Procuro Alguém - Gabigol

12

Gabriel: dia dezoito de janeiro de dois mil e vinte dois; terça feira por volta de dez da manhã;

Quando o resto do time começou a ir pro campo, pro treinamento, eu fiquei parado e não demorou pra Jorge Jesus me xingar. - "Ô, mister, libera eu aí. Eu tenho um compromisso." - Pedi botando a mão na nuca.

"Seis bem! Tú compromisso deverias de ser o campeonato carioca estribando tudo o que vês na frente." - Ele veio brigando e me puxando pelo braço, mas eu ri. Não de deboche, eu ri porque  é muito bom ter meu velhinho gritando comigo de novo.

"Hoje tem uma consulta de pré natal que eu tenho que ir. Deixa eu ir escutar o coração do meu filho, mister." - Pedi abraçando ele de lado. - "Eu nunca ouvi o coração da minha cria."

"Não ouviste purquê tú é besta." - Resmungou falando carregado e eu gargalhei de novo antes de pedir mais uma vez se ele deixava eu sair.

Yasmin: por volta de onze e meia da manhã

"Yasmin Nogueira?" - Ergui a cabeça. - "A Doutora já está esperando por você." - Assenti agradecendo mas dei um suspiro fraco ao pra porta. Mais uma vez, ele não vem.

Pra quê foi me prometer tanta coisa se nem em uma consulta de pré natal ele pode vim? Parece que eu rodei, rodei, rodei procurando e tomei no cu do mesmo jeito.

"Bom dia, mamãe." - Sorri fraco pra minha médica que ficou olhando pra porta que eu mantinha aberta, mesmo já tendo entrado. - "Tá esperando alguém? Talvez o papai?"

Suspirei fraco e olhei de novo pra porta de entrada. - "Tava, mas acho que ele não vem." - Ela me deu um sorriso de consolo e eu fechei a porta. - "Mas tudo bem." - Menti e forcei um sorriso.

Não, não tem nada bem.

"Pode deitar lá, Yasmin." - Assenti e me ajeitei na maca já subindo a minha blusa e revelando a minha barriga ainda pequena. Ela começou a passar o gel e quando ia começar a ultrassom, bateram na porta. Minha médica respondeu: - "Estou em consulta."

Minha surpresa foi a voz do outro lado que respondeu: - "Eu sei, doutora. Eu sou o pai do bebê." - A médica me olhou querendo confirmar se era e eu assenti com a cabeça ao ouvir ele completando: - "Aqui é o Gabriel, eu posso entrar?"

"Pode." - Ela respondeu e a porta foi aberta no mesmo segundo. Gabriel deu um sorrisinho tímido, passou uma das mãos na roupa do Flamengo que me lembrou que ele tava em treinamento e fechou a porta se aproximando devagar.

"Prazer doutora, e aí? Oi, meu amor." - Ele se abaixou o suficiente apenas pra me dar um beijo na testa, e parou do meu lado com o braço por trás da minha cabeça. - "Desculpa a demora, você sabe como o time tá, o mister voltou daquele jeito e quase não me libera. Pra piorar, eu ainda peguei um trânsito do caralho. Perdi muita coisa?"

"Nas outras consultas sim, na de hoje ainda não." - Minha médica respondeu afiada e eu ri. Como eu te adoro, Luana... - "Eu estava justamente começando a ultrassom agora."

Gabriel: nesse momento

Por alguns segundos foquei os olhos na barriga de Yasmin. Pequena e redonda, e refletindo na tela uma imagem que eu não entendia nada. A médica apontava e dizia: as perninhas, os bracinhos, a cabeça, mas pra mim era tudo um borrão. Eu só vim entender de fato que aquelas imagens eram da minha cria quando ela disse:

"E agora, o momento de mais emoção nesse consultório: os batimentos cardíacos." - Sem perceber apertei forte o ombro de Yasmin e foquei meus olhos nos borrões até ouvir um som alto pela sala.

"É... o coração?" - Perguntei sorrindo. A médica fez que sim com a cabeça e o tum tum na sala foi ficando mais forte e alto. Minha voz saiu embargada quando eu constatei: - "É forte né?"

"É. É um coração que bate forte." - Gargalhei meio sorrindo meio chorando.

"E aí? O que você acha?" - Yasmin perguntou secando o rosto e me olhando.

Me abaixei pra beijar sua testa de novo e responder com a boca colada à sua pele: - "Eu acho que o som do Maraca lotado gritando meu nome acabou de deixar de ser o meu som favorito."

Yasmin:

Peguei todos os papéis e saí do consultório com Gabriel me seguindo. Já estava vago, então agradeci mentalmente por ninguém poder ver o artilheiro do Flamengo aqui.

"Eu tenho esses exames pra marcar e um retorno pro dia vinte e cinco." - Eu disse ajeitando os papéis na bancada da recepção.

Gabriel se intrometeu: - "Dia vinte e cinco volta os jogos. Não pode ser antes ou depois não?"

"Acho que não precisa você vir." - Respondi sem olhá-lo.

"Eu quero te acompanhar em tudo, meu amor." - Fiquei em silêncio e senti ele tirando uma mecha dos meus cabelos que caía pelo meu rosto. - "Tudo, fazer tudo por você. Por vocês."

Suspirei fundo e olhei pra ele: - "Não me promete coisa que cê não vai cumprir, véi."

Gabriel arregalou os olhos e cruzou os braços: - "Como é que cê fala um negócio que você não sabe, mano?"

"Que eu não sei? Cê me disse a mesma coisa desde antes de eu engravidar e eu não botei os olhos nesses dreads dezembro inteiro, caralho. Já aquele monte de mulher deve ter botado até as pernas." - Falei um pouco mais alto que o necessário. Terminei de resolver com a secretária, agradeci e saí voada pra fora da clínica, com ele me seguindo.

"Ô Yasmin, não complica o que é fácil."

Arregalei os olhos antes de destravar meu carro: - "Você tem certeza que sou eu que tô complicando o que é fácil?"

Ele não respondeu, apenas balbuciou o meu nome e ficou me olhando guardar as minhas coisas no carro. Antes de entrar eu falei: - "Eu não quero a suas promessas de amor e cuidado pra mim, ok? Eu só quero que por favor que quando nascer você não faça o meu filho passar por tudo que eu passei com meu pai, beleza?"

Gabriel assentiu devagar e disse: - "Essa criança é tudo pra mim."

Assenti de volta e completei: - "Isso é bom, continue assim e vamos cumprir nosso trato de ter um bebê, ok? Ok. Esse lance de pele, de beijo, de... de meu amor, já era."

Ele assentiu de novo e apoiou os braços na aba do boné que estava virado pra trás. - "Você tem certeza disso?"

"Absoluta. Obrigada." - Respondi e dei a volta no carro antes de dar a partida.

>> Não ia aparecer mas achei esse capítulo 80% pronto e decidi completar pra dar esse agradinho de Natal pra vocês.