27. Radioactive.

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— O que…? — Cambaleei para trás. Meu corpo ficou trêmulo e dolorido. — Mentira. Meu pai jamais faria isso! Jamais! Ele nunca mataria a mãe do filho de seu próprio irmão!

Luca riu com escárnio, me olhando como se eu fosse a porra de uma criança.

— Pergunte a ele, então. Arrume uma forma de perguntar sem contar nosso segredo e pergunte a ele o que ele disse quando eu falei que iria me casar com uma forasteira, grávida de um filho meu. — Luca apontou um dedo acusatório para o meu peito. — Pergunte ao seu “papai” quem ele realmente é.

— O que você quer de mim? — Rosnei por fim. Era mentira. Tinha que ser. Meu pai nunca faria aquilo. Ele era gentil, bondoso, cheio de compaixão. Ele amava as crianças, alimentava os órfãos, dava auxílio as viúvas e aos deficientes de nosso circulo e até mesmo de fora dele.

— Você ainda não entendeu? — Luca perguntou colocando uma mão em meu ombro. Eu estava perplexo demais para afasta-lo.

— Lorenzo! — Jhenifer chamou estalando os dedos na frente do meu rosto. Havia me perdido tanto nas memórias daquele dia que sequer percebi quando a aula terminou e a sala ficou vazia. 

— Oi? — Perguntei meio aturdido. Jhenifer me encarou preocupada. 

— Estou te chamando há quase um minuto inteiro. — Jhenifer murmurou franzindo o cenho. — No que você estava pensando?

Suspirei cansado. Jhenifer confiava em mim enquanto eu escondia dela um segredo. Ela jamais esconderia algo tão importante de mim. Mas que escolha eu tinha? 

— Não sei. — Acabei desviando os olhos. Era impossível mentir olhando naqueles olhos azuis. — Sei lá. Estou meio aéreo. Acho que dormi sentado. 

— Tudo bem… — Jhenifer suspirou. — Almoço?

Já era assim tão tarde? Eu mal notei as aulas da manhã terem passado. Jhenifer franziu as sobrancelhas outra vez e respirei fundo antes de me levantar, arrastando a cadeira num barulho sonoramente irritante. 

— Eu te amo, sabe? — Jhenifer disse baixinho quando atravessamos a sala, próximos a porta. — Você… Você pode contar comigo para qualquer coisa. Se você precisar de um abraço, ou de carinho… Eu tô aqui. 

Meu coração se aqueceu mediante aquela demonstração de preocupação verdadeira, ao mesmo tempo que me senti irritado por não estar conseguindo esconder tão bem meus sentimentos conflituosos. Me inclinei em direção a Jhenifer, feliz pela sala estar vazia, e a abracei apertado, firmando meus braços sob seu pescoço e a base de sua cintura. Jhenifer retribuiu o gesto, abraçando apertado minha cintura. Suspirei em seus cabelos, sorvendo o perfume dos fios lisos e o leve cheiro de química remanescente. 

— Eu acho que vou ficar com a parte do abraço, sim? — Tentei soar brincalhão, mas até mesmo as palavras suaves foram amargas. Jhenifer firmou o aperto de seu abraço, beijando minha clavícula com gentileza. 

— O que você quiser, sempre que você quiser. — Jen disse baixinho. — Vou estar sempre cuidando de você. 

Pensamentos perigosos tomaram minha mente quando pensei que nem sempre ela estaria comigo. Pensamentos que eu não deveria ter, porque só de pensar naquelas coisas, eu estava traindo minha família e a Camorra. Sem convite, as palavras de Luca Parisi retornaram à minha mente; 

E se você pudesse tê-la? E se ela pudesse ser sua? O que você faria em troca disso? De tê-la para si?

O que eu faria? Era mais fácil perguntar o que eu não faria. Não obstante, essa pergunta também era perigosa. O que eu não faria? Com certeza trair meu pai era uma destas coisas. Abandonar a Camorra, mamãe e minha irmã. Porra. Tio Nino, minhas tias, meus tios, meus primos que eram quase irmãos… 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Onde histórias criam vida. Descubra agora