Until Dawn

If You Lie Down With Me

- Cheguei cedo demais? - Charles perguntou se ajoelhando na minha frente.

- Não chegou não. - Respondi.

Ele sentou ao meu lado, não tão próximo mas também não tão longe, enquanto tirava as folhas.

- Tem várias folhas no seu cabelo, sabia? - Ele perguntou arrumando o óculos no rosto.

- Eu sei, mas elas não me incomodam. - Respondi.

Então, ele deitou na grama e começou a olhar para o céu, que estava estranhamente limpo.

- Pode se deitar também. - Ele disse dando um espaço pro lado para que eu pudesse deitar.

Me deitei, um pouco afastado. Então o silêncio reinou por uns 5 minutos, até que os pássaros começaram a cantar. Ele passou esse tempo todo olhando pras nuvens, eu quis perguntar o que ele tanto vía, mas não quis acabar com esse momento silencioso.

- Eu sei que você me acha muito curioso, mas é o meu jeito de fazer amizades. - Ele disse se virando pro meu lado.

- Não tem problema, eu que não confio muito nas pessoas.

- Eu tive uma ideia.

- Qual? - Perguntei um pouco intrigado.

- Eu pergunto uma coisa e depois que você responder, também pode fazer uma pergunta pra mim. Pode ser? - Ele perguntou tirando uma folha que caiu do rosto dele.

- Acho que pode funcionar. - Respondi.

- Eu começo, é algo que eu quis perguntar no começo mas fiquei com medo de você estranhar. Seu cabelo é ruivo natural ou você pintou? É um ruivo muito forte! - Ele perguntou e então começou a olhar as nuvens de novo.

- É natural mesmo, não sei se teria coragem de pintar. - Respondi.

- Quer perguntar algo?

- Por que escolheu jornalismo? - Perguntei virando o rosto.

- Desde pequeno não me imagino estudando algo diferente.

- Não sei mais o que perguntar.

- Então vamos ficar em silêncio até que você sabia.

Fiquei com medo de ter transparecido meu nervosismo e ele ter percebido minha voz falha.

- Não que eu duvide de você, mas eu ainda não entendi o porque de alguém popular como você querer amizade com um excluído igual a mim, é algum projeto de inclusão social e eu não sei ainda? - Perguntei um pouco nervoso, mas tentando parecer firme.

Então, Charles deu uma risada, mas não parecia de deboche.

- Não é nada disso.

- Então o que é?

- É que você é interessante. - Ele disse enquanto tentava desenhar a forma da nuvem que ele estava olhando.

Fiquei em silêncio, de todas as respostas e cenários que eu imaginei, essa foi a mais inesperada.

- Seu cabelo é loiro natural ou é tingido? - Perguntei tentando quebrar o silêncio.

- É natural, por incrível que pareça.

- Entendo.

- Não sei o que perguntar também, então me diga algo que eu não sei sobre você ainda.

- É... Amanhã é o meu aniversário. - Respondi a primeira coisa que veio na minha cabeça.

- Devo dar os parabéns adiantado? - Ele petguntou.

- Que eu saiba quem dá parabéns adiantado é porquê deseja a morte da outra pessoa. - Respondi tentando parecer bem humorado.

- Cruzes. Deixa pra amanhã então! - Ele disse em meio à algumas risadas.

Ri também, foi algo inesperado, até mesmo pra mim.

- Como vai comemorar seu aniversário amanhã? - Ele perguntou.

- Provavelmente estudando sozinho no quarto como sempre.

- Se não for atrapalhar, quer sair amanhã? - Charles perguntou.

- Posso pensar? - Perguntei de volta.

- Claro.

- Foi bom passar esse tempo aqui, mas eu tenho aula daqui a pouco, espero que não se importe de eu ter que sair agora. - Comentei me levantando.

- Tudo bem. Não seria apropriado apertarmos as mãos agora, não é? Eu lembro que você não gosta de contato físico.

- Vamos fazer uma coisa de cada vez.

Peguei minha mochila e me levantei pra voltar para a faculdade, que não era tão longe de onde estávamos.

- Até mais. - Ele disse acenando.

Acenei de volta e continuei andando de volta pra faculdade.