Heroes

138 9 4
                                    

Ziggy

Corri desesperada até a entrada do acampamento, mas era tarde demais.
O ônibus com todo mundo, incluindo os monitores, já tinha ido embora.
Eu gritei e encarei o vazio e a escuridão do lado de fora do acampamento.
Pensei em Lisa, Cindy e Alice naquele buraco sujo,pelo menos elas estavam vivas, mas por quanto tempo?
Da escuridão surgiu uma figura alta. Tommy não tinha demorado muito para me achar.
Voltei a correr e resolvi entrar no refeitório.

Lisa

Eu e Cindy já estávamos sem esperança. Seguindo o mapa nós pudemos ver um túnel um pouco mais estreito e baixo, com uma luz fraca no final. Sem pensar duas vezes abaixei e comecei a engatinhar, chegando a um espaço. Quando olhei para cima vi uma grade e me lembrei de tê-la visto na cozinha quando passava por lá.
-Conseguimos!- exclamei para Cindy, que entrava atrás de mim no espaço.
-Agora precisamos tirar isso daqui.- a garota começou a forçar a grade, mas ela não saia por nada.
-Tem alguém aí?!- gritei, mas não obtive resposta. Escutamos barulho de porta abrindo.
-Precisamos de ajuda!- ninguém respondeu, mas escutamos Carry On Wayeard Son começar a tocar muito alto.
-Cindy, e agora?!- berrei para que a garota pudesse me ouvir.
-Vamos chutar!

Ziggy

Fiz um caminho de pegadas até a dispensa. Peguei uma faca, tirei os tênis e me escondi dentro de um armário.
Mesmo com a música alta, eu pude escutar as machadadas incansáveis que Tommy disferia na porta. Me encolhi e apertei o cabo da faca, fazendo os nós dos meus dedos ficarem extremamente brancos.
Finalmente ele a destrancou. Pude vê- ló entrando pelo vão da madeira da porta. Ele caminhou até o finalzinho da dispensa, e eu me preparei. Abri a portinha lentamente, mas quando cheguei perto dele a música parou de tocar.
Tommy percebeu a minha presença e se virou. Cravei a faca no peito do garoto. Porém aquilo não surtiu efeito, apenas o deixou mais irritado.
Ele me golpeou e eu cai no chão. Tentei lutar, mas ele me levantou e me prensou contra a prateleira. Ele me enforcava, e por mais que eu tentasse me desvencilhar, o garoto era assustadoramente forte.
O gosto metálico de sangue preencheu minha boca e eu comecei a sentir a vida se esvaindo do meu corpo.
Levei os braços para trás e senti um saco de arroz vazio. Peguei ele e coloquei na cabeça de Tommy. O garoto ficou confuso e eu consegui derrubá-lo. Enforquei ele com o saco o mais forte que eu pude, mas levei uma cabeçada e cai no chão.
Quando o garoto se levantou eu pude ver a marcação do seu rosto no saco. Eu nunca senti tanto medo em toda a minha vida.
Eu me arrastei pra fora da dispensa e corri pela cozinha, mas Tommy me alcançou. Ele me deu um chute e eu cai no chão.
-Não!- gritei quando ele empunhou o machado. Mas uma faca atravessou seu peito.
Ele se virou e Cindy o encarou
Eu pude ver a expressão de dor em seu rosto, mas logo se tornou raiva.
-Vai- ela deu uma facada no peito de Tommy- se- duas- foder!- na terceira o garoto caiu no chão, sem vida.
Encarei Cindy e Lisa, ofegante e assustada.
-Você disse um palavrão.-soltei, impressionada.
-Está virando um hábito.- me endireitei e as duas correram até mim, me abraçando.
-Vocês estão fedendo a merda.- eu ri.
-Porque nós estamos cobertas de merda.- Lisa disse e eu me afastei.
-Meu Deus.- nós três rimos e nos encaramos.
-Sinto muito, Ziggy.- Cindy disse, emocionada- Sinto muito por não estar aqui só hoje, mas não estar nunca.
-Não, você estava...- falei de cabeça baixa, segurando o choro.
-Não, não estava.- Cindy me interrompeu- Eu sei disso agora. Sei que você só precisava que eu escutasse. Eu achava que se focasse e seguisse as regras, tudo ficaria bem, que eu iria sair de Shadyside, mas agora sei que você tinha razão. Está tudo amaldiçoado.
-Eu poderia ter sido mais legal. - sorri para a menina- Ter tentando ser menos monstro.
-Bem...- ela abaixou a cabeça- Você era meu monstro.- suas palavras me emocionaram e me pegaram de surpresa-E, no fim das contas, a mãe, o pai... Shadyside, Sunnyvale. - ela segurou meu rosto e eu me senti imensamente grata- Nada vai nos separar novamente. Ouviu?
-Sim, senhora.- brinquei e me virei para Lisa, que nos olhava com lágrimas nos olhos- Achei que tivesse morrido, Lis.
Ela sorriu e me deu um selinho.
-Não vai se livrar de mim tão cedo.- ela se virou para Cindy- Nem você. Depois disso, somos melhores amigas!- Cindy riu, mas o clima foi cortado por um barulho vindo da entrada que levava até os túneis.
-Que porra...- ficamos em alerta, mas suspiramos ao vermos a cabeça de Alice.
-Iai, idiotas.- sorri e Cindy e Lisa se aproximaram para tirar a garota do buraco.
   Ela ficou de pé e me olhou. Acenei com a cabeça e ela se virou para Cindy.
-Você conseguiu.
-Nós conseguimos.- Cindy puxou Alice e Lisa e as três se abraçarem.
-Tomem cuidado.- ela empurrou as duas, que a olharam com estranheza- Isso deve ter um milhão de anos.- ela apontou pra bolsa de Cindy, que disse, ofendida:
-Eu comprei no mês passado.
-Não isso, gênio.- Alice riu- Eu achei, Cindy. Estava lá, na pedra do demônio, enterrada a três palmos da terra.
-Do que está falando?- Cindy perguntou.
-Três palpites.

Carry On Wayward Son•ᶠᵉᵃʳ ˢᵗʳᵉᵉᵗ Onde as histórias ganham vida. Descobre agora