34 [sau•da•de]

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"Parece mesmo revigorante." Zombo, mas ela não liga.

Me distraio por uns instantes com minha sobremesa, apreciando a vista do parque. Apesar de ser nossa primeira saída juntas em muito tempo, Celeste e eu não temos a necessidade de preencher todos os silêncios com conversas sem significado. Nós apreciamos o silêncio uma da outra, algo que eu adoro. Por outro lado, quando paramos para conversar, o fazemos até a garganta doer. É incrível. Me faz até esquecer nossa diferença de idade.

Enquanto me perco em devaneios, avisto um casal idoso caminhando de mãos dadas. Por conta do sol, o homem está segurando uma sombrinha sobre suas cabeças e eles trocam palavras tranquilas. Em um dado momento, ele diz algo que a faz rir alto. A mulher olha para ele e abre o mais genuíno e apaixonado sorriso. Eles selam o momento com um breve beijo terno e continuam caminhando. Meus ombros caem e eu suspiro, enfiando uma colherada de raspadinha com gosto de morango artificial e extremamente doce na boca.

"Você tem feito muito isso ultimamente." Celeste pontua de repente.

"O que?" Olho para ela.

"Isso." Ela então suspira de forma dramática e faz um olhar perdido. "Tem feito isso demais."

Forma-se uma carranca no meu rosto. "Essa deveria ser uma imitação minha?" Ela acena que sim. "Eu não faço essa cara de cachorro que caiu da mudança. Do que está falando?"

"Ora, Charlie, não precisa se resguardar. Eu sei o que você tem." Diz antes de encher a boca de gelo esverdeado.

"Sabe?" Indago intrigada.

"Sim."

Cruzo meus braços. "E do que se trata?"

"Amor, é claro." Declara com se fosse óbvio e se eu estivesse com a boca cheia, teria engasgado.

"Como é?!" Me alarmo, meu corpo ficando todo tenso.

A garota de doze anos me encara seriamente e continua, "Você está apaixonada, mas está sofrendo pela falta do seu amor. Dos dez minutos que ficamos sentadas aqui, você suspirou sete vezes e meneou a cabeça de um lado para o outro como se seus pensamentos fossem pesados demais para o seu pescoço. Está pensando nele."

"O que?! Não. O que?" Desvio meu rosto, corando até ficar da cor da calda da minha sobremesa.

"Está pensando nele nesse exato momento. Céus, Charlotte! Você está apaixonada mesmo." Maravilha-se, largando completamente a raspadinha no canto vazio do banco para focar toda a sua atenção na minha cara envergonhada. "Vamos, me conte tudo. Onde se conheceram? Por quanto tempo ficaram juntos? Quantos beijos compartilharam? Eu quero todos detalhes."

"Pare com isso." Exijo muito fracamente, meus olhos colados na calda vermelha que já não está mais me satisfazendo. "Você não sabe do que está falando. E mesmo que soubesse, eu não quero falar sobre isso."

Quando nos reconectamos alguns meses atrás, eu a atualizei sobre algumas coisas que estavam acontecendo na minha vida. Deixei escapar que estava saindo com alguém, mas nunca dei muitos detalhes, pois não seria certo. Ela é muito nova de qualquer modo. Deixei escapar também que gostava muito do tempo que passava com esse certo alguém e o lado romântico incurável dela agiu imediatamente. Depois que tudo deu errado entre ele e eu, eu parei de falar sobre isso e Celeste percebeu, mas eu não havia dito o motivo.

Acredito que ela estava se segurando esse tempo todo para tocar nesse assunto de novo. Ela é assim, uma amante tanto de histórias quanto do amor em si.

"Mas você estava radiante à um tempo atrás e agora, suspira tanto que me preocupo que esteja ficando sem ar." Ela insiste.

"Não exagere." Repreendo, não gostando de como ela está me descrevendo.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now