— Devo preocupar-me em ser inspecionado por uma funcionária da Central de Obliviação? — O tom atraente pairou no ar à medida que Daphne elevava a atenção ao rosto afilado de Lucius Malfoy.

— Há motivo para se preocupar? — Ela retornou a cadeira à posição inicial e a girou na direção do sogro da irmã.

Lucius observou-a cruzar as pernas e apoiar os cotovelos nos braços do assento sem se privar de absorver cada detalhe dos movimentos suaves. Daphne, por sua vez, não mascarou inocência diante da curiosidade desejosa dele.

Ninguém conservava a ideia tola de que o casamento dos Malfoy era baseado no preceito de "amar e respeitar". Talvez tenha sido um dia, porém não mais. A fachada se erguia diante da necessidade conservadora em manter a aparência de perfeição. Eles fingiam que enganavam e as pessoas fingiam que acreditavam; jogo que vinha perdendo a sutileza com o passar dos anos.

— Longe disso. Venho visitá-la com a melhor das intenções e... — ele olhou ao redor com o nariz franzido —, acredito eu, haja um local apropriado para uma conversa entre futuros familiares.

Daphne continuou a encará-lo sem piscar, até notar pequenos sinais de inquietação da parte do ex-comensal, graças ao silêncio proposital. Ela se permitiu estudá-lo com cuidado, sem, contudo, demonstrar nada além de um semblante analítico. Lucius se embevecia do senso autoimposto de superioridade; a carência quase dolorosa de dominar cada âmbito em que se metia, mesmo quando não convidado. Conhecer esse traço nada imperceptível só suscitava a vontade de Greengrass em testar os limites da soberania do bruxo, em vez de se sentir intimidada.

Sem dizer uma palavra, ela se levantou e passou por Lucius, quase esbarrando em seu braço. Não se deu ao trabalho de olhar para trás, certa de que ele a acompanhava de perto apesar dos buchichos, e o guiou a um lounge que nunca ficava cheio naquele horário. Tinha certeza de que Malfoy o consideraria igualmente inapropriado, contudo, aliviar o desconforto do bruxo não estava na sua lista extensa de prioridades.

— Então, a que devo a honra? — perguntou, sentando-se em frente a um tabuleiro de xadrez, cujas peças a encararam na esperança de serem usadas.

— Depois do incidente no jantar — ele correu o dedo enluvado pelo assento e o inspecionou em busca de poeira antes de se sentar —, achei de bom-tom me desculpar pela atitude grosseira de minha esposa. Não podemos começar essa nova fase com hostilidade.

— Concordo. Se a Sra. Malfoy não tentar desmerecer minha irmã, não serei obrigada a humilhá-la. — Daphne sorriu e, por alguns segundos, só o que se ouviu foi o ruído das peças de xadrez, irritadas ao serem ignoradas. — E isso serve para qualquer um que apresentar o mesmo comportamento com Astoria.

— Sua relação com ela é belíssima. Às vezes me arrependo de não ter dado um irmão a Draco. — Ele encarou a mão que segurava a bengala com mais força que o necessário e estendeu os dedos, voltando a segurá-la com leveza. — Não se preocupe com Narcissa. — Lucius lhe deu um sorriso preguiçoso; olhos atentos aos seus lábios. — Tivemos uma conversa naquela mesma noite, onde concordamos que a atitude deplorável dela não deve se repetir.

— Que gentil.

— E não desejo que essa imagem negativa a impeça de nos ver com bons olhos — continuou Malfoy, fingindo não notar a ironia no tom da bruxa. — Por isso vim aqui, na tentativa sincera de desfazer a impressão que deixamos. Gostaria de convidá-la para jantar.

Daphne semicerrou os olhos. "Gostaria", "Convidá-la". Singular demais.

— A Sra. Malfoy concordou em nos convidar para outro jantar tão cedo?

— A Sra. Malfoy não está envolvida — disse, escorrendo as palavras feito mel —, e o convite não se estende ao resto da família Greengrass.

A obliviadora não se surpreendeu, porém queria ouvi-lo admitir que a chamara para um encontro. Se forçasse um pouco, arrancaria até a confissão de que Lucius Malfoy desejava fodê-la ali mesmo, excitado com a possibilidade de serem pegos no ato. Mas ela não queria apressar as coisas. A adolescente que fora um dia estaria exultante, afinal, não era todo dia que sua paixonite platônica demonstrava reciprocidade de interesse. A Daphne adulta, por outro lado, não se impressionava tão facilmente.

— Há um restaurante encantador onde desejo levá-la; comida saborosa em um ambiente elegante. Poderemos conversar sobre o casamento, sem esse odor rançoso no ar e o inconveniente de sermos interrompidos. — Daphne arqueou a sobrancelha e Lucius apressou-se em acrescentar: — Isso, é claro, caso se sinta confortável na minha presença. Garanto-lhe que farei minha parte em ser uma boa companhia.

— Assim espero. Meu tempo me é muito caro para perdê-lo sem um bom motivo. — Ela se levantou de repente, percebendo o erguer de sobrancelhas quase insignificante de Malfoy. — Mande-me uma coruja com endereço e horário. Agora o senhor terá que me desculpar — disse ao vê-lo abrir a boca, pronto para protestar sobre a quebra abrupta na conversa —, mas há uma pilha de processos que demanda minha atenção.

Então Daphne dignou-se a dar um breve aceno de cabeça e deixou o lounge, um Lucius constrangido e peças de xadrez irritadas para trás.

Então Daphne dignou-se a dar um breve aceno de cabeça e deixou o lounge, um Lucius constrangido e peças de xadrez irritadas para trás

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Notas

Lucinho doido pra chegar na gata :)

Efêmero ϟ PotterversoWhere stories live. Discover now