🩸 Capítulo 13

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Matthew

Coragem, determinação e perspicácia. Essas são três qualidades que eu sou muito grato por possuir. O trio foi o combustível necessário para me fazer debruçar por dias seguidos em centenas de artigos científicos e históricos médicos a fim de descobrir uma forma de ajudar Briana. Desde que a vi no hospital, não consigo tirar a imagem do seu rosto pálido e da poça de sangue da cabeça.

A primeira atitude que tomei foi investigar a família Quinn na internet, afinal, a solução mais fácil seria convencer os pais dela a aceitarem o tratamento com o soro. Que decepção! O fanatismo religioso e a aversão a nós são muito maiores do que a garota deixou entender.

Lendo algumas postagens nas redes sociais do pai de Briana, descobri que sua religião considera o sangue algo sagrado que é estritamente ligado à alma de cada ser humano. Sequer aceitam doar e muito menos receber transfusão de alguém. Até aí compreendo, é uma escolha deles. O problema é que o próprio homem é administrador de uma página na internet que alega que eu e os meus amigos somos frutos do diabo para corromper a humanidade.

Há dezenas de passagens bíblicas distorcidas que são associadas à descoberta do cativeiro e à nossa saída. Não há a mínima opção de convencê-lo que somos vítimas de uma indústria ambiciosa.

Descartada a opção do diálogo, mandei uma mensagem para a garota no Instagram dizendo que queria saber mais sobre o caso dela. Tentei não levantar falsas esperanças, afinal, não sabia ainda o que fazer nem como. Só falei que queria entender melhor qual seu quadro atual. Ela ficou radiante e me mandou um calhamaço de cópias de exames e diagnósticos.

Ignorei o jogo de basquete em Chicago que estava doido para ir, cancelei atividades e mal tenho comido direito avaliando cada detalhe que posso. Meus pais pensam que ainda estou preocupado com Paul, mas, na verdade, minha obsessão está sendo a desconhecida de olhos bonitos.

Emma e Thomas perceberam que tem algo errado, insistem em saber o que houve, porém, achei melhor não os envolver nisso ainda. Provavelmente, irão apontar os riscos e tentar me fazer desistir. Ou vão convencer Elisa a me dar o soro clandestinamente. Não quero colocar o estudo e todo trabalho que tiveram em xeque, ainda mais agora que está ajudando tantas pessoas.

De alguma forma, Briana atiça algo forte dentro de mim, a garra em lutar por minha vida mesmo quando não tive nenhum controle dela. Simplesmente não consigo ignorá-la agora e seguir em frente, embora devesse fazer exatamente isso.

— Minha prima mandou mensagem, já está no táxi. Deve chegar em dez minutos — Paul avisa, entrando no porão com duas latas de refrigerante e um pacote de salgadinho debaixo do braço.

— Ainda bem, não aguento mais de ansiedade.

Ele tem um quarto no porão que é privado e longe de olhares curiosos, por isso, tenho preferido investigar uma solução aqui. Paul ajudou muito, inclusive, me apresentando a sua prima Jackie que é enfermeira. Não acho responsável tomar qualquer atitude sem o aval de um profissional de saúde. Ela perdeu uma filha para a leucemia ainda criança e serviu no Afeganistão, salvando soldados em situações extremas, então, não foi difícil convencê-la quando contei a história.

Tomo o refrigerante em uma golada só e praticamente devoro todo o salgadinho, com as pernas inquietas batendo no chão. Já revisei tudo que deixei anotado no meu computador, incontáveis vezes.

Apenas vinte minutos depois, para o meu desespero, é que a mulher de 30 e poucos anos e cabelos loiros até o ombro chega trazendo o recipiente que tanto aguardei. Quase não consigo cumprimentá-la direito, afoito.

— Calma, rapaz, os frascos não vão fugir, não! — ela brinca, entregando a caixa térmica na minha mão. — É melhor você não demorar para colocá-los no refrigerador certinho, seguindo todos aqueles protocolos de segurança e manejo que te ensinei. Em tese, essas caixas têm refrigeração apropriada para transporte de termossensíveis por até dez horas. Porém, é melhor não abusarmos.

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