If You Lie Down With Me

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Nunca fui o tipo de pessoa que sorri lendo mensagens de outra pessoa ou se importa em saber como ela se sentiu com alguma coisa que eu falei, historicamente eu sou um idiota com