1. Todo Mundo Menos Você.

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LORENZO.

Ela me olhava como se pudesse ler minha mente, como se soubesse tudo que se passava dentro do meu interior conturbado. Seus olhos azuis me traziam desejo, mas também me lembravam de quem ela era filha. Eu tentei, mais do que tudo, ser a pessoa responsável, tornar aquela relação unilateral, fingir que o desejo era somente dela, mas por fim, deixei-me cair em tentação quando seus lábios macios pronunciaram meu nome de uma forma que ninguém havia pronunciado antes. 

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Passei pelos portões da escola, minha provação diária, e suprimi a vontade de dar a volta e ir embora. Eu nunca faria uma faculdade, nunca teria os mesmos objetivos que meus colegas de turma, eu havia nascido na máfia, tinha sido jurado no sangue e na dor. Mas meu pai insistia que eu deveria terminar o ensino médio, que eu deveria falar vários idiomas, que eu deveria socializar com gente da minha idade. Eu não gostava de adolescentes, mesmo sendo um. Um bando de crianças mimadas que não sabiam nada da vida, protegidas e criadas para serem médicos e advogados renomados, que achavam que um coração partido ou uma briga com os pais era o fim do mundo. Nenhum deles tinham a mínima ideia do que era o fim do mundo, mas eu sabia. E o fim do meu  mundo tinha um par de olhos azuis brilhantes e uma cabeleira vermelha. Eu não sabia se Thomaz havia permitido que Jhenifer cursasse o último semestre do ensino médio porque ela conseguia tudo que queria, ou porque ele estava ansioso para despachar mais um filho para Las Vegas, para meu pai que era dez mil vezes um pai melhor que ele. Primeiro veio Cristian, o moleque de dez anos que prefere a morte do que viver longe do meu pai, e agora, Jhenifer. 

— Você vai me ignorar pelo resto da vida? — A ruiva perguntou em voz baixa, caminhando ao meu lado como se fosse a própria dona da escola. Raiva me encheu quando vi os garotos estúpidos da nossa idade olhando para ela como se ela fosse uma bendita aparição vinda dos céus. 

— Se você veio para Las Vegas para conversar comigo, perdeu seu tempo. — Disse-lhe entredentes. Se Jhenifer pensava que conseguiria me dobrar sob seus desejos nesses seis meses que passaria aqui, ela estava muito enganada. 

— Lorenzo, o que aconteceu no passado não muda a nossa amizade. — Jhenifer falou suavemente, suas sobrancelhas avermelhadas se arqueando ao olhar para mim. Continuei andando, mas ela também. — Antes de qualquer coisa, apesar de qualquer coisa, somos amigos. 

Continuei em silêncio. Nada que Jhenifer dissesse tiraria da minha cabeça que ela estava em Las Vegas para atentar minha vida. Empurrei a porta do laboratório de biologia e caminhei até minha mesa habitual no fundo da sala. Ninguém nunca se sentava ao meu lado, nem mesmo as meninas que tinham coragem para dar encima de mim. As vezes, eu me pegava pensando no que eu transparecia para causar tanto medo aos adolescentes que não sabiam nada da vida. Jhenifer parou no meio da sala, olhando para as mesas ocupadas por duas pessoas e depois para as que ainda não tinham formado duplas. Um dos garotos do time de futebol, um loiro com cara de otario, sorriu para a ruiva. Eu diria que ele estava prestes a convida-la para de sentar com ele. 

— Jhenifer. — Chamei mais duramente do que pretendia, a voz baixa chamando a atenção das pessoas; eles nunca me ouviam falar, eu apenas escutava as aulas e observava sua bagunça irritante. Éramos diferentes, extremamente diferentes. Eu tinha uma arma na cintura enquanto eles fingiam que sabiam brigar, se metendo em todo tipo de confusão. Jhenifer caminhou em minha direção em passos firmes, mas eu podia ver a ansiedade em seus olhos conforme todos passaram a encara-la da mesma forma que faziam comigo. Adolescentes estúpidos, porém espertos. A ruiva sentou-se ao meu lado e segurou as mãos trêmulas sobre a mesa. — Você está bem? 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Where stories live. Discover now