32 [re•ca•í•da] (!)

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Vendo a forma como minha amiga me olha nesse exato momento, após testemunhar a saída de Harry do bar e ouvir da minha boca o que aconteceu entre nós, me recordo exatamente daquele dia dos cookies e sei que seu único acesso de raiva em nosso histórico de amizade irá ser superado.

Em outra palavras, lá vem a bronca.

"Charlotte Fitzgerald, o que eu faço com você?!" Ela exclama, sua voz irritada ecoando no salão do bar. "Já não basta ter sido rude ao partir o coração dele, você realmente tinha que esfregar na cara do coitado que não está ligando a mínima para os sentimentos dele? Como se já não fosse claro o suficiente, você realmente tinha que aparecer em público com o seu novo boy-toy?"

"Ele não é o meu boy-toy-" Eu tento corrigí-la, mas é em vão.

"Não interessa. O Harry viu vocês e agora deve estar ainda mais arrasado do que antes. A carinha dele quando saiu daqui..." Ela choraminga ao recordar do rápido encontro que teve com o nosso músico no momento que estava chegando e ele saindo. "E que merda aquele cara estava fazendo usando a camiseta do Harry?" Sua voz fica severa novamente, seus olhos me fuzilando em crítica dura.

Eu suspiro antes de responder, "Existe uma explicação. Não foi de propósito. Na verdade, não era pra ter acontecido. Foi acidental."

"Como? Ele escorregou e boom! Caiu dentro da camiseta? Me poupe, Charlotte!" Cruza os braços, me fazendo sentir como uma criança malcriada.

"Não foi assim." Exclamo de volta.

"Então como foi?" Ela questiona, exigindo a verdade.

Fazem três semanas que Harry e eu não temos mais o acordo de sexo casual, assim como fazem três semanas que eu tenho sido obrigada a lidar com os olhares de esguelha intensos que ele me dá, achando que eu não estou percebendo.

Eu sei que ele não está feliz com o rompimento do acordo e eu estou tentando agir da forma mais profissional possível, dando à ele espaço, ao mesmo tempo que deixo claro nas entrelinhas que seremos apenas colegas de trabalho a partir de agora - como deveríamos ter sido desde o dia que ele pisou aqui para a entrevista de emprego como músico.

Cogitei demiti-lo, mas seria canalha e insensível da minha parte. Ele precisa do trabalho e se por si só não demonstrou que queria sair, deixei estar.

Entretanto, apesar da minha convicção eu estava enlouquecendo com a constante presença dele, sempre carregada de sentimentalismo disfarçado de polidez. Harry é um recorrente lembrete de tudo o que fizemos, tudo que eu não gostaria de ter colocado um ponto final, mas que o fiz independentemente pois era preciso.

À duas semanas atrás, eu conheci esse cara boa pinta através de um acidente cotidiano. Ele estava tentando entrar no meu prédio com várias sacolas de mercado nos braços e por conta de sua insistência mal calculada, as sacolas rasgaram e suas compras se espalharam no chão. Eu o ajudei e no processo, descobri que ele estava lá apenas para entregar as compras do mercado de sua irmã mais nova, que tinha se mudado recentemente para um dos apartamentos livres.

Ele ficou interessado por mim no mesmo dia e eu digo isso com certeza, pois ele está sempre fazendo questão de deixar bem explícito o quanto tem uma quedinha por mim. Ele apareceu no bar uma vez, mas como eu não lhe dei muita conversa, Harry não deve ter notado a presença dele aqui anterior a esse episódio de hoje.

Ele é um gato, divertido e não cansa de me paparicar na esperança de conseguir algo de mim. Porém, apesar dessas qualidades discutíveis, eu confesso que apenas me aproveito de seu crush em mim para ter alguém para me distrair.

Sim, seria uma coisa terrível de se confessar, algo cruel de se fazer com alguém, mas ele não é inocente. Ele sabe que eu não estou interessada. Nós nunca fomos pra cama juntos e eu não pretendo mudar isso, mesmo que eu retribua alguns de seus flertes. É tudo pela diversão e ele sabe disso. Portanto, não é como se eu o estivesse usando de forma vil, afinal de contas ele também tem intenções mesquinhas por trás de toda a sua gentileza.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now