06. Talvez eu nunca possa tocar o céu

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Ah, Diário... deixe-me continuar.

Na metade do trajeto, Jeongguk abocanhou uma maçã, a qual levou de tua casa. "Quer dar uma mordida?", ofereceu, tinha o olhar repleto de dubiedade, o sorriso ladino.

Naquele momento, eu sequer imaginava o significado do comportamento estranho dele. Porém, escrevendo-te hoje, no dia seguinte, eu percebo. Jeon Jeongguk havia planejado tudo antes. Ele tinha o passo a passo mapeado na mente: o que deveria dizer ou fazer, como e quando. Aish... ele é muito artificioso, e não sei se devo ficar ofendido com isso.

"Não, obrigado", neguei e desviei meus olhos.

"Terminei de ler Hamlet. Tu terminaste o teu livro?"

"Sim, hoje pela manhã. Ia te contar sobre isso agora mesmo." Ele arqueou as sobrancelhas em surpresa. Depois, teu olhar me disse para continuar falando. "Bom, de fato, era o livro que eu tanto procurava para ler, mas não estava encontrando. Obrigado por tê-lo recomendado. Tornou-se um de meus favoritos."

"Por um instante, hesitei em recomendá-lo. Não o achou muito trágico?"

"Achei, mas isso não é ruim. Há algo de belo no trágico, na melancolia. Sinto que nos permite acessar uma parte de nossa alma até então intangível."

Ele pensou por um instante. Meneou a cabeça em assentimento.

"Faz sentido. Concordo."

Então, o silêncio nos rodeou. Era possível ouvir apenas as solas de nossos sapatos contra a estrada de terra, além dos pássaros que sobrevoavam-nos, alegres. O clima estava agradável, sereno, contrastando com meu interior inquieto. Eu tinha uma pergunta na ponta da língua e mordi o lábio inferior para contê-la, mas fora em vão.

"Jeongguk, o que achas da paixão de Werther por Carlota? Digo... era uma mulher comprometida, e nem mesmo isso foi o suficiente para ele deixar de amá-la."

Libertei a dúvida que me corroía desde que cheguei nesta parte do livro. Era inevitável questionar-me sobre quais pensamentos Jeongguk tinha acerca daquilo, afinal, fora ele quem me indicou a leitura. Devia haver alguma intenção por trás de tudo.

E tinha. Só descobri no final da tarde.

Ele demorou para me responder, mas durante um tempo manteve o sorriso no rosto. Apenas agora noto que teu sorriso era de triunfo, pois eu estava indo exatamente pelo caminho que ele queria.

"Qual culpa Werther tem de ser um desafortunado fadado ao amor impossível? Coitado! Sinto muito por ele" tua face expunha o quão pesaroso estava. "Penso que o amor é algo incontrolável, e independentemente das obrigações pelas quais a vida te compromete, não tem como domá-lo. Tu não escolhes por quem vais se apaixonar. Não podes se obrigar a gostar de alguém, muito menos a deixar de amar uma pessoa. Isto não está em nossas mãos" enquanto gesticulava, me lançava olhares. "Compadeço pela situação de Werther. Imaginas estar apaixonado por alguém idealizado, endeusado, e o quanto é cruel querer tocá-lo e não poder."

Tuas palavras me atravessaram o peito, feito uma espada. Alcançaram uma parte de meu íntimo até então inacessível. Uma dor silenciosa me invadiu, junto ao reconhecimento imediato de minha situação na pele de Werther. Foi a descrição exata do que venho sentindo desde aquele baile. No entanto, busco mascarar meus sentimentos. Principalmente por causa de Mayumi, mas também faço isso pelo meu próprio bem, e pelo bem de Jeon Jeongguk.

Usei da literatura para expor os meus segredos pecaminosos, e quando o Jeon acolheu tão bem este meu lado vergonhoso, tive vontade de me derramar em lágrimas. Eu, Werther. Jeongguk, Carlota. Oh, sim. Sou um desafortunado fadado ao amor impossível.

Em uma outra vida, eu serei o teu garoto | taekook [🕊️]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora