I'll be cleaning up bottles with you on New Year's Day

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Karen colocava a roupa branca escolhida alguns dias atrás. Enfim, tinha chegado a data que temia e esperava há algum tempo. O Ano Novo. A tanto tempo aguardava que o ano de 2021 acabasse, com aquela boba esperança de que a vida iria mudar de um dia para o outro magicamente, eliminando todas as memórias ruins e dores. Mas também temia a data, mais especificamente, temia a festa que vinha junto com a virada da noite. Ainda mais precisamente, as pessoas que não conhecia, a aglomeração, a bebedeira e o que tudo aquilo a faria sentir. Só com o pensar já sentia o sentimento familiar crescendo no peito. Muitas pessoas podem falar que a pandemia deixou-lhe uma marca profunda, Karen também podia. A epidemia lhe trouxe, além de muito medo, ansiedade, crises de pânico, um transtorno mental e ansiedade social. Tudo de forma tão excessiva que afogou Karen por meses e ainda a deixa sem ar. Assim, o pensamento de uma festa, pessoas tirando a máscara, aglomerando e tocando em tudo, lhe dava um pânico absurdo. Tudo bem que não seriam tantas pessoas assim, a pandemia estava acalmando e todos estavam vacinados, mas mesmo assim todo cuidado é pouco. Sua garganta começava a fechar sobre a antecipação do momento.

Neste segundo, Mia entrava no quarto envolvida em seu roupão e com cheiro de banho recém tomado. Karen tentou esconder, mas a namorada viu suas mãos trêmulas e seus olhos lacrimejando. Não era a primeira vez que acontecia, não mesmo. Mia sabia a causa daquelas ações e assim, sussurrava palavras reconfortantes enquanto envolvia Karen em um abraço. O choro era sempre inevitável, o aperto no coração de Mia também era. Ver a namorada naquele estado era como uma morte por mil cortes. Ela sabia o quão era difícil, não na pele mas, via a luta da namorada a cada dia contra todos esses sentimentos e angústias. Era a primeira vez que iriam a uma festa, no Natal passaram novamente em casa. Mas Karen sabia o quão importante era para Mia esse Ano Novo, sua irmã estava de férias da faculdade e tinha voltado para a cidade natal. Faria uma festa para amigos em seu antigo apartamento. Sua irmã era sua única conexão familiar viva, os pais tinham falecido há anos em um acidente de carro. E como não tinham tios, a irmã, que já era maior de idade, criou Mia com determinação e amor. Sempre seu maior suporte, como dizia a própria Mia. Karen não queria estragar aquilo, então tinha se comprometido a ir. Porque sabia, também, que Mia relutaria em ir se ela não fosse. Sua determinação de fazer a amada feliz não diminuía a dificuldade, mas depois de tudo que Mia fez por ela, tinha que o fazer. A namorada nunca saiu de seu lado, sempre tentou entender suas angústias e medos e tentava diariamente ajudar em diminuí-los. Era sua salvadora. Realmente não sabia o quão fundo no poço estaria sem ela. Com esse pensamento de "Tenho que fazer isso" e os braços acolhedores de Mia, conseguiu se acalmar aos poucos. Mais uma vez foi perguntada se realmente queria fazer aquilo, ela confirmou mais uma vez. Além de fazer por Mia, tinha que fazer por ela mesma. Tentar vencer seus medos e arriscar um pouco, como dizia sua psicóloga. O pensamento de arriscar não melhorou o sentimento em seu peito.

[...]

Na parte de trás do táxi, sentiu Mia apertar carinhosamente sua mão três vezes. Estavam indo, "Ainda dá tempo de fugir" ouviu o grito da parte mais sombria e medrosa de sua mente. Não. Não iria fugir, por mais que se perguntasse se se arrependerá dessa decisão depois. "Você vai", a parte sombria de novo. Tentou afastar o pensamento, por mais que fosse tão difícil. Tentou focar no brilho nos olhos de Mia e em como ela estava bonita. Usava uma calça branca e um top verde brilhante. É a cor da esperança, sorte e calma, disse quando vestiu a roupa. Karen só estava de branco. Não conseguia ter esperanças mais ou tentar acreditar no simbolismo de cada cor. Ano passado, na mesma data, ficou parecendo que ia para o carnaval de tantas cores que usava. E seu estado apenas piorou no ano que veio. Então, agora, Karen mantém suas expectativas neutras e até um pouco negativas. É melhor se surpreender com o bom do que esperar o bom e ganhar o ruim, aquele era seu novo lema. Não aguentava mais se decepcionar. Sabia que seria um longo caminho até conquistar seu bem estar. Também sabia que Mia estaria lá quando brindassem as vitórias e quando ela voltasse triste para seus braços, como a própria tinha prometido. Lembrava de quando tinham recebido o convite da irmã de Mia, Karen começou a entrar em pânico e relembrar as outras tentativas falhas de ficar em lugares públicos e socializar. A namorada respondeu carinhosamente: "Não leia a última página da história. Mas eu fico nela com você, quando estiver afundada, quando for difícil ou quando nós duas estivermos cometendo erros. Nesses momentos nós duas vamos se apegar às boas memórias. Lembra? Se apegue as memórias, elas vão se apegar a você. Eu quero suas meia-noites, mas prometo que eu estarei limpando garrafas com você no Ano Novo"

Se apegue às memórias, elas vão se apegar a você.
Se apegue às memórias, elas vão se apegar a você.
Se apegue às memórias, elas vão se apegar a você.

[...]

Era agora ou... bem, agora. Estavam finalmente em frente ao apartamento da irmã de Mia. O brilho nos olhos da namorada mais forte do que nunca. A ansiedade em seu peito mais forte do que nunca. De repente, tudo parece estar em borrões para Karen. A campainha, o abraço eufórico de Mia e da irmã, o abraço que a irmã de Mia dá em Karen, os comprimentos a todos, a procura de um lugar para pôr as coisas e sentar. É aquele sentimento, aquela sensação. Ela não consegue acompanhar, não pertence aquele lugar, não consegue acompanhar, não pertence... tudo acontece e parecia que Karen não via e ouvia acontecer, parecia que seu cérebro estava muito lento para acompanhar ou coisa assim... talvez seu cérebro estivesse correndo muito rápido pelo pânico para acompanhar o agora. Quando se sentou, tudo que parecia não ver e ouvir de repente estoura. O pânico sobe descontrolado por seu peito. Tem gente sem máscara... tem gente sem máscara! Se abraçando e sem máscara! Calma, Karen, você não pode mudar as pessoas. Você está distante deles e de máscara, está protegida. Mas e se...? E se...? E se...? E se...? E se...? E se... E... Karen teve que correr para o banheiro, sentia que ia surtar ali mesmo. O nó tão forte na garganta por segurar o choro. Por que tinha que ser assim? Por que ela tinha que ser assim? Quando trancou a porta, permitiu as lágrimas rolarem por seu rosto. Nesses momentos ela odiava sua mente. Até odiava a si mesma. Repetiu milhares de vezes para si mesma: Se apague as memórias, elas vão se apegar a você. Ouviu uma batida na porta e depois a voz suave de Mia chamando seu nome. Destrancou lentamente, prendendo o choro. Assim que a namorada entrou, deixou outra vez as lágrimas caírem, só que dessa vez molhavam o top verde da amada. Mas ela não parecia se incomodar.

[...]

Tinha glitter e polaroids diversas no chão depois da festa. Garotas barulhentas e bêbadas carregando seus sapatos pelo corredor. Todos da festa iam para uma after, bem, menos ela e Mia.

"Parece que vou mesmo limpar garrafas com você no Ano Novo" disse Mia rindo, fazendo ela rir levemente. Ela nunca descumpre promessas, Karen devia saber. Seu peito se encheu de amor por Mia, como era grata por ter aquele ser humano e por ela ser tudo que já sonhou.

"Promete que nunca vai se tornar uma estranha que a risada eu posso reconhecer em qualquer lugar?" subitamente, Karen perguntou.

"Prometo. Você e eu pra sempre"

Era em memórias como essa que se apegaria nos momentos difíceis deste ano. Além das memórias, se apegaria a Mia.

(N/A: Hey darlings!!!

FELIZ ANO NOVO!

Não. Não é uma miragem. Sou eu mesmo :)

Tive ideia para essa fic no banho kkkk e escrevi tudo hoje, meio apressada mas ok k

Minha primeira fic com OC's! Tô muito feliz!

Bom, sinto que eu tenho que esclarecer algumas coisas para vcs. Eu fiquei séculos sem postar. As razões são saúde mental e bloqueio criativo. Sendo sincera, minha saúde mental tava horrível. Eu tava no fundo do poço, de verdade. Agora estou um pouco melhor, mas ainda tenho que me esforçar pra melhorar. Mas tá ficando tudo bem, eu tenho ajuda. Psiquiatra, terapia e a minha família que tem sido meu maior suporte. Minha família é tipo a minha Mia pra Karen ksks. Bom, de certa forma, obviamente, a minha saúde mental estava atrapalhando minha escrita e meu processo criativo como estava atrapalhando minha vida inteira. E ainda o faz. Mas, como eu acho que vcs podem ter percebido, talvez o fato dessa fic ser sobre o assunto e ser tão pessoal pode ter colaborado no processo de escrita. É aquilo, é sempre mais fácil quando vc escreve sobre o que conhece. Sim, eu espelhei toda a minha falta de saúde mental, sintomas, angústias, sentimentos, sensações e etc, na Karen. Basicamente, tudo o que eu sinto tá na fic. Pensei algumas vezes em não postar essa fic, por ser justamente muito pessoal pra mim, mas esse é o meu jeito de me expressar e contar a vcs o que esteve acontecendo comigo.

E por favor, peçam ajuda! Sei que da medo, já passei por isso. Mas procure ajuda se vc precisa, peça ajuda a quem vc confia. Melhora depois, acredite.
Sou toda ouvidos se quiserem falar comigo, ok?

Espero que vcs tenham gostado!

Também espero que o 2022 de vcs e de quem vcs amam seja incrível. Vai ter momentos difíceis, porque é a vida né. Mas lembrem-se: Se apegue às memórias, elas vão se apegar a você.

Feliz Ano Novo!!!

Bjss <3

Tchauuu)

New Year's DayWhere stories live. Discover now