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              Sua mãe abre a porta para você animada e você a responde antes mesmo dela poder falar qualquer coisa.

             - Não mãe, eu não tenho nada com ele. É a primeira vez que nos falamos em anos. Não tenta procurar pelo em ovo, pelo amor de Deus-

          Ela olha para sua avó que ri sentada na poltrona da sala. Como detestava isso, sabia que ela viria com uma de suas frases antigas e diria algo sobre seu passado.

             - Eu falava a mesma coisa para a minha mãe heheh-

           Você revira os olhos, sem dar atenção para o que sua vó dizia. Não passava de uma frase pronta que ela ouviu de sua mãe e passou para as próximas gerações de mulheres para que elas se sentissem na obrigação de seguir um padrão. Padrão esse que consistia em se apaixonar, negar que estava apaixonada, casar com o dito cujo e ter o máximo de filhos possível. Estava cansada daquilo.

            - A senhora acredita que a Julieta me chamou para tomar um café na casa dela? Encontrei a Pepa, a dona Alma e claro, o Bruno. Eles estão todos tão diferentes!-

          Os olhos da senhora brilharam ao ouvir o nome de Julieta. Era incrível a adoração que ela tinha pela mulher. Sua mãe foi até a cozinha rindo com você pela a animação da idosa.

             - Nossa, não fica assim nem quando falam de mim. Eu vou ficar com ciúmes em-

           Você diz e sua avó gargalha, se levantando e indo em sua direção. Andando lentamente com sua bengala e rebolando o traseiro.

              - Para de ser besta! Mas me conta, como ela tá? Oq vocês conversaram?-

           Recebeu um tapa doído no braço que te fez gritar. Como aquela velha que mal podia andar sem o auxílio de uma bengala conseguia bater tão forte assim?

- Ah, nós falamos sobre trabalho, sobre a gravidez da Ju e o casamento da Pepa, ela está muito nervosa haha toda hora tinha que ficar falando "Pepa, a nuvem". Elas perguntaram de você aliás-

Outra vez os olhos da idosa brilharam. O que aquela velhinha tinha com Julieta? Você achava engraçado mas sentia um certo ciúmes, mesmo que entendesse sua avó, já que o carinho e admiração que você tinha pela mulher era enorme.

- Dona Alma nem falou nada sobre casamento? Que inesperado dela-

Comentou sua mãe, colocando comida para sua cadela Camélia, que pulava ansiosa esperando pela refeição.

            - Falar falar ela não falou. Mas dava pra entender sabe, ia dando umas indiretinhas e tals. Eu só fui levantando outros assuntos, respondendo outras perguntas, só pra desviar a conversa-

           Vocês ouvem a porta da sala abrir e um homem de mais ou menos uns quarenta anos passa por ela segurando uma enxada no ombro direito. Ele estava todo sujo e bronzeado por ter mexido com a terra o dia todo e ficado no sol sem muita proteção.

              - Ela vai querer te empurrar aquele filho estranho dela. Não ouça as baboseiras que essa mulher diz-

              Você revira os olhos, brava por seu pai falar tal coisa de Bruno.

               - O Bruno não é estranho! Ele só é mal compreendido-

             Você o defende, mas seu argumento não parece ser o suficiente para convencer o seu pai, que te olha cansado e zangado.

               - Ele acabou com a nossa plantação! Como você o defende?-

              Seu sangue ferveu, você olha nos olhos de seu pai com uma virada brusca e bate as mãos na mesa de jantar, tentando não gritar e manter a razão e a postura.

                - Ele não tem culpa da seca. Ele só viu o futuro que você pediu para ele ver. Ele não controla o futuro, ele o futuro. Tudo o que ele viu já estava escrito e destinado a acontecer-

           Você tira a enxada de suas mãos grossas e a guarda em seu respectivo lugar antes de ir para seu quarto e se fechar lá para evitar conflitos.

                 - É, ela gosta dele sim-

             Sua avó diz rindo roucamente enquanto se senta em sua cadeira mais uma vez.

                 - Eu prefiro que a senhora esteja errada. Aquele homem só traz problemas-

          Ele se senta na mesa para comer alguma coisa e descansar depois de um longo dia de trabalho. [nome da sua avó] balançava tranquilamente em sua cadeira de balanço, rindo para si mesma enquanto balançava a cabeça lentamente de um lado para o outro negativamente. Ela abre os olhos e chama a atenção de seu pai, para que a encarasse.

                    - Não teve uma vez que eu errei em relação ao amor. Se prepare [nome do seu pai], eu sinto que ele é o homem-

              Deitou sua cabeça no encosto com um sorriso depois de liberar seus sábios pensamentos. Realmente, não se lembravam de uma mísera vez em que a velha apostou em um casamento que deu errado ou que não aconteceu. Quando ela dizia que aquele casal se casaria, não tinha outra, uma hora ou outra a notícia chegava junto do convite para a cerimônia. Mesma coisa quando dizia que não daria certo, podia levar o tempo que fosse, no final sempre lhe diriam como ela tinha razão. É como se ela sentisse e fosse tão compreensiva e ouvinte ao ponto de entender o que os futuros noivos sentiam um pelo outro, sem nem eles mesmos saberem. Foi assim com Julieta e Agustín e assim será com Pepa e Félix.

            Você simplesmente não entendia, por que ela tinha que cismar que se casaria com Bruno? Por que seu pai não entendia que a culpa não era sempre de Bruno, assim como todo o resto da vila? Eram tantas perguntas que não faziam o menor sentido na sua cabeça, procurar por respostas parecia inútil e desgastante. Você sai pela porta dos fundos e vai até o estábulo junto de seu violão e entra na baía de sua fiel escudeira, Celeste, uma égua de cor bege, marrou e branca. Sua crina era branca e longa, bem cuidada, você sempre cuidou bem dela. Ficar perto dela era como um calmante, sua respiração te ajudava a relaxar e te fazia sentir segura. Era como se ela soubesse o que você estava dizendo ou sentindo.

              Você acaricia sua cara assim que entra na baía e ela te "cumprimenta" com um relinchado curto e um balançar de cabeça. Você lhe dá uma cenoura e se senta em uma pilha de feno próxima, arruma seu violão e começa a dedilha-ló. Cantou a primeira música que se lembrava e que sabia todos os acordes. Era calma, doce, te fazia relaxar e até mesmo Celeste fechava os olhos quando ouvia a melodia.

( toque o video do início para uma experiência melhor. Ps: o vídeo não me pertence e o nome da garota está no próprio vídeo do YouTube)

             Você é interrompida por um som de um galho quebrando ao fundo. Guarda seu violão rapidamente e sai da baia, segurando um facão que carregava consigo no bolso de sua saia. Roubos quase nunca aconteciam ali mas mesmo assim era bom se previnir de algum doído desconhecido que pudesse existir na vila.
               Uma sombra é avistada e quando percebe que você não parecia muito feliz com a visita, ela tenta correr. Você segura sua saia e corre em sua direção, o empurrando com toda sua força, o jogando no chão, a ponta de sua arma está apontada para seu pescoço em forma de ameaça. Um capuz verde cobre seu rosto e você o retira para revelar o intruso, mas logo abaixa a guarda quando reconhece o suposto doído desconhecido.

Meu futuro é com você [pausada]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora