twenty one - no, one it's enough

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— Para alguém com a língua tão afiada, esse mês sozinha na cela te deixou bem quietinha — ele se levantou e começou a caminhar na minha direção, não havia nenhum boldrié pelo seu corpo, mas uma faca poderia ser escondida em qualquer lugar da vestimenta. Dei um passo para trás quando sua mão alcançou minha bochecha em uma carícia. 

— Não me toque, Eris.

— Olá para você também. Meu irmão deve ter contado lindas histórias. — Eris riu enquanto voltava a sentar na cadeira do outro lado da mesa, ficando de frente para mim. 

— Somente as melhores — desdenhei, sentando-me na cadeira restante. Somente a mesa entre nós agora. 

Nada bom viria disso. Lucien me contara milhares de vezes nesses últimos meses na Primaveril como Eris não prestava. O mais velho dos irmãos, a sede de poder podendo ameaçar o que restava de sua dignidade. 

Esperava encontrar qualquer pessoa nesse ato de piedade, até mesmo Amarantha, mas não Eris. Eu o conhecia pelas histórias de Lucien e tirando as vezes que ficava no salão do trono durante a noite, nunca tinha o conhecido pessoalmente, nem mesmo trocado uma palavra. Ele não tinha motivo para falar comigo. 

— Deve ter sido ruim passar esse último mês presa, sozinha, sem notícias da outra garota. Vocês são bem parecidas, hein, família? — sua voz continha malícia pura, veneno parecia escorrer de sua boca se prestasse muita atenção. 

— Não veio para perguntar coisas que já sabe. 

— Não, definitivamente não. Nosso assunto é outro. — Ele se recostou na cadeira, abrindo o maior dos sorrisos possíveis dentro dessa montanha. — Tenho uma proposta para você. 

Ri enquanto também me encostava na cadeira. Ele era idiota de pensar que eu faria outro acordo, eu, ainda, não estava morrendo. Poderia muito bem passar mais dois dias sozinha naquela cela novamente, mesmo que não ter informações de Feyre me matasse um pouco. 

— Posso te tirar da cela, deixar você passar esses últimos dias lá em cima, em um dos quartos que ficam nos corredores de Grão-Senhores e suas famílias. E ainda te dar informações da garota, te mostrar como ela está. 

A ideia seria tentadora, se eu estivesse desesperada por algo. Se eu não aguentasse mais ficar trancada sem ver ninguém e sem nenhuma informação. Mas para quem passou anos dentro de uma floresta caçando, esperar não era meu problema. Além do mais, eu confiava que no momento que pisasse na cela novamente, aquela música voltaria e afastaria qualquer pensamento do meu corpo.

— E o que você quer em troca? — o brilho no olho dele aumentou enquanto se levantava. Eris deu a volta na mesa e parou atrás de mim, as mãos nos meu ombros e o rosto perto da minha orelha. 

— Olha só, alguém já aprendeu como funciona os feéricos — a malícia nunca abandonava sua voz, e fiz o meu máximo para não vomitar ali mesmo quando uma de suas mãos começou a descer pelo meu braço. — Você sabe o que eu quero. 

Eris estava tão confiante. Tinha absoluta certeza de que eu cairia em seu charme e aceitaria esse acordo idiota. Ele obviamente não conseguiria me tirar da cela e me deixar ver Feyre, além do mais entraria no que estava sendo dito ou não no meio do acordo. Isso só funcionava para ele e seu próprio prazer. Mas eu não deixaria de me divertir. 

Inclinei-me para ele e deixei minha cabeça cair em seu ombro. Seus olhos brilharam ainda mais e o aperto da mão no meu ombro ficou mais forte. Fechei meus olhos e fingi estar aproveitando o momento, por mais que meu corpo todo gritasse para sair dali o mais rápido possível. Quando os abri novamente virei a cabeça para encontrar os olhos vermelhos dele me encarando, nossos rostos próximos demais. 

Corte de Amores e Segredos - ReescrevendoWhere stories live. Discover now