Declínio no Horizonte

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- Hoje entendo a aversão que o antigo Soberano sentia por mim, não toleraria uma criança que te tirasse de mim. Você é minha, proibido - te de morrer, de me deixar, de me esquecer.... Proíbo - te de qualquer coisa que te afastes de mim! - Suas palavras soavam insanas ao meu ouvido, quem poderia controlar o destino dessa forma a fim de resguardar a vida de quem quer que seja. Nem mesmo o mais poderoso dos Soberanos tinha o poder absoluto da vida e da morte.

A soberba do demônio Assírio era algo quase imensurável.

- És minha até meu último suspiro, até seu último alento, a protegerei com minha vida, até de você mesmo.

- Isso deverias ser uma decisão minha, meu senhor. - Falei exasperada.

- É o meu corpo, minha vida, seria o meu filho caso existisse, logo a minha escolha. - Falei virando - me para a vista do crepúsculo no horizonte de Assur e empurrando minhas mãos com força na mureta que ficava ao redor do terraço.

A dor da superfície áspera sob minhas mãos foi bem vinda, fazendo - me consciente do quanto esse homem ou demônio estava obcecado por mim, ao ponto de matar o próprio filho para não correr o risco de perder seu valioso brinquedo.- Senti seus braços fortes, grandes me rodearem.

- Não precisamos nos preocupar com isso, então não precisas ficar aborrecida. - Não respondi ou me virei o medo de denunciar o meu estado assolando meu ser.

- Não precisamos nos preocupar, não é Kassandra? Responda - me! - A urgência da sua voz grave, assemelhava-se ao som de um trovão cortando o céu e me fez estremecer de pânico.

- Não, senhor. Não temos com o que nos preocupar no momento. - Falei o mais firme que consegui, fraca. Me sentia uma tola por quere - lo, por querer um demônio que seria capaz de tirar o próprio filho de minhas entranhas por motivos egoístas. Eu era patética.

- Pois muito bem, feiticeira. Se em algum momento, um acaso do destino acontecer, falarias para mim, mesmo com a minha posição? Sérias leal a mim, Kassandra, acima de tudo é todos? - Devoção cega ele pediu e me oferecia escuridão. O Imperador estava jogando comigo, eu sentia, sabia que estava desconfiado, eu não revelaria nada, ainda mais agora com tudo que ele havia me dito.

- Se em algum momento acontecer algo que vá contra as ordens do meu Soberano, eu serei leal. - Serei leal a minha criança e a mim. - Completei em pensamento.

- Isso é tudo que eu almejo de você, doce Kassandra. Sua total lealdade e submissão, não me questiones, não me enfrentes, sejas meu oásis. Te farei ansiar por mim, te farei feliz, eu sei que posso. - E ele poderia mesmo se quisesse, mas o orgulho e as certezas arraigadas dentro do seu ser impediam isso de acontecer.

- A tomarei... A reivindicarei... Eu respiro você, cigana, me enfeitiçastes... - Mardok rasgou o belo vestido que eu usava em um arroubo de violência deixando - me com os retalhos ao redor do meu corpo, meu dorso sendo banhado pelas nuances nebulosas do ocaso - o declínio do astro no poente, tão decadente quanto minha necessidade desse homem atroz.

As mãos grossas explorando meu corpo, me ansiando e eu o ansiava na mesma medida, vergonhosamente rendida, irremediavelmente apaixonada. Oh, desventurada sou eu, por sentir amor por um demônio que se diverte em meio ao sangue, a morte e a dor.

Um homem obcecado pela luxúria que tens de mim, que se alimenta da minha inocência. Apaixonei - me por um homem possuído por uma escuridão sem fim.

Ou apenas apaixonei - me pelo que imagino que ele sejas, o que ele possa vir a ser?

Como te amarei se me colocas a um oceano de distância mesmo estando ao seu lado, meu soberano?

Da guerra ao AmorWhere stories live. Discover now