[XVII] Redenção

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[JEON JUNGKOOK | SAT]

Querido adolescente,
   Você só é adolescente por dois mil quinhentos e cinquenta e cinco dias, isso são trezentos e sessenta e quatro sextas-feiras depois da escola, sete verões. Então, seja um adolescente.
   Brinque. Se declare para as pessoas que você gosta. Corte o cabelo, pinte ele. Grite. Fuja. Faça novos amigos e vá a festas. Faça elogios. Abrace seus pais. Chore. Dance. Seja aquela pessoa incrível para alguém. Faça memórias e sorria ao lembrar delas. Corra. Vá a um encontro. Compre aquela camiseta. Veja o pôr do Sol. Seja gentil. Tente coisas novas. Assista aquele filme de terror. Aprenda a dirigir para escapar. Ouça suas músicas favoritas. Tire fotos. Faça uma festa do pijama. Brinque com maquiagem ou com bolas de basquete. Experimente comidas novas. Fique desperto.
   Mude o mundo.
   Esses são os anos, os 2555 dias, as 364 sextas-feiras, os 7 verões que você vai se lembrar. Faça o seu “eu” de 70 anos ter tido a melhor adolescência. Sinta orgulho disso enquanto estiver acordado hoje e para sempre.

Ainda somos muito jovens.

E, na minha vez, quando eu era jovem, me apaixonei. Nós gostávamos de escapar, ele me encontrava no lado sul, na cidade onde o Sol não dormia, e dávamos as mãos, pois também estávamos despertos.

Supostamente dezessete anos e sonhávamos com o futuro: construir uma casa, um lar para poder voltar na hora de voltar de verdade, com uma família, cachorros e tudo mais.

De repente, completamos dois milênios separados e somos obrigados a levar a vida mais à sério. Temos nossos destinos, profecias, caminhos diferentes, momentos de sono, obrigações sem futuro, reinos para comandar e vidas quase humanas para viver.

Mas, mais importante que cumprir profecias, temos a obrigação de acordar.

Conheci de perto nossos inimigos. Me pergunto se ainda temos nossos amigos. Ou se seremos os mesmos.

Voltando à quando éramos crianças que escapavam e nunca morriam. Adolescentes que fugiam da morte como o diabo foge da cruz. Eu estava apenas me apaixonado pelo jeito que ele corria, porque ele me encontrava e você sabe e lembra que fugíamos à noite em um maserati vermelho.

Eu gosto de fugir.

Costumávamos nos beijar debaixo da lua, na parte solitária da pedreira. O engraçado é que ela nunca deixou de ser sozinha. Talvez eu odiasse aquela pedreira, mas amo Jimin. Essa é a parte não-solitária e boa e viva no mundo.

Também amo Pyro. E essa é a parte morta e valiosa que ainda vive em meu sangue verde e podre.

Mas eu odiava o seu sorriso perfeito depois de me beijar, era o mesmo de quando tínhamos seis e sete anos e brincávamos de ser reis. Odiava o jeito que seu cabelo era. Odiava como me fazia rir mesmo que tudo que me contasse fossem partículas de mentiras bem contadas.

Agora eu apenas odeio o jeito que ele me manipulava, mas me arrependo da forma como o deixei.

Fiquei de mãos dadas com ele naquela noite o tempo todo e dançamos naquele baile como dois adolescentes, e me arrependi de não ter ficado mais tempo. Me odiei por tentar odiá-lo. Foi com esse pensando que pude ouvir o seu coração bater pela última vez antes de ser arrastado pela água e voltar para casa sem ele.

Maldita sétima maré que insiste em banhar-me de sangue e separar minha outra parte de mim.

Eu não podia deixá-lo, não ainda. A gente iria cuidar do Bolo, adotar as crianças que ele sempre quis e teríamos uma família. Íamos ser felizes, pois eu ainda o amo.

Mas eu o abandonei. De novo.

E queria que nosso amor fosse o motivo pelo qual voltei. Queria mesmo. Mas o despertar se deu pela música que doce e baixa soava pelos quatro cantos do brumo, o vento quente e seco levava a melodia para todos, inclusive até a mim.

Garoto infernal • jjk + pjmWhere stories live. Discover now