As portas se fecharam com um ding alto. Luca arregalou os olhos, seu rosto se tornando vermelho quando o ar lhe foi cortado. 

— Lorenzo, tire as mãos dele! — Anna ordenou atrás de mim. As portas se abriram atrás de Luca, dando para o corredor do hotel e nós dois quase caímos no chão. 

— Que porra é essa?! — Ouvi a voz de Nino exclamar atrás de mim, um segundo depois ele já estava ao meu lado, me puxando para longe do meu primo. Luca tossiu quando eu o soltei, esfregando o pescoço. 

— Eu só estava brincando! — Luca gritou. 

— Eu não me importo com a porra da chantagem que você esteja fazendo, Lorenzo. Se você encostar no meu filho de novo, eu conto tudo para Thomaz. — Nino sibilou no meu ouvido. 

— Do que você está falando? — Me virei em direção a ele completamente confuso. Chantagem? Que chantagem? 

Nino me encarou e eu o encarei de volta, ambos nada dispostos a desviar o olhar primeiro. Quando ele voltou a falar, seu rosto assumiu uma frieza cruel. 

— Eu não sei. Mas eu tenho certeza de que tem uma, minha mulher nunca concordaria em esconder essa merda simplesmente por bondade no coração. 

— Cuide da sua vida. — Sibilei. 

O rosto de Nino se encheu de ultraje, mas eu não aguardei sua resposta. Simplesmente saí em direção ao meu quarto, deixando Anna com os olhos arregalados. Eu nunca quis fazer aquela merda na frente dela, mas não dava pra voltar atrás. 

Assim como não dava pra voltar uma noite atrás e nunca ter fodido com Jhenifer Rizzi. 

Quando entrei no quarto e bati a porta com força atrás de mim, fui direto para o banheiro. Tudo que eu mais precisava era tirar aquela roupa molhada do corpo, os resquícios da humilhação. Não que eu fosse esquecer o olhar de toda aquela gente quando Jhenifer me jogou sua bebida. Talvez por ser quem era, por ter sido tratado a vida toda como um príncipe, eu não conseguia lidar com a vergonha em público. Olhei no espelho. Além das marcas roxas em meu pescoço, havia também um corte em minha testa provocado por uma pedra de gelo. Tirei minhas roupas e entrei no chuveiro, a água quente levando a melhor sobre meu corpo tenso. 

Por um momento meus olhos queimaram. O que eu tinha feito? 

•——————«•»——————

Passei o resto da viagem jogado na cama. Meu pai bateu na porta, mas desistiu quando eu gritei em algo e bom som que não iria abrir. Mamãe também tentou, mas eu também não abri. Que se foda essa merda. Por fim, dois dias depois, quando voltamos para Las Vegas, eu passei todo o vôo em silêncio, de fones de ouvido, ouvindo música no volume mais alto. 

Se havia algo que eu sabia bem, era que deveríamos ficar calados quando não tínhamos nada de bom para dizer. E eu não tinha. Nem para Jhenifer, nem para meu pai, nem para tio Nino e Luca. Bom, para os dois últimos eu tinha um pedido de desculpas. 

Pedido de desculpas que só consegui por em prática três dias depois de nossa volta. 

— Luca? — Chamei quando o encontrei nos jardins. Meu primo ergueu o rosto do livro que estava lendo, A Arte da Guerra, uma obra que tio Nino me obrigou a ler quando tinha a idade dele. 

— Olha… 

— Sinto muito por ter feito aquilo. De verdade. Foi ridículo e infantil. Você pode me desculpar? 

— Isso é surpreendente. — Meu primo disse com um olhar surpreso. — Você quer que eu te desculpe ou te perdoe? 

— Tem diferença? 

— Claro. — Luca deu de ombros. — Perdoar é dizer que eu aceito seu pedido e que realmente acredito que você esteja arrependido, o que me faz perdoar suas ações. Te desculpar seria tirar sua culpa, des-culpar. Dizer que você não teve culpa e que está tudo bem. 

Esse cara realmente era filho do Nino, puta que pariu. 

— Então você me perdoa? — Perguntei por fim. — Eu não quero que você me desculpe. Quero que você me perdoe por ter agido como um babaca. 

— Claro. Já estava perdoado, na verdade. Eu imaginei que você estava no limite e que a provocação te fez surtar. Eu deveria ter percebido pela sua cara que não deveria zoar contigo. — Luca deu de ombros. — Estamos em paz? 

Meu primo abriu um sorriso sincero, exibindo seus dentes alinhados. Ele era idêntico ao Luca, irmão do meu pai. Mesmos cabelos loiros, mesmos olhos cinzas, mesmo sorriso estranhamente reconfortante. Mas esse Luca que estava na minha frente era gentil, bondoso e jamais magoaria sua família igual a nosso tio. E isso me trouxe ainda mais arrependimento. 

— Sinto muito, de verdade. 

— Você está bem? — Luca perguntou quando comecei a me virar para ir embora. — Sei lá. Você parece meio triste. Precisa de um abraço? 

— Eu vou ficar bem agora que eu sei que você me perdoa. — Menti com um sorriso. Eu gostaria de um abraço. Céus, eu queria muito um abraço, mas se abraçasse alguém, começaria a chorar. 

E só tinha alguém que eu poderia procurar nesses momentos. 

Me despedi de Luca e tomei meu caminho para dentro de casa. 

A casa estava vazia, pelo menos no térreo. Subi as escadas em direção ao local que sabia que poderia encontrar quem eu mais queria ver naquele momento. 

— Voltou a sociedade? — Papai perguntou com um mínimo sorriso quando o encontrei na biblioteca, de pé avaliando umas das prateleiras. Ele não era muito fã de livros, mas aquele era o local mais silencioso da casa. 

— Eu… — Um bolo surgiu em minha garganta. Haviam tantas coisas que eu queria contar, mas não podia. Alguns segredos deveriam permanecer enterrados. 

Papai deixou o livro que estava segurando de lado e abriu os braços. Era incrível como eu não precisava dizer nada para e mesmo assim ele soubesse exatamente o que eu precisava. Quando atravessei o cômodo e o abracei apertado, não senti o habitual conforto que sempre sentia em seus braços. Naquele momento, eu me senti horrível. 

— Não importa o que seja, vai ficar tudo bem. — Ele prometeu me abraçando da mesma forma que fazia quando eu era criança. Como se para ele, eu nunca tivesse crescido. 

— Promete? — Perguntei pateticamente. Talvez se papai prometesse, eu pudesse sentir alívio. Afinal, ele nunca me decepcionava. 

— Prometo. 

O alívio não veio. Nem mesmo Nico Parisi poderia conter o que estava chegando. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang