Amores de Natal [CONCLUÍDO]

Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ Sᴇɪs

Querida, Betty.

Não queria fazer suposições sobre a sua partida, ou dizer o quanto doeu chegar em casa e não tê-la me esperando como todas as noites, eu errei, te magoei e tinha completa noção disso. Acho que é minha causa você ter mudado de número e de apartamento sem avisar para nossos amigos mais próximos. Quando passei em frente a portaria não consegui respirar, as lembranças me atingiram em cheio e foi impossível não chorar.

Você foi embora, mas eu não queria ter que vê-la partir.

Talvez tenha escutado rumores depois da fotografia que Inez postou, mas não acredite no que ela tem a dizer mesmo que desta vez fosse verdade. Me pergunto se quando chegasse na nossa casa você teria gritado comigo, mandado eu ir me foder, acredito que estaria me sentindo menos pior do que agora.

Te levaria para o nosso lugar especial, deitando sobre a grama e você confiaria em mim se eu te dissesse que foi apenas um caso? Sei o momento onde tudo deu errado, quando eu não apareci para estar ao seu lado.

Era a sua época favorita do ano e arruinei isso, mas eu sinto a sua falta, todos os dias quando você não está mais ao meu lado. Ainda coloco a sua música favorita para tocar e nos imagino dançando na cozinha somente com a luz da geladeira.

Fiquei sentado na frente do seu prédio durante dias, esperando você aparecer para pegar alguma coisa, mas tudo já tinha sido levado. Planejei por semanas como seria te reencontrar e as palavras que precisaria falar para que me perdoasse.

Me desculpe se fiz parecer que seus amigos são idiotas, ou que não dei valor a cada poesia que você escrevia sobre mim. Sua voz ainda ecoa por essas paredes, como um sussurro baixo perdido no tempo. Sinto falta de tê-la em meus braços usando meu cardigã enquanto tomávamos chocolate quente. O seu cheiro permaneceu em meu travesseiro.

Em meus pensamentos questiono se você me beijaria como todas as vezes se eu aparecesse em sua frente, ou me repudiaria com todo o seu ser. E então volto para dezembro, o dia que tudo mudou, o instante em que perdi você.

Queria saber como vai a sua vida, se seu coração dói como o meu, se seus pais agora me odeiam já que faz um tempo que não os vejo. Betty, você me deu rosas e eu as deixei lá para morrerem.

Volto para dezembro o tempo todo, para o momento que eu abri a porta e chamei o seu nome recebendo somente o silêncio em troca. Abri os armários e suas roupas não estavam mais lá, seus pertences tinham desaparecido, me restando somente o cachecol vermelho que você deixou na gaveta eu ainda guardo ele para me lembrar de como era bom quando a tinha ao meu lado.

A liberdade que tanto queria não se mostrou nada além de saudades suas, o espaço que criei nos afastou e só percebi no instante que era tarde demais.

Então me embebedo e volto para as lembranças, os nossos vídeos, escutando sua risada no banco do passageiro durante as nossas viagens me dando conta que eu te amava no outono e então chegou o inverno com os dias mais escuros.

Deitada em meu colo recitando os seus poemas, todos feitos para mim em forma de declarações, será que agora você tem outro alguém para ser a sua inspiração? Alguém que não tenha quebrado o seu coração. Você me deu todo o seu amor, Betty, e tudo o que eu te dei foi um adeus.

Sinto falta da sua pele bronzeada, do seu sorriso doce e o corpo sobre o meu, dos nossos beijos, todos os toques e carícias, de como você me segurou em seus braços naquela noite fria de setembro. As vezes que nos amamos e você me abraçou deitando em meu peito fazendo meu coração bater forte contra o peito.

Estar com você era tão bom, tão certo, mas eu joguei tudo o que nós tivemos no lixo e me arrependo amargamente todos os dias por isso.

Isso me faz voltar para dezembro quando eu deveria ter estado lá, mas não passei por aquela porta como prometi que faria.

Você era a minha cidade Betty, mas agora não sou mais a sua terra natal, estou em exílio te assistindo partir com outra pessoa e não gostei desse final, ao ver que não sou eu que estou ao seu lado com os braços em volta do seu corpo, rindo de uma piada não tão engraçada.

Desejei ter percebido o que eu tinha quando você ainda era minha.