— Ok. Irei dizer aos outros. Tia Alessa está… Inconsolável. 

Jhenifer, filha, você está segura? Foi um ataque? — Eu quase deixei o celular cair ao ouvir suas palavras… Preocupadas? Ela nunca havia se preocupado comigo daquela forma, parecendo extremamente desamparada. Com medo. 

— Eu estou bem… Todos estamos, eu acho. Lorenzo disse que meus tios metralharam uma sala cheia de homens e alguns deles conseguiram revidar. — Estremeci ao contar aquilo. Será que Lorenzo estava no meio? Será que ele também tinha atirado, somando mais mortes em sua vida? — Estou bem, mãe. 

Tudo bem, tudo bem. Me ligue se houver qualquer outra informação, chegaremos em breve. Diga a Alessa que tudo vai ficar bem

— E se não ficar? — Perguntei baixinho. 

Não. Não pense assim. Nino vai ficar bem. Nino precisa ficar bem. Todos o amam, mas Nico e Alessa… Nico e Alessa não sobreviveriam a isso. — Mamãe suspirou. — Pense positivo, sim? Me ligue caso tenha novidades. Até breve.

— Até breve, mãe. 

Praticamente abracei o telefone contra o peito, como se pudesse eternizar o pequeno comento de preocupação que ela teve por mim. 

— Você está bem? — Lorenzo perguntou parando ao meu lado. Eu tive vontade de abraça-lo, mas seria irresponsável fazer isso com minhas tias tão perto. Respirei fundo, fitando seus olhos cinzentos. Suaves, despreocupados… Mentirosos. A máscara de frieza havia voltado, escondendo todos os seus verdadeiros sentimentos. 

Você está bem? — Retornei a pergunta. Era ele quem tinha visto o tio ser baleado. 

— Um pouco chocado, mas bem. — Lorenzo suspirou se encostando contra a parede. — Feliz aniversário, Jhenifer.

Meu coração errou uma batida ao ouvir sua frase. Procurei o relógio em meu pulso, surpresa por ser meia noite e dois. O dia do meu aniversário; o dia que meu tio Nico fez o parto da minha mãe, em uma mata fechada, sem luz ou ajuda externa. O dia em que eu nasci, chorei pela primeira vez, provando da crueldade do mundo. Feliz aniversário. Dezoito anos depois eu ainda estava viva, ainda chorando, ainda provando do mundo cruel que havia sido inserida sem consentimento. Eu me sentia ingrata, sem propósito. Enquanto meu tio lutava pela vida, eu me perguntava se teria escolhido nascer se a proposta me fosse apresentada. 

— Obrigada… — Acabei por dizer, a voz falhando. 

— Isso vai passar. Tio Nino vai melhorar e iremos para casa, comemorar seu dia. — Lorenzo abriu um mínimo sorriso. Vê-lo tentar agir normalmente como se não estivéssemos destruídos era doloroso de se ver. Aquele sorriso profundamente forçado era doloroso de se ver. 

— Não há nada para comemorar. — Acabei por confessar a verdade vergonhosa. — Eu não comemoro meu aniversário há cinco anos. Não sopro velas, não faço programas especiais. Não é grande coisa, não é nada. Apenas… Esqueça. 

— É o dia em que você nasceu. — Lorenzo murmurou aturdido. — É um dia de gratidão por sua vida. 

— Fale isso com meu irmão, ele adora aniversários. Comigo… Apenas faça como meu pai e minha mãe, ignore que eu nasci hoje. — Respirei fundo, esfregando meus olhos. Fechar os olhos era um alívio constante. — Por favor. Não faça disso grande coisa. 

— Eu… — Lorenzo soltou uma pequena risada desconsertada. — Eu entendo que você não… Na verdade, não. Eu não entendo. Eu passo todos os dias da minha vida feliz por ter você comigo, mas você parece que desistiria de viver sem pensar duas vezes se tivesse a oportunidade. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Where stories live. Discover now