As características do meu vizinho.

9 - Seu passado

Estava caminhando em direção ao vestiário quando meu Pager foi assonado, depois de olhar para código na tela, corri na direção do quarto 208.

- Parada respiratória - a minha enfermeira superior gritou, enquanto eu abria as gavetas atrás dos equipamentos.

- Vai entuba-lo? - questionei, tirando o travesseiro dele.

- Bem, estou tentando, as vias respiratórias estão muitas apertadas - disse ela, com o equipamento enfiado dentro da boca do paciente - troca pra mim, pegue um mais fino.

- Ele não respira a muito tempo, vou fazer uma traqueotomia - avisou o medico do paciente, passando o algodão em sua garganta.

- Consegui - comemorou minha chefe - balão.

Estendi o objeto para ela, que conectou e começou a apertar. Com o oxigênio de volta ao corpo do paciente não demorou para ele estabiliza, com a enfermeira do próximo turno entrando no quarto, fui dispensada, voltando a seguir para vestiário, consultei meu celular.

Cheguei, estou te esperando

Tinha uma mensagem de Adam, a alguns minutos, sem me trocar como planejava fazer, peguei minhas coisas e segui para fora do hospital.

- Desculpa o atraso - disse entrando em seu carro.

- Sem problemas - murmurou ele dando partida - dia cheio? - questionou olhando meu uniforme.

- Ta mais pra ultimo minuto cheio - comentei.

- Quer pular pro banco de trás e se troca? Eu prometo não olha.

Encarei ele, semicerrando os olhos, analisando suas palavras.

- O que? - questionou Adam, sem me olhar concentrado na estrada.

- Nada - respondi tirando o cinto, para pular para trás - só estava pensando.

- No que? - questionou ele, erguendo os olhos para o espelho do carro.

- Achei que não iria olha.

- Pensando no que, Lara?

Que talvez quisesse que você olha-se.

- Nada, bobeira minha, dirige.

Como soubesse o que eu pensava, ele sorriu para o retrovisor, antes de se concentrar na estrada em sua frente.

Me troquei, sem medo dele não cumprir sua promessa, não porque talvez eu queira que ele não cumpra, mas por que confio que ela vai, mesmo sendo rude quando esta estressado, sei que ele tem palavra.

Pulei para o banco da frente de volta, colocando o cinto, antes de tirar o elástico do meu cabelo, e passando os dedos entre as mechas as arrumando.

- Então, para onde vamos? - questionei.

- Curte videogame?

- Bastante - respondi, concordando com a cabeça - mas achei que iriamos jantar, e não no fliperama.

- Bem, eu estava pensando em onde te leva, e sim poderíamos ir a um restaurante chique, com lustres gigantes e comida estranha ou poderíamos ir ao um lugar divertido, com...

Interrompi sua fala com minha risada, rindo da careta dele ao falar de outros lugares e de como sugeriu um lugar divertido, em algum momento Adam começou a rir comigo, ou melhor de mim.

- Você ta bem? - perguntou ele, me olhando rapidamente por conta do trânsito.

- O lugar divertido, tem videogame? - perguntei, me recompondo, e tentando entender sua pergunta e explicação.

- E hambúrguer.

- Perfeito então.

❃✾❃

Lara desceu do carro antes que eu pudesse abrir a porta para ela, mostrei minha língua para ela em protesto, a fazendo rir.

- Uhh, aqui não tem lustres gigantes, mas tem uns divertidos - comentou ela, olhando para o redor do local.

Olhei em volta, procurando a peça, era uma luminária que se reveria ao jogo do Mario, voltei a prestar a tenção na atendente que nos disse que nos acompanharia te a mesa. Depois de nos explicar toda a dinâmica do restaurante e nos entregar o cardápio ela saiu.

- Quer jogar Street Fighter? - perguntou Lara, olhado os jogos disponíveis.

- Se prepare para perder - disse pegando o controle.

- Aah que fofo, ele é inocente - debochou ela.

A luta começou e foi acerada, fazia muito tempo que não pegava num controle de videogame, mas isso para mim, era como andar de bicicleta não tem como esquecer, e por isso no primeiro round eu ganhei, mas então no segundo eu percebi que Lara me deixou ganhar, porque ela acabou comigo sem muito esforço, e então no round final, eu estava quase a matando, minha vida esta praticamente boa, um pouco a menos que a metade, e mesmo assim ela me matou, com um golpe que eu nem sabia ser possível.

Lara ergueu os braços para o alto em comemoração enquanto ria e sorria, meu lado competitivo ficou quieto, ocupado de mais admirando o sorriso dela, só para faze-la rir mais, finge cena, mostrando a língua para ela, deixando o controle de lado e pegando o cardápio para pedir.

Ela riu, abandonando o controle e se debruçando sobre a mesa.

- Isso foi divertido.

Sorri entendendo sua referencia.

- Quero uma revanche - disse, erguendo meus olhos por cima do cardápio para olha-la - o que você quer pedir?

Ela olhou as opções, se debruçando sobre a mesa, ela passou a mão por cima do meu cardápio apontando para um dos nomes.

- Esse - respondeu ela - com babata.

Olhei seu pedido.

- Parece bom, vou pedir o mesmo.

Depois que fizemos nossos pedidos, voltamos a jogar, na minha revanche não ganhei nenhuma vez, por isso tirei daquele jogo e comecei a procurar outro, analisando os jogos antigos que jogava na minha infância com Mike.

