35. Dusk Till Dawn.

Começar do início
                                    

Arregalei os olhos ao ouvir suas palavras. Desculpar? 

— Eu te chantageei. — Sussurrei energicamente. — Eu quem devo pedir perdão e… 

— E eu agi como meu pai e Thomaz agiriam, eu fiz você sentir medo de perde-lo como meu pai e Thomaz me fizeram sentir naquela época. E doeu demais, Jen. Eu lembro como se fosse hoje. — Tia Alessa segurou minha mão sobre o braço do assento. — Eu não vou fazer com você o que fizeram comigo. 

Me inclinei sobre o assento e abracei apertado quando meus olhos se encheram de lágrimas. Tia Alessa me abraçou de volta, acariciando minhas costas. 

— Me perdoe por ter dito aquelas coisas, por te colocar naquela situação, eu realmente não vi outra saída. Eu realmente… Nossa, tia… Me perdoa. — Sussurrei contra os cabelos dela. — Eu nunca quis te magoar. 

— Eu sei, Jen. Eu sei que você nunca quis me magoar, que você nunca teria dito se não fosse por Lorenzo. Mas foi bom ter acontecido porque só assim eu percebi que você realmente o ama. — Tia Alessa se afastou segurando meus ombros. — Mas precisamos conversar. 

— Sobre o que…? 

— Sobre você e ele. — Tia Alessa disse franzindo os lábios. — Eu realmente não sei se existe alguma forma de algum dia vocês estarem juntos verdadeiramente. 

— Não existe. — Ri com amargura. — Estamos cientes. 

— Estão? 

— Sim. Só queremos viver o que temos agora. Que seja eterno enquanto dure e tudo mais. — Suspirei. — Qualquer fração de segundos juntos, é melhor do que uma vida inteira separados.

— Como começou? — Tia Alessa perguntou melancólica. Ela não contradisse minhas palavras. 

— Quando eu tinha catorze anos e estava apaixonada por ele desde os cinco, encontrei ele na academia da mansão Parisi, decidida a contar para ele. Eu não consegui falar, apenas… O beijei. Mal passou de um selinho. Por cinco segundos ele ficou lá, parado, e então ele surtou e disse que aquilo não poderia ter acontecido, que não era certo, e eu chorei. — Comecei a rir baixinho, tomando cuidado com a minha voz para que ninguém ouvisse. — Dois anos depois, quando aquilo com o filho do Manoel aconteceu, ele me beijou. Me beijou mesmo, de verdade. Ali eu soube que ele gostava de mim. Mas ele sempre foi teimoso e cabeça dura, nunca deu o braço a torcer. Eu pressionava, ele se aproximava, então ele se arrependia e se afastava. Ele tinha tanto medo de desapontar o pai que um dia ele me implorou para me afastar dele, para não ajudá-lo a cair em tentação. Eu me afastei, sofri, chorei… E então no Cruzeiro ele viu a cena entre minha mãe e o pai dele e desistiu da resistência. Estamos juntos desde então. 

— Vocês fizeram sexo? — Tia Alessa perguntou arqueando as sobrancelhas. Meu rosto corou até a raiz dos cabelos. 

— Não, claro que não. Não somos loucos. 

— Graças a Deus. — Tia Alessa soltou uma risada constrangida. — Essa é uma barreira que vocês não podem ultrapassar. Tudo que vocês fizerem até aí é fácil de esconder, fácil de fingir ao contrário, mas perder sua virgindade seria uma prova de tudo. Você entende, não é? 

— Entendo… — Suspirei. 

Ou eu achava que entendia. 

Quando chegamos no hotel, eu estava batendo os dentes de frio. Havíamos saído de Las Vegas num sol de 34° graus e eu me vesti de acordo, com calça jeans, blusa de alças e sapatilha, esquecendo-me completamente que a Itália estava no meio do inverno. Estremeci violentamente. 

— Tudo bem, Jhenifer? — Tio Nico perguntou enquanto esperava seu representante italiano resolver o problema com o detector de metais na entrada. Pela expressão de tio Nico quando viu aquela coisa depois das portas giratórias, o representante tinha grandes problemas. Antes que eu pudesse responder, Lorenzo tirou seu casaco e o passou para mim. 

— F-frio. — Murmurei me agarrando ao casaco como se minha vida dependesse daquilo. O cheiro de Lorenzo me tomou e eu tive que evitar suspirar contra o tecido ao vesti-lo. 

— Se você não tiver trago casacos, pode usar os meus. — Tia Alessia disse com um sorriso animado. — Eu compro milhares e nunca uso em Las Vegas, então trouxe todos! 

— É por isso que parece ter um homem morto na sua mala? — Nico debochou passando o braço sobre os ombros da esposa. — Ou por isso que o banco me ligou essa semana achando que eu tinha sido roubado porque alguém comprou mil casacos novos? 

— Eu já te disse, uma mulher custa caro. — Tia Alessia ironizou se aconchegando mais contra o marido. 

— Nós já conversamos sobre isso… — Nico disse com um sorriso e se inclinou para beijar tia Alessia. As crianças fizeram barulho de nojo em uníssono e eu ri tanto que algumas pessoas olharam para nós. 

— Sério, eu vou furar meus olhos. — Lorenzo avisou, mas tinha uma expressão contente no rosto. Acho que nada o deixava mais feliz do que ver seus pais daquela forma. 

Eu sorri, realmente feliz, quando o representante voltou. O cara alto e loiro abriu um sorriso afetado para tio Nico. 

— O detector de metais será que desativado durante toda sua estadia, senhor. 

Tio Nico apenas assentou com uma cara de poucos amigos e guiou tia Alessia para o interior do hotel. Senti pena do pobre homem. Que tipo de imbecil reservava um hotel com detector de metais para uma família inteiramente mafiosa? Coitado. 

— Ansioso? — Perguntei a Lorenzo. A cerimônia super secreta seria no começo da noite. Tudo que eu sabia sobre a ocasião era que Lorenzo seria apresentado como próximo Capo, jurando pela Camorra, nada mais. 

— Acho que vou desmaiar a qualquer momento. — Ele brincou, mas havia ansiedade em seus olhos cinzentos. 

— Não importa como seja, vamos comemorar depois. — Prometi. Lorenzo me lançou um sorriso malicioso antes de se inclinar em minha direção, roçando os lábios em minha orelha. 

— Vamos comemorar, sim. Com minha boca em todas as partes do seu corpo. 

Me arrepiei por inteira ao ouvir suas palavras sussurradas, o rosto quente de vergonha e ansiedade. 

— Agora sou eu quem estou ansiosa. 

Infelizmente, naquela época, eu não sabia que meu futuro seria definido no final daquela noite. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Onde histórias criam vida. Descubra agora