doloroso. Você preferiria ser torturado pelos russos do que estar na mente daquela pessoa. 

Eu fiquei em silêncio tentando processar suas palavras. Sem pensar duas vezes eu me colocaria no lugar dela, pegaria toda sua dor para mim. Porra. Como eu queria que isso fosse possível.

Tempo. Eu só precisava de tempo para faze-la feliz. 

Eu só queria que houvesse tempo

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— Gostaria de fazer uma faculdade. — Jhenifer comentou quando estávamos na sala de estar. — Mas papai não deixaria. 

Mamãe deixou o notebook de lado com um sorriso compreensivo. 

— Você pode fazer como eu e minhas irmãs, uma faculdade a distância. Tenho certeza que seu pai não se importaria, ele só não deixaria você ir para a presencial por causa dos aspectos de segurança. 

— Mamãe tem razão. — Comentei. Se Jhenifer entrasse na faculdade, seria uma grande distração de seus problemas. — Você pensou em algum curso?

— Gosto de moda. — Jhenifer deu de ombros. — Tem muito tempo que não desenho, mas acho que ainda sei. Posso fazer desenhos para algumas marcas que me aceitarem. 

— Qualquer marca te aceitaria. — Anna riu. — Você é a princesa de New York. Lembra que você saiu naquela revista sendo uma das dez mulheres mais bem vestidas do baile beneficente dois anos atrás? 

— Eu lembro. — Jhenifer riu saudosa. — Mamãe enlouqueceu. Chegou a dançar pela casa. 

— Carina sempre foi louca por tablóides. Enquanto Thomaz morre de raiva das notícias que aparecem deles, ela fica saltitante. — Mamãe riu. — Tenho certeza que ela vai apoiar. 

— Vou ligar para o meu pai e perguntar. — Jhenifer murmurou com um sorriso. Mamãe balançou a cabeça. 

— Ele está vindo para Vegas resolver alguma coisa. Deve estar chegando. 

— Mamãe vem junto? 

— Não sei. Ele só mandou uma mensagem para Nico. — Minha mãe franziu as sobrancelhas. — Espero que os malditos russos não tenham feito merda. 

— As coisas com a Rússia não estavam sob controle? — Anna questionou confusa. 

— Estavam, mas pode mudar a qualquer momento. Diferente de nós, a Rússia não se divide. Eles são como Camorra, Cosa Nostra e Outfit, só que juntos. Por isso tivemos que nós juntar para expulsar parte deles dos Estados Unidos. — Eu expliquei mesmo que estivesse me sentindo repentinamente mal. Um mal estar me tomou, como um mal pressentimento. 

As coisas com a Rússia poderiam sair do caminho facilmente. Se Thomaz estava vindo para cá com tanta pressa, talvez, algo tivesse dado errado. Aniston Belikov não deixaria que nós simplesmente fodessemos com ele. Estando há quarenta anos no poder, ele era o Capo mais insano que se ouvira falar. 

Um carro estacionou nos jardins, mas as mulheres não pareceram perceber. Elas não eram acostumadas a prestar atenção em qualquer mínimo ruído diferente. Provavelmente Thomaz, já que o soldado no portão só deixava conhecidos entrarem. Me levantei em busca de descobrir; o pressentimento ruim dentro de mim me pedia para analisar qualquer situação que não fosse usual. Abri a porta e por um momento alívio me tomou ao ver Thomaz caminhar para a entrada. Pelo menos era ele, não um exército russo. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Where stories live. Discover now