— Vossa Alteza — reverenciou, flexionando levemente o pescoço. —, as convidadas já estão presentes.

Ótimo, lá estava mais uma seção de tortura com chá amargo e mulheres com línguas mais amargas ainda!

Querida Valentina, quanto tempo! — Aurora, uma das duquesas cumprimentou-me cheia de cortesia exagerada e aquela falsa fleuma, muito típica de Âmbar.

— Acho que a senhorita engordou um pouquinho nessa viagem, melhor fechar a boquinha — Wanda, a encantadora donzela, filha de Aurora, despejou, dando uma risadinha.

— A senhorita acha? — Mamãe perguntou-lhe olhando-me de cima abaixo com preocupação.

— Pelo menos dois quilinhos — a moça arregalou os olhos pesados de tanta maquiagem cor púrpura.

— Verdade — respondi tranquila —, nunca comi tão bem quanto em Porto Rico. Aquilo sim é banquete! — Esfreguei as duas mãos na barriga, o que fez as duas convidadas me olharem horrorizadas.

Vossa Alteza, que fizeram com a menina?!  Aurora falava com as duas mãos enluvadas sobre a boca — Certamente uma lavagem cerebral! 

Não controlei minha vontade de rir do espanto daquelas damas. Tudo bem que eu tinha aprendido a ser gentil e agradável com as pessoas, sobretudo as pessoas mais velhas, e esse tipo de princípio eu obedecia sempre. Só que, às vezes, eu só queria me sentir respeitada pelas outras pessoas também, e aquelas mulheres viviam opinando sobre o meu corpo, sobre a minha maneira de me vestir e me portar, sobre o meu suposto dever de me casar com o príncipe Edgar, enfim, sobre tudo. Só que, depois da minha aventura em San Juan, percebi que, se de qualquer jeito as pessoas iriam querer opinar, eu não deveria me privar de ser a Valentina de verdade.

Às vezes, eu me perguntava se não tinha sido trocada no dia do meu nascimento, tomando o lugar do bebê de sangue real, porque, definitivamente, não me encaixava nos padrões de uma princesa. Nada que eu fizesse era o suficiente para agradar todas aquelas pessoas, nem mesmo aos meus pais. Eu era como o patinho feio, só que sem a parte de me tornar um cisne perfeito. Em San Ruan, fora a primeira vez que senti pertencimento e acolhimento, coisas que, até então, eu não fazia ideia de que era exatamente o que estive procurando em todos aqueles livros.

— Deixe-a hospedada por uns dias na mansão da madame Hortênsia, vai pô-la nos trilhos rapidinho — Wanda me olhou como se eu fosse um cãozinho que tivesse acabado de fazer as necessidades no tapete e precisasse ser adestrado.

A verdade era que Wanda era uma das moças solteiras de Âmbar que estava obcecada por Edgar. Uma das damas que me odiava gratuitamente por eu ser a infeliz a quem o príncipe, convenientemente, escolhera.

— Perdoem-na queridas, ela só está brincando. — Mamãe me olhou com a aura de repreensão. — Coisas da juventude. Mas eu vou mandar chamar a madame Hortênsia tão breve possível.

Resolvi permanecer calada durante todo o chá das 16h, pois concluí que nada do que eu dissesse mudaria a percepção daquelas ladies sobre mim. Eu era a "deslocada e sem educação, muito sortuda pelo príncipe Ed ter se interessado por mim", e nada tiraria isso da concepção daquelas tagarelas.

Em alguns casos, concluí, o silêncio é a melhor resposta. Mas em outros, como entre o Daniel e eu, o silêncio é mais perturbador do que mil agulhas perfurando os ouvidos. Exagerada?! Talvez...

 Exagerada?! Talvez

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⏰ Última atualização: Jan 16, 2022 ⏰

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