Conto 5 - Até Que A Vida Nos Separa

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Mesmo que o meu corpo deixe de existir, a minha alma continuará apaixonada por ti. Amar-te-ei mesmo depois da minha morte.

Saeran/Ray


Sob o céu azul, o sol brilhava intensamente, irradiando os seus raios e aquecendo a terra e todos que sobre ela andavam. As pessoas passeavam de forma alegre pelas ruas, agradecidas pelo calor que lhes aquecia, permitindo assim que o dia fosse aproveitado.

Ao passar por aquelas pessoas supostamente felizes, num parque próximo onde crianças brincavam alegremente sob o olhar atento dos pais. Cães corriam alegres com a liberdade de estarem sem as trelas.

Apesar do dia bonito e da felicidade estampada no rosto de quem aí estava, uma garota solitária, sentada num banco no parque, com o olhar perdido no céu azul.

Os seus olhos, marejados pelas lágrimas que caíam incessantemente pelo seu delicado rosto, estavam vermelhos pelo choro contínuo.

As pessoas que passavam por ela viam as lágrimas no seu rosto mas fingiam não as ver e continuavam a caminhar, preferindo a ignorância acerca do motivo que fazia a jovem mulher chorar. Todos a ignoravam, menos um rapaz de cabelo descolorido, que persistia em observá-la de longe. O jovem rapaz aproximou-se cautelosamente e sentou-se ao seu lado. Ele estendeu a sua mão lhe oferecendo um lenço de papel. Mas ela não se moveu e ignorou o gesto do rapaz, desejou no seu íntimo que ele fosse embora e a ignorasse como as restantes pessoas tinham feito.

- O que faz uma garota tão bela a chorar num dia tão bonito? - Ele levantou-se e ficou de pé a sua frente de olhos fixos nos dela. - Não devia sorrir como essas pessoas que estão no parque?

A menina não respondeu, em vez disso ela baixou a sua cabeça e quebrou o contacto dos seus olhos com os dele e fixou o seu olhar nas suas mãos húmidas pelas lágrimas que tinha acabado de limpar. O rapaz voltou a estender a sua mão com o lenço de papel na sua direção. A garota recusou e empurrou-o com uma estalada da sua mão na dele. Ela pensou com os seus botões que se continuasse a ignorar e recusar a gentileza do rapaz, talvez ele desistisse e a deixasse em paz na sua triste solidão. Com a sua dor.

Mas, o que ela não sabia era que o rapaz conseguiu ver além dela, viu a solidão e a tristeza que emanava para além daquelas lágrimas. Ninguém melhor do que ele podia entender a dor dentro do seu coração. As suas almas eram similares e estavam conectadas por algo em comum. A dor de ser maltratados e abandonados pelas pessoas que mais amavam.

Talvez por isso que, sem aperceber os pés do jovem, caminhou até à garota. Ele conseguia ver a sua própria dor espelhada no rosto da jovem mulher à sua frente. E, apesar de não gostar de estranhos, algo nela o intrigou ao ponto de se sentir atraído justamente no momento em que ela estaria mais frágil. A sua fragilidade o atraía como um íman que atrai o ferro. Apercebeu-se naquele momento que queria aquela garota para si. Nada como alguém com a alma quebrada para ajudar outro a juntar os seus próprios cacos.

O rapaz sentou-se ao seu lado em silêncio e esperou que ela se sentisse preparada para o deixar juntar, com ela, os cacos da sua alma fragmentada.

Mas a garota só queria estar sozinha naquele momento. A presença daquele estranho estava a incomodar. Com os olhos cheios de lágrimas ela empurrou o rapaz para longe dela e gritou;

- Deixa-me sozinha. Deixa-me com a minha dor. - os punhos dela iam contra o peito dele vezes sem conta mas ele não se mexia - Não quero a sua pena. Faça como essas pessoas ignorantes, que passaram por mim. Vai embora e ignora-me.

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