• Mago, de M. M. Santos

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         • Título: Mago
         • Autor: M. M. Santos (Mayko_Martins)
         • Gênero: Fantasia

     Publicando seu primeiro conto na plataforma e suprindo os leitores que aguardam a continuação de Fruto Podre — Nota PC: 9,4 —, M. M. Santos lança Mago, uma curta fantasia que narra sobre a vida de  Eloysa, uma jovem estagiária de jornalismo que vive os momentos mais decisivos da humanidade. Num mundo em que a magia é amplamente usada pelo homem, uma grande guerra assola as Américas; colocando norte e sul em lados opostos. Em meio a essa realidade, Eloysa tenta conseguir espaço no seu trabalho e usar sua voz para convencer a todos de que a manipulação da magia é a responsável por esse grande mal. Contudo, todos os seus planos perdem a importância quando uma grande e estranha torre surge em plena São Paulo, como se prenunciando o fim próximo. O Ponto Crítico foi convidado em primeira mão para conhecer essa intrigante história. 

     Longe de querer ser mais um Harry Potter do Wattpad, M. M. já deixa evidente na sinopse e no prólogo que sua obra traz uma abordagem diferente para o uso da magia. Apesar dos feitos fantásticos, o que marca o início do texto é a realidade dura da guerra, com cenas fortes de morte e destruição que muito lembrariam os filmes do gênero, não fosse as armas mágicas que aqui substituem o armamento comum. Mago rapidamente mostra para o que veio, salpicando a sua mensagem principal nos parágrafos, nos diálogos e no desenvolvimento como um todo. Não tarda para que as analogias nos façam refletir acerca do fatalismo humano. Afinal, o homem corrompe o poder, ou o poder corrompe o homem? 

     Estamos diante de uma obra de linguagem bastante acessível, direta, "dura" em suas construções e que, apesar da falta de grandes marcas estilísticas, usa de termos e manobras interessantes. O autor deixa como destaque em seu texto uma característica já perceptível na sua novela, Fruto Podre, e que aqui finca mastro como uma marca registrada de suas obras. A construção de uma realidade paralela dá a fantasia ares de ficção científica; o foco, em boa parte do conto, concentra-se nos desdobramentos da guerra, nas consequências sociopolíticas do uso da magia e na crueza das cenas, o que remete mais aos universos das distopias do que propriamente aos das fantasias. Essa é uma característica que joga a favor da história, pois traz uma roupagem nova para o gênero, quebra as expectativas do leitor e dá ao autor uma personalidade textual que rapidamente pode ser reconhecida por seu público. 

     O desenvolvimento talvez seja o calcanhar de Aquiles da obra. Os acontecimentos se desenrolam numa velocidade um pouco acima da ideal, deixando a leve sensação de que a narrativa poderia ser maior para que o leitor pudesse se adaptar completamente dentro da leitura, como se estivéssemos calçando um sapato novo. Por causa dessa velocidade, também percebe-se que os diálogos precisaram se tornar expositivos demais para que nenhuma informação fosse deixada de lado e todas as pontas fossem amarradas para o desfecho. Em meio ao caos dos grandes acontecimentos, alguns personagens secundários, como o melhor amigo de Eloysa, Okyam, ficam avulsos e não chegam a justificar as suas presenças. 

     É certo que as descobertas que levam a leitura para o seu desfecho agradarão aos amantes de boas reviravoltas. O final agridoce, com a nossa protagonista tendo que tomar difíceis decisões em prol do bem de todos, consegue agradar por não fugir do clima trágico que a narrativa carrega desde seu início. A história se encerra bem, mesmo que não consiga apagar totalmente a sensação de que tudo poderia ter sido desenvolvido com mais capítulos, dando o real tempo das informações amadurecerem e dos personagens reagirem a elas com mais naturalidade. Torna-se difícil definir até que ponto essa sensação é algo inerente ao gênero Conto, cabendo ao leitor apenas a aceitação, ou até que ponto é algo que realmente merece a atenção do autor numa futura revisão. 

     Um obra criativa, com um bom planejamento de enredo, boa construção de universo e que ganha ao não se apegar às fórmulas comuns da fantasia. Mago é uma leitura imersiva, prazerosa, que traz boas reflexões e satisfaz — mesmo que por um curto prazo — os leitores órfãos da continuação de Fruto Podre. 

Nota: 9,2

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