O1. the house

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Why aren't you scared of me?
Why do you care for me?
When we all fall asleep, where do we go?

________________________ billie eilish

Uma casa escura cheia de espelhos. Corredores estreitos com portas que rangiam e mexiam com o vento, eu não era muito fã de filmes de terror muito menos de visitar cemitérios à noite. Mas esses dois eram e me atraíram para esse labirinto onde nunca deveria ter entrado.

A casa 2245. Haviam muitas histórias sobre essa casa, desde um incêndio que misteriosamente matou a família que vivia nela porém a mobília continuou intacta ou a longa estadia de um antigo serial killer que espalhou o corpo de suas vítimas pelos cômodos. Entrar aqui era uma prova de coragem para alguns ou pior punição para outros, desde que cheguei, todos falavam como coisas ruins aconteceram para pessoas que visitaram a misteriosa casa do condomínio.

O que não colaborou muito para que eu mantesse meu controle emocional a cada vez que recebia apenas o eco da minha própria voz naquela casa, em como beomgyu e karina de repente pararam de gritar apavorados pedindo por socorro em nossa ligação. Em como à cada quarto que eu entrava mais queria acreditar que tudo não passava de uma pegadinha e que meus amigos estavam à salvo. Foi burrice ter ido sozinha mas eu estava desesperada, ao menos tive chance de avisar à mais alguém ou trazer algo que eu poderia usar para me defender.

Havia entrado com tudo naquela casa apenas com a coragem e determinação de tirar os dois de lá vivos, entretanto havia algo por trás daqueles espelhos que desejavam uma coisa alheia à vida dos meus amigos. Ou melhor, alguém.

Alguém que não mediu esforços para sequestar e torturar Beom e Jimin, que me atraiu até aquele casebre apenas para me apunhalar pelas costas e tirar tudo de mim.

⸺ Não se preocupe com esses dois, eles não são mais seus amigos. Aceite as coisas como são ou da próxima vez receberá algo mais do que uma pancada na cabeça

Ameaçava a voz distorcida naquele sonho tosco que meu cérebro continua repetindo sem parar, O que diabos significava isso ? Eu nem era tão fixada em filmes de terror e nem lembro de ter visto algum na noite anterior mas estranhamente aquela voz estava certa sobre duas coisas : minha amizade de longa data com Beomgyu e Karina havia chegado ao fim e sim, a história e cômodos da casa 2245 eram idênticos ao do sonho.

Talvez eu estivesse me arriscando demais entrando naquele lugar ao invés de estar indo para o colégio como todo mundo, em outras ocasiões seríamos os três aqui bisbilhotando mas desde que eles decidiram me apagar de suas vidas eu comecei à ignora-los também.

Era incrível pensar quantas coisas havia perdido desde minha mudança para Ilsan, primeiro foram as regras absurdas da nova escola que me custaram um skate, mechas coloridas, minha gata e o último resquício de socialização que eu tinha.

Convencer meus pais de ter aulas particulares não foi fácil, e obviamente um ato falho. Para eles eu precisava me abrir mais para amizades, tentei apelar sobre não estar saudável mentalmente para voltar mas eles me deram apenas 3 dias e chamaram minha tristeza por ter perdido meu único bichinho de estimação de "birra adolescente". Imagino se eu fosse contar do meu sonho para minha mãe, ela com certeza diria que eu estava louca ou apenas mal interpretando as coisas me mandariam para fazer terapia e começariamos à frequentar igrejas, logo tudo o que gosto seria demonizado e minha vida viraria um completo inferno.

Talvez agora a única pessoa próxima que tinha era seu primo Brian, apesar de já ter bastante tempo que não nos víamos. Nossas idades eram bem distintas mas ele costumava ser o que mais me entendia entre todos nossos familiares, o garoto havia se emancipado com 15 anos e desde então vagabundava por aí fazendo música ruim como meus tios costumavam falar. Nos poucos segundos que eu estava naquela caminhonete cantarolando Should i stay or should i go à todos os pulmões com o mais velho à caminho da escola, me senti mais leve e sem preocupações. Como se o peso da perda e rejeições em meu dia à dia tivessem desaparecido, e passar um tempo com meu primo era tudo o que precisava para superar e seguir em frente. Ele ao contrário de todos me ouvia.

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