The Man Who Sold The World

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Lisa

Ziggy saiu do quarto e eu encarei o estrado da cama de cima.
Me sentia incomodada e com um grande sentimento de medo, que tentei não demonstrar a menina. Não estava afim de preocupar a mesma.
Eu senti raiva do que Sheila tinha feito, mas eu estava tão confusa e pensativa que logo passou.
Eu tentava juntar as peças. Será que os surtos eram de família? Ou o comportamento perturbado de Mary tinha uma ligação com Sarah Fier?
Bati a mão na testa, e, pela segunda vez no dia, me censurei. Como eu poderia acreditar naquilo? Era absurdo! Uma bruxa que transforma as pessoas em piscopatas, que tonteira.
Me virei para a parede feita de madeira. Eu conseguia ver a luz do sol pelas frestas.
Suspirei, me sentindo mal e enjoada. Forcei os olhos, tentando dormir um pouco, vendo se aqueles pensamentos bagunçados iam embora.
De fato minha meta foi atingida. Acordei um bom tempo depois.
Uma música tocava de fundo, provavelmente o jogo das cores tinha começado. Ziggy mexia algo em um balde de metal.
-Bom dia, dorminhoca!- ela brincou e eu sorri de lado, espreguiçando. Me levantei e senti uma pontada em minha cabeça. Gemi de dor e a menina me encarou, com as sobrancelhas juntas-Tudo bem?
-Sim.- esfreguei as têmporas e sai da cama, sentindo mais uma forte pontada- Acho que vou invadir a enfermaria e roubar um Paracetamol, quer vir junto?
-Tô meio ocupada- ela apontou para um balde, que continha uma mistura espessa, parecida com sangue. Dei um sorriso malicioso, sabendo o que a garota planejava
-Parece que nós pensamos igual!- abaixei e beijei a ruiva- Já volto.
Ela sorriu e voltou a misturar a tinta. Sai do chalé e vi que escurecia. Os campistas estavam todos amontoados, pintando a cara e provocando uns aos outros.
Procurei ali no meio Tommy, para me certificar de que ele não me pegaria roubando remédios. Localizei o mesmo, que conversava com Cindy.
Continuei meu caminho, agora mais tranquila. Cheguei na frente da enfermaria e resolvi dar a volta.
Me aproximei da janela que dava para o escritório da Enfermeira. Para a minha sorte, estava destrancada. Abri a mesma e pulei.
Analisei o ambiente e meu olhar desceu para a mesa. Suspirei ao ver o diário, ali, aberto na mesma posição que eu havia deixado algumas horas antes.
Naquele momento todos os pensamentos voltaram a inundar minha mente.
Senti outra pontada e gemi, colocando a mão na testa. Balancei a cabeça e voltei a focar em meu objetivo.
Minha mão estava na maçaneta, pronta para abrir a porta, quando escutei barulho de chaves.
-Porra...- murmurei e corri para baixo da mesa. Escutei uma conversa, e na hora reconheci as vozes. Eram Tommy e Cindy. Me encolhi mais, sabendo do sermão que levaria.
Escutei os passos e as vozes se aproximando. A porta do escritório foi aberta e os dois entraram.
-Qual é, Cindy.- o menino falou, descontente- Vamos voltar.
-Não, Tommy.- ela respondeu- Deve ter uma razão para Mary surtar daquela maneira, e eu vou descobrir.
Escutei os papéis da mesa serem revirados. Lembrei do diário, e rezei para que Cindy não o encontrasse.
Então, para o meu desespero, o bendito caiu da mesa, bem na minha frente. Mordi os lábios, pensando no quanto eu ia me fuder.
Vi as pernas branquelas de Cindy andarem até o diário. Ela se abaixou e pegou o livro. Por um momento achei que ela não me veria, mas a alegria de gay dura pouco. Seus olhos se viraram lentamente para mim e a mesma soltou um grito de susto.
-Que merda, Lisa!- ela colocou a mão sobre o peito e eu sai de baixo da mesa. Tommy me olhou com estranheza- O que você tá fazendo aqui?
-O que vocês estão fazendo aqui?- tentei me esquivar, porém isso foi em vão
-Nós somos monitores, podemos entrar aqui a hora que quisermos!- ela falou, de forma arrogante, se gabando pelo posto superior. Revirei os olhos- Responde, o que você tá fazendo aqui?
-Eu tô com uma dor de cabeça do caralho, então resolvi pegar um remédio.
-Você deveria ter pedido para nós- escutei Tommy finalmente falar. Me virei e o encarei. Seus olhos estavam vagos, quase sem vida. Ele parecia mais pálido e até meio cadavérico a luz fraca da sala.
-Por favor, não me dêem uma advertência.- implorei, de forma irônica. A morena revirou os olhos e jogou o diário na mesa. Ela abriu as gavetas e começou a mexer nelas, procurando algo
-Não contaremos nada, mas só porque você tinha um motivo plausível.- ela suspirou, ainda concentrada nas gavetas. Ela pegou alguma coisa. Um frasco de remédio, sem nenhum rótulo. Ela o analisou com um sorriso vitorioso.- Sem rótulo, metade vazio. Eu disse que ela tomava remédios.
-Do que você está falando?- a questionei, observando o frasco em sua mão, tentando ler o que era.
-Ela poderia estar drogada, por isso surtou e atacou Tommy!- ela falou aquilo animada, como se fosse uma criança que acabará de ganhar um filhote. Sua expressão mudou quando olhou para Tommy- O que é isso?- me virei e vi o diário nas mãos do mais velho. Meu peito apertou, e eu me lembrei das palavras de Mary. Novamente senti uma pontada, e cambaleei para trás. Cindy me encarou, preocupada.
-Tudo bem, só a dor de cabeça.
-"Foi feito um pacto com o diabo.- ele leu e Cindy juntou as sobrancelhas- Sarah Fier cortou sua mão maldita na pedra do demônio, em troca da vida eterna- senti falta de ar por uns segundos, como se todo o oxigênio da sala tivesse desaparecido e nós três vagassemos pelo espaço. Cindy fez uma careta, provavelmente achando aquilo uma idiotice, assim como tudo que fugisse do comum para ela- deixando a marca da bruxa no solo e trazendo as trevas"- ele levantou o olhar para nós duas. Escutamos um barulho. Dei um pulo, saindo do transe que me encontrava e olhei para fora
-Escutaram isso?- a garota perguntou. Tommy nos olhou e saiu da sala. Eu e Cindy o seguimos
-Oi?- ele chamou, entrando na sala das macas- Tem alguém aí?- ficamos do lado de fora, observando o menino. Escutamos um grito e vimos Alice saindo do escuro- Nossa!- ele exclamou com a mão no peito, enquanto a menina ria- Não tem graça.
Arnie, o namorado da menina, saiu de um canto e eu dei outro pulo. Ele riu e piscou para mim. Eu, Cindy e ele entramos na sala
-Alice? O que você tá fazendo aqui?- a morena perguntou, irritada
-Parece que estamos aqui pelo mesmo motivo- ela apontou para a mão de Cindy, que segurava o frasco de remédios. Ela voltou o olhar para mim e sorriu- Lisa Miller! Eu ouvi falar que tentaram te queimar hoje, maneiro.- mostrei o dedo do meio para ela, que riu e voltou a provocar Cindy- Você quer mesmo que eu esfregue o banheiro
-Não é para você.- Cindy respondeu, guardando o frasco em sua bolsa, meio nervosa
-Berman, eu não sabia que você curtia essas coisas.- Arnie falou, com aquela cara de boboca que ele tinha.
-Não são para mim. Eu vou entregar para a polícia.- o nervoso da mesma parecia aumentar cada vez mais. Eu sabia que ela odiava Alice, mas não que era tanto
-Para a polícia.- Alice assentiu com a cabeça-Certo. É claro. Do que você está falando?- ela se exaltou- Você também vai dedurar a Mary?
-Não,- ela gaguejou, parecendo mexida com o assunto- é que... Estou tentando...- a menina foi interrompida por Arnie, que avançou em Tommy e pegou o diário da Enfermeira Lane da mão do menino.
-Isso também vai para a polícia?- ele debochou.
-Devolve isso!- Tommy esbravejou e avançou no garoto, tentando pegar de volta, mas o menino jogou para Alice, que, assim como ele, ria da situação.
Eu recuei tentando não ser atingida pelo diário
-"Ela surgiu na Casa de Reuniões- a loira começou a ler enquanto ria. Minha cabeça pulsava. Eu sentia uma coisa horrível, como um pressentimento de que tudo daria errado assim que ela terminasse de ler as páginas- com uma mão decepada, perdida para sempre.- Tommy se sentou na maca, esfregando a nuca, eu reparei que ele parecia cada vez mais fora de órbita, como se não estivesse totalmente ali- Enforcamos a bruxa, a acorrentamos e a enterramos, mas sem a mão, seu poder segue firme."- ela lia isso enquanto encarava Cindy. Eu apenas encarava o chão, com a dor de cabeça piorando cada vez mais- Uhhh!- ela virou o diário para nós, que mostrava uma ilustração de uma mulher enforcada- Isso é coisa de Sarah Fier.
-Alice, qual é!- Cindy tentou pegar o diário de suas mãos, o que também foi em vão, já que a menina a driblou e parou ao lado do namorado
-"Quando ela está perto, sangue será derramado,- ela continuou a ler- e a maldição durará até que a mão e o corpo se unam."
-É o diário da Mary.- me coloquei a frente da garota- Vamo colocar de volta.- mas ela me ignorou e continuou a folheá-lo
-Não é só um diário- ela fez uma pausa dramática e o virou, mostrando um mapa que eu conhecia muito bem- É um mapa.
-O quê?- perguntei, confusa
-A doida da Enfermeira Lane fez um mapa maluco.- a loira andou até as macas e se ajoelhou na frente de uma, apoiando o diário. Eu me aproximei, meio relutante, e me ajoelhei na frente da garota- É do acampamento, mas parece que ela desenhou por cima.- ela apontou para um escrito grande, em vermelho que estava na parte de cima do mapa-1666, Union.
-Union, é Shadyside.- Falei e encarei a menina a minha frente.
-O quê?- ela questionou.
-Era o loteamento antes de ser dividido entre Shadyside e Sunnyvale.- Cindy respondeu por mim e se ajoelhou ao meu lado
-Sério?- Alice perguntou de novo.
-Se você fosse para a escola...- Cindy provocou.
-Então o acampamento foi construído no mesmo lugar que o loteamento.?- Tommy entrou na conversa, interrompendo a possível briga que começaria pelo comentário da morena.
-Vejam só!- Arnie apontou para o canto do mapa- Sarah Fier!
-Será que é a casa dela?- perguntei, me debruçando para analisar mais de perto
-Quem são todos esses xis?- Alice também questionou. Nós quatro nos olhamos, porém ninguém soube responder. Alice então abriu um sorriso e encarou o namorado- Só tem um jeito de descobrir- ela puxou o diário e a bolsa de Cindy e se levantou, saindo da sala
-Ei! A minha bolsa!- Cindy se levantou e eu também.
-Arnie. Lanterna.- o garoto puxou uma lanterna que estava em cima de uma cômoda e os dois andaram até a porta da enfermaria.
Eu olhei para Tommy, confusa, vendo o que o garoto iria fazer, porém ele estava distante.
-Vamos atrás deles!- Cindy pegou uma lanterna e nós saímos atrás dos dois- Alice! Traz isso de volta!- ela esbravejou abrindo a porta- O que está fazendo?- nós duas paramos e encaramos os dois
-Se chama diversão, Cindy Berman. Você sabia o que era, lembra?- ela deu um leve empurrão em Arnie e os dois saíram correndo- Nós vamos te encontrar, Sarah Fier!- eu ia seguir eles, mas vi que Tommy estava parado, encarando o nada
-Tommy!- Cindy gritou, mas ele continuou em transe- Tommy!- nada- Tommy!- ele finalmente a olhou- Vamos, eles levaram tudo!- ele colocou o casaco e nós três seguimos os outros dois.


Carry On Wayward Son•ᶠᵉᵃʳ ˢᵗʳᵉᵉᵗ Where stories live. Discover now