🩸 Prólogo

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Russell

Cerca de 2 anos antes

— Ouviu isso? Parecem passos. Tem alguma coisa errada! — Scott avisa baixo, pegando sua arma e apontando para a minha calça no intuito que faça o mesmo.

Sou um péssimo atirador, mas ele insistiu que deveríamos ficar protegidos em caso de imprevistos. Obedeço e direciono o objeto para a frente, observando todos os lados. Ando devagar para a beirada da popa a fim de não escorregar. Uma chuva torrencial resolveu cair justo agora.

Viemos para os fundos do navio ver se Patterson já está chegando pelo local que combinamos. Daqui a pouco o cargueiro vai zarpar e ele ainda não apareceu. Espero que não tenha feito nenhuma idiotice e colocado todos os nossos anos de amizade em risco.

O plano de fuga do Scott é perfeito. Chicago é o porto de passagem entre os principais complexos de navegação e transporte dos Estados Unidos. A leste ficam os lagos, canais e rios que servem de caminho até Nova Iorque e o oceano Atlântico. Daqui vamos direto para a Itália e ficaremos a salvo até a poeira baixar.

— Se aquele filho da puta do Patterson nos traiu, é um homem morto. — John tira seu celular do paletó e digita uma mensagem rápida para alguém. Estou tão ansioso que nem questiono, meu olhar está atento a cada canto. — É melhor a gente entrar logo dentro do container, a Madelyn deve...

Ele não consegue terminar a frase porque vários homens vestidos de preto e com o colete do FBI aparecem onde estamos, exigindo que a gente se entregue. Sem hesitar, John começa a disparar contra o grupo.

Meu coração acelera com a adrenalina e copio seus gestos, escondendo-me como dá atrás de um container próximo a nós. O barulho dos tiros e da chuva forte ecoam pelo meu ouvido como um zunido, no entanto, não me permito entrar em desespero.

Respiro fundo e tento raciocinar, atirando sem alvo certo enquanto dou uma olhada ao meu redor. A munição não vai demorar muito, preciso pensar rápido.

Vamos, Russell, você não nadou tanto para morrer agora.

— Se rendam, vocês não têm saída! — Schumer ordena, aproximando-se cada vez mais de onde estamos. — Já temos a Madelyn conosco.

Vejo de relance o seu cabelo comprido, escorrido pela água, e os braços estendidos gritando para o irmão se entregar. O problema é que Scott parece não a enxergar de imediato e continua disparando, cego pela raiva de ser emboscado.

O barulho da bala no seu peito me faz arregalar os olhos e dar mais alguns passos para trás. Scott urra em desespero assim que percebe o que fez e sai correndo afoito na direção do corpo caído.

Meu tempo está no limite, em instantes seremos todos presos. Observo o mar logo à frente e avisto outros navios já seguindo viagem. E se eu pular? Não está seguro para lanchas navegarem, logo, o FBI não irá atrás de mim de imediato. As águas turvas e a escuridão noturna serão aliadas.

Com certeza, estes navios próximos serão revistados em breve e há reforço policial em todo entorno do porto. Sair da água aqui perto não é uma opção. Olho mais uma vez rapidamente para frente, enquanto Scott grita em cima do corpo inerte da irmã e Schumer o prende.

Mesmo que estejam em grande número, os policiais não terão gente suficiente para cercar todo perímetro do Lago Michigan, pois estamos falando de milhas de distância. Se eu conseguir chegar até uma embarcação mais distante, posso me abrigar até alcançar um lado mais distante do lago. Depois eu pulo de volta e me escondo até pedir socorro para o Stack.

Estou velho, a água é gelada. Não vão dar créditos para eu ir tão longe. Os mais de dez anos que me dediquei à natação na época da juventude vão ter que servir de alguma coisa. Desde a faculdade não pratico com tanto afinco, só que vou ter que me arriscar.

Tem uma grande chance de dar errado e eu ser pego. Ou, ainda pior, eu acabar morrendo na água fria ou afogado. A questão é que prefiro morrer a pegar prisão perpétua.

Sem pensar demais, puxo ar aos pulmões e pulo. Escuto sons de tiros próximos a mim, mas se fui atingido, ainda não consigo sentir porque estou agitado demais. De imediato, o choque do meu corpo franzino com a água faz cada terminação nervosa do meu corpo doer.

O contato gélido percorre meu sangue e a visão fica turva. Penso em todo trabalho que tive nos últimos 25 anos e me recuso a desistir.

Seguro a respiração e começo a nadar submerso em apneia o mais rápido que meus braços conseguem. Quando a água está agitada é mais fácil se locomover embaixo do que na superfície.

Ao perceber que não tenho mais fôlego, subo para respirar e noto que ainda estou perto do navio. Consigo enxergar meio embaçado os agentes na borda com lanternas tentando me encontrar. Não perco tempo e volto a submergir.

Repito a sequência várias vezes, focado no navio que está mais distante, sem parar para raciocinar nos meus braços trêmulos, nas pernas fracas e no peito sufocando.

Só vou. Mais uma braçada. Mais um minuto.

Os rostos daqueles malditos experimentos e da corja que os ajudou surgem na minha mente e alimentam minha gana.

Vousobreviver para poder me vingar de todos eles.  

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