In another life | 𝗔𝗶𝗱𝗮𝗻 𝗚𝗮𝗹𝗹𝗮𝗴𝗵𝗲𝗿 (Concluída)

✵ Seu aniversário

• pode conter gatilho!
• boa leitura 📚

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O sol já estava nascendo e eu continuava sentada na frente de casa com a cabeça apoiada na porta

Não era a primeira vez que isso acontecia, não era a primeira vez que eu saia do lugar que era para eu poder me sentir segura

Eu saia para poder me sentir viva, poder esquecer de tudo que eu estava passando

Da morte da minha irmã, da culpa sobre mim, das mudanças de humor, das mudanças de escola e mudanças que a vida nos trás

As dívidas, as dores, os sorrisos

Até aqueles que estão sorrindo todos os dias, estão com uma dor em seu coração

Eu havia ficado a noite toda acordada, vi o sol nascer e era tão lindo de se ver

Depois de alguns minutos escuto um barulho vindo da porta, que dava o sinal que a mesma estava aberta

Mas eu nao tinha coragem

Não tinha coragem de me levantar e entrar dentro dessa casa

De mostrar que não está nada bem mas mesmo assim nada muda

Eu já tinha perdido a noção da hora faz muito tempo, mas nunca me esquecerei que dia é hoje

Ao lembrar me doia, doia o coração

Me levantei bem devagar para não fazer barulho e pude escutar a gritaria logo atrás da porta

- EU NAO QUERO VER A CARA DELA E NEM A SUA JANICE - Meu pai gritava e de longe dava para escutar os choros da minha mãe

Eu apenas sai dali o mais rápido possível e fui para um lugar que um dia todos irão

[...]

Estava fechado, isso seria um problema? Obviamente não

Andei por mais alguns minutos até achar um pequeno buraco para que eu pudesse pular esse muro

Os portões da frente estavam fechados, a parte aonde trazem os corpos também estava fechada

Mas isso não me impedia de nada

A cada passo que eu dava era uma pontada no coração

Era a primeira vez que ela não comemorava seu aniversário

Eu sempre era a primeira que chegava em seu quarto quando dava meia noite e pulava em cima da mesma, para poder desejar seus queridos parabéns

Estava sendo difícil, difícil demais

Difícil de superar, difícil de esquecer, difícil de deixa-la ir como ela havia me pedido

Será que todos meus pesadelos não são pesadelos? Será que ela ainda esta aqui porque eu não a deixo ir?

Meus olhos ja estavam ardendo, eu queria chorar mas ao mesmo tempo não queria

Depois de alguns segundos consigo achar um pequeno buraco

Olho para os lados para ver se tinha alguém passando e pela minha sorte, a rua estava deserta

Coloco meu pé ali como apoio e logo solto um impulso fazendo com que eu consiga me segurar na ponta do muro

Havia alguns arames ali me impedindo de conseguir passar, mas eu nao iria desistir

Com dificuldade consegui passar pelos arames sem me machucar

Pelo menos eu pensei que não havia me machucado, até ver que minha calça do colégio havia rasgado e só depois pude perceber que pegou na minha pele fazendo com que a mesma tivesse um corte

Reviro os olhos com raiva pois nada da certo quando a gente quer

Eu ainda estava de uniforme, e meu cabelo estava horrível pela chuva que eu havia tomado na noite anterior

Assim que terminei de descer, coloco a mão no bolso para ver se o isqueiro que eu sempre carrego estava ali

E por um momento meu coração gelou, mas depois consegui achá-lo pegando no mesmo e tirando do bolso

Precisava tirar essa blusa de frio, pois estava com um pouco de sol e eu estava me sentindo sufocada

Sufocada de tantas coisas que eu queria falar mas não tinha coragem por algum momento

Não era medo, sabe quando uma pessoa guarda mil coisas pra si mesma e que em qualquer momento iria explodir

Eu me sentia assim

Eu não contava sobre meus sentimentos, sobre os meus medos, sobre minhas felicidades, sobre minhas tristezas

Pois não tinha para quem eu contar

Talvez o Aidan seja a pessoa que eu devesse confiar, mas confiar é uma coisa rara

Mal o conheço mas sinto que conheço ao mesmo tempo

Quando ele disse que sentia que me conhecia, eu também senti

Mas mentir faz parte da minha rotina

Eu estava andando pelo cemitério em busca da lápide da minha irmã

Eu sinceramente, nunca vim aqui

Eu não conseguia, não conseguia enxergar que ela estaria embaixo da terra em volta de um caixão

E não ao meu lado me infernizando o tempo todo

Eu estava com medo de que alguém me visse, mesmo que eu tenha invadido

Sei que há pessoas que trabalham e eu não queria incomodar ou dar algum problema

Mas eu precisava vê-la

Para colocar em minha mente que ela se foi, mas doi tanto

Eu não consigo, não consigo parar de pensar que tudo isso poderia ser diferente

Eu continuava andando vendo aqueles nomes e números, de pensar que tantos adolescentes assim como minha irmã estariam aqui

Eu sei que alguém sente a mesma dor que eu

Eu olhava tudo aquilo, realmente era muito doloroso

Foi quando eu vi seu nome, eu parei no mesmo instante

- maninha - eu falo me aproximando da lápide com a blusa de frio na mão

Eu fiquei paralisada, eu nem sabia o que dizer

Mas logo senti meus olhos arderem, eu estava prestes a desmoronar

Me aproximei ainda mais vendo algumas flores, algumas pessoas dizendo que estavam com saudades

- hoje é o seu aniversário - falo afastando um pouco as plantas e me sentando de frente para a lápide

- e eu ainda não descobri como pensar em você sem rasgar o meu coração - eu falava e já não conseguia segurar mais as lágrimas - eu sabia, você sabia  que não estava nada bem, eu sinto sua falta - falo ja chorando que nem uma criança, eu não conseguia me controlar

Eu não conseguia deixar ela partir

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