Jogamos alguns joguinhos de corrida, e finalmente eu ganhei duas partida de três, e depois ficamos jogando Mario, ate nossa comida chegar.

- Você sempre viveu aqui em Chicago? - perguntou Lara.

- A vida todinha, minha mãe morava uns seis quarteirões pra trás do nosso prédio, na verdade eu passei minha infância vendo ele ser construído.

- Conhece o senhor Arthur dês dessa época? Ou só foi conhecer ele no prédio?

- Depois que meus pais se separaram, minha mãe começo a trabalhar em dois empregos, e então eu e meu irmão ficávamos com Arthur e sua esposa Mariane, a gente passava a tarde todinha na casa deles, bem Arthur era escrito e fez eu querer ser editor.

Lara sorriu, concordando com a cabeça, sem pensar passei o polegar no canto de sua boca, limpando um requisito de molho.

As bochechas dela coraram, mas achei fofo o modo que ela jogou o cabelo para trás dos ombros, fingindo que nada aconteceu e prosseguiu.

- Ta bem, se Arthur ainda não morava não prédio, porque ele ainda estava sendo construído, e você tinha uma casa a seis quarteirões de distancia, porque comprou o apartamento?

- Ah isso foi anos mais tarde, fazia seis meses que eu tinha sido contratado pela editora dos meus sonhos, e minha mãe precisava se mudar para Michigan por causa do trabalho e tals, Mike foi com ela, mas eu fiquei, tanto por conta do emprego como por Arthur a esposa dele tinha acabado de falecer, então nos dois procuramos novos imóveis para morarmos e acabou que foi no mesmo prédio.

- Ahh, então o senhor arrogante ficou na cidade por que tinha um coração, quem diria?

- Háha - debochei balançando a cabeça, o que fez Lara rir, e eu acompanha-la - mas chega de falar de mim, sei que não é de Chicago, então da onde você é?

- Meus pais vivem no Kansas, passei toda minha infância lá, mas eu e minha irmã sempre tivemos o sonho de conhecer o mundo, então minha irmã mais velha foi para o Canada e a mais nova para a Europa, e eu pra Chicago, onde me apaixone.

- Ele ainda esta em Chicago?

- Não, ele odiava essa cidade, assim que terminei com ele, ele voltou para Nova York.

- E você?

-Eu? Fui pra Kansas, fiquei um mês na casa dos meus pais, ate tomar um rumo, estava com saudade do voluntariado então decidi que voltaria para cá e que terminaria minha faculdade, então apareceu um anuncio de um apartamento perfeito para mim, e eu o comprei.

Foi minha vez de sorrir de sua historia.

- E porque o voluntariado?

- Eu só conheci um dos meus avós, e ela morava numa casa de repouso, eu lembro que toda sexta eu ia visita-la antes da escola e ela me dava dinheiro para comprar chocolate, e depois que ela morreu eu continuei a ir, conversar com os amigos dela, os enfermeiros dela, primeiro era só na sexta, então segunda e sexta, e depois três vezes na semana, tinha dias que eu ia a semana inteira.

A amor e carinho que se expandia em seu olhar era quase apalpável, Lara contava com seu olhar fascinado, balançando a cabeça, fazendo seu cabelo brilhar refletido com a luz, era uma imagem que eu gostaria de guardar para sempre em minha memoria.

- Eu já lia muito naquela época, mas foi ali que eu comecei a me apaixonar por historias, ouvir a historia real deles, era fascinante, foi por causa deles que eu comecei a pesquisar receitas na internet para levar para eles, e então quando eu vi, eu já estava no meio, já estava me escrevendo numa faculdade de enfermagem.

Seguimos conversando pelo resto da noite, de algum modo eu não conseguia parar de admirava-la, não só porque ela era linda, mas por conta do seu entusiasmo, sua animação para falar das pessoas que ela ama e admira.

Estávamos comendo a sobremesa, uma taça com sorvete e chocolate e morango e calda, e mais algumas outras coisas que Lara pediu.

- E suas irmãs? Tirando as historias que elas estão envolvidas, você não fala muito delas.

Lara se encostou na cadeira, pensando.

- Vamos ver, Lily é estressada, um doce de pessoa, mas muito estressada, me lembra você, ela odeia o cara que ela trabalha, mesmo que eu e Lucy achamos que ele é secretamente apaixonado por ela, e Lucy ela é oito e oitenta, em um momento ela é a pessoa mais seria do mundo, em outro ela esta fazendo as piadas mais sem graças e estranhas possíveis.

Ri.

- É serio - protestou Lara, rindo comigo - são horríveis as piadas dela.

Seguimos rindo, e conversamos ate depois de pagarmos a conta e irmos para o carro. De volta ao nosso prédio a convidei para entrar em meu apartamento.

- Que tal um vinho para encerrarmos a noite? - sugeri, mostrando a garrafa.

- Para alguém que não bebe muito, você tem muito vinho - comentou Lara, pegando sua taça.

- Mike - respondi - tirando meu aniversario, em qualquer ocasião ele esta me dando uma garrafa de vinho, natal, ano novo, ate dias dos pais. Ele sabe que eu não bebo muito, então ele faz um estoque de vinho dele, na minha casa.

Lara riu, abastecendo sua taça, antes de seguir para o sofá com a garrafa em mãos.

- Bem, não sou eu que vou julga-lo.

Me sentei ao seu lado, ligando a tv.

- Quer assistir alguma coisa? Podemos começar um serie - sugeri, colocando no catalogo.

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