Capítulo 3

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      A manhã de sábado chegou rapidamente, e com ela o toque incessante do telefone.

         - Alô – disse com uma voz sonolenta.

         - Ainda está na cama?! – Kori berrava do outro lado da linha.

         - Sim. E é aqui que vou ficar!

         Sem mais delongas desliguei o telefone. Peguei o celular e vi que já passava das 10h00min horas da manhã. Caixa postal estava cheia, havia quase oito mensagens de texto, e todas da Kori. Infelizmente ela não estava muito preocupada em ter faltado á academia, mas sim por não ter apresentado um velho amigo, que corria sempre no parque no mesmo dia e horário que nós. O conhecia da escola e o tinha reencontrado há alguns meses Hell’s. Kori quando soube que eu conhecia um homem que fosse bonito e aparentemente solteiro, ela não pensou duas vezes em rastejar aos meus pés, para que eu os apresentasse. Tínhamos marcado para este sábado fatídico, do qual eu apenas queria seu agradável silencio e calmaria.

        Felizmente, Kori desistiu e não apareceu na minha casa. Pude aproveitar para simplesmente descansar e tentar esquecer ao máximo o que tinha ocorrido na noite passada.

     Com a mesma rapidez com que o sábado chegou, ele foi embora; dando brecha para um ensolarado domingo da linda Manhattan.

       Morava naquele bairro e na mesma casa, havia sete anos e nãotinha a menor vontade de sair dali.

       Morava num bairro bem central; meu trabalho ficava á apenas cinco quadras dali; e tinha um emprego ótimo, onde recebia muito bem. Conheci o The New York Times, pelos jornais; sempre amei leitura e jornais sempre foram os meus preferidos. Quando completei 19 anos, sai da casa da minha tia, que me criara desde os cinco anos. Estava a procura de algo para fazer, um emprego ou estágio, qualquer coisa serviria. Passava sempre pelo mesmo caminho, quando um determinado dia, decidi passar na minha livraria preferida, que viera á fechar dois anos mais tarde. Estava com um exemplar de O Pequeno Príncipe quando levanto os olhos e dou de cara com uma plaquinha branca, com letras pretas bem marcadas “Precisa-se de ajudante de escritório – The New York Times”; naquele mesmo dia fui contratada e a partir de então, só aprimorei meus conhecimentos. Mark vendo que sempre tivesse jeito para o negocio, resolveu me dar uma chance, me fez secretaria particular dele; ele me ensinou tudo o que eu precisava saber, para conseguir a vaga que muitos se matariam para conseguir; relações públicas e internacionais. Ganhava mais do que bem, sempre tinha dinheiro o suficiente para manter a casa; que já era própria e pequenos luxos, mas como passava maior parte do tempo fora e não tinha muitos gastos, então tinha uma conta bem gorda, que daria para passar cincos anos despreocupada sem trabalhar.

         Todas essas lembranças me fizeram pensar o quanto Mark havia sido generoso em me dar uma oportunidade, mas também me fez refletir, se tudo o que ele fez, não era um principio do acontecimento da noite de sexta. Será que ele fez tudo isso por mim, para receber algo em troca?! Preferi não pensar.

         Fui ate a cozinha, o relógio marcava 13h40min da tarde, e havia duas mensagens. A primeira era de Jerry, pedindo noticias, já que passei o sábado; totalmente desconectada, respondi rapidamente, dizendo que estava tudo bem e que nos encontraríamos amanhã no trabalho.

         Já a segunda mensagem, me deixou trêmula, era de Mark. Hesitei por um breve momento antes de ler.

         “Gostaria... de vê-la na casa dos Prince’s. Será um jantar e estou sem acompanhante. Até mais tarde.”

         Quão idiota aquele homem poderia ser. Não bastava o que ele tinha feito naquela maldita festa, ele tinha que continuar com esse joguinho idiota.

     Decidi ir pra cama, antes mesmo do sol desaparecer. Felizmente não recebi mais nenhuma mensagem; logo adormeci.

        Chegando ao escritório, pontualmente ás 08h15min da manhã, fui recebida por uma protuberância de indagações.

     - O que houve na festa de sexta?! – exclamou Kori mal deixando chegar á minha mesa.

         - Do que esta falando? – tentei parecer neutra.

         - Mark está louco atrás de você, e ouvi uns comentários bem estranhos sobre vocês dois...

         Kori se calou ao uma porta bater atrás de si. Mark vinha em passos largos em nossa direção.

         - Na minha sala, já! – referiu-se á mim e deu as costas.

        - O que aconteceu? – perguntou Jerry, pegando no meu braço quando passei por sua mesa. Respondi com a cabeça que nada; dei-lhe um sorriso forçado e fui para sala dele.

         Ele estava em pé, de frente para sua enorme janela de vidro; observando o trânsito caótico da manhã.

      - Por que não foi ao jantar? – indagou ainda de costas para mim.

         - Não estava me sentindo muito bem...

         - Mentira – disse ele.

         Permaneci cala diante de seu comentário.

       - Diga a verdade. Por que não foi ao jantar?! – estava de frente para mim, sua expressão era de pura raiva – onde esteve a noite passada?!

         - Não lhe devo satisfações da minha vida pessoal!

        - Deve sim. Eu que lhe dei esse status de garota bem sucedida que você tem hoje.

      - Tudo que tenho, consegui por merecimento, por meu esforço.

         - Vai negar na minha cara, que eu a ajudei?!

         - Não foi o que quis dizer. Você me deu a oportunidade e eu a aproveitei dei o melhor de mim durante todos esses anos.

       - Não. Você não deu o melhor de si – ele falava com um sorriso enorme nos lábios, um sorriso cafajeste e nojento – ainda não.

         - Não ouse repetir o que fez naquela maldita festa! – ameacei.

         - O que você vai fazer?! – retrucou aproximando-se de mim, não temi, as paredes da sala eram de vidro, caso ele tentasse algo, todos veriam – Savana... Você depende de mim para bancar essa vida que leva o mínimo que podia fazer, era me recompensar um pouquinho.

         Estava com os nervos a flor da pele. Sentia nojo. A ânsia de vomito era forte.

         - Não ouse encostar, em mim – disse trêmula.

         Sem se importar com o que os outros pensariam, ele puxou-me contra si e beijou minha boca. Desvencilhei-me dele, e dei-lhe uma tapa na cara.

         - Sua vagabunda – disse com ódio – está demitida!

         - Não! Eu me demito! Faço questão de dizer isso. Agora sei o real motivo por insistir tanto para que eu fizesse horas extras; eu queria não acreditar que isso era verdade, mas agora... Vejo que estava certa.

         Sai de sua sala com todos boquiabertos. Jerry me seguiu ate o elevador e desceu comigo.

         - Vai ficar tudo bem – disse ele abraçando-me.

A Fera da Meia NoiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora