36. Play With Fire.

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Tio Nino se colocou de pé e lançou um longo olhar em direção aos presentes. 

— Giuseppe Parisi. — Ele disse, inclinando a cabeça respeitosamente. Quando ele se sentou, outro homem se colocou de pé, um mais velho, com o rosto enrugado e cabelos brancos, vestindo um terno cinza escuro. 

— Vito Camino. — Ecoou. 

Cada família na sala representada por um dos membros diria o nome de seu antepassado que estava presente na fundação da Camorra. Papai havia dito que isso aconteceria, mas ver era algo muito mais impressionante. Havia tanto respeito, tanta devoção, que por um momento me senti indigno de estar ali. 

— Romero Vitiello. — Outro disse antes de se sentar e dar o lugar ao próximo. 

Dezenas de nomes foram citados, famílias que eu nem me lembrava que existiam, todos com um profundo tom de respeito. Luca parecia deslumbrado com a cerimônia, encarando cada um dos homens com olhos arregalados. Vi tio Nino conter um sorriso ao olhar para o garoto. 

— Marco Falcone. — Honrou o último homem a se colocar de pé. 

— Lorenzo Massimo Parisi. — Papai chamou depois de um longo minuto silencioso cheio de trocas de olhares. Eu não sabia de onde tinha vindo a tremedeira, mas quando me levantei da cadeira, tive que me forçar a caminhar em direção ao palco, para onde ele me aguardava. Novamente os homens se colocaram de pé quando caminhei até meu pai, ajeitando meu terno de três peças preto como o dele. Os homens voltaram a se sentar quando subi os degraus e me posicionei ao lado de meu pai. — Contemple seus irmãos.

Encarei cada um dos presentes, coração batendo acelerado no peito ao passar meus olhos sobre cada um dos rostos. Eu sabia o que vinha agora. Como na bíblia haviam dez mandamentos seguidos por todos os cristãos (ou não) a Camorra tinha oito. Diferentemente dos religiosos, nossos mandamentos não eram ignorados em hipótese alguma.  Mandamentos que eu não conhecia, afinal, eles só eram ditos naquelas reuniões raras. Oh, porra. Eu me sentia cada segundo mais indigno de estar ali. 

Nunca renunciará à Camorra. Seu compromisso com a Sacra Famiglia é até tua morte. — Tio Nino ecoou colocando-se de pé apenas por tempo suficiente para pronunciar suas palavras. Quando ele se sentou, outro se elevou. 

O Capo nunca trairá sua esposa. Uma mulher é o suficiente e ressentimento poderia fazer a Primeira Dama dizer o que não deveria. Uma mulher satisfeita é uma mulher com a língua presa.

Eu quase caí deitado com aquele mandamento. Tinha uma regra que impedia o Capo de trair sua esposa? E porra, até que fazia sentido. A mulher do Capo sempre sabia de tudo. Tive que evitar um sorriso ao pensar em Jhenifer como minha esposa e depois evitar um revirar de olhos ao lembrar que era impossível. 

Não há valor na traição. Não há valor em um traidor. Tu matarás teu próprio sangue se for necessário para proteger a Camorra. Se em algum momento achar que não resistirá e contará nossos segredos, corte tua língua.

Uh, boa pedida. Cortar a língua. Quem nunca? Se meus músculos faciais não estivessem paralisados, eu teria rido. Lentamente uni minhas mãos frente ao corpo, um gesto calmo e pensado, pois agitação mostraria que eu estava nervoso. 

— Nunca olhará para as mulheres dos teus irmãos, Capo ou não. Nem para as mães e irmãs com lascívia. A mulher do teu irmão não deverá sequer ser olhada.

Esse eu já tinha descumprido. Próximo? 

Os desprotegidos não serão ignorados. Nossas mulheres estarão seguras, os filhos nascidos cegos ou surdos não serão esquecidos, aqueles que se tornarem deficientes também não.

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Where stories live. Discover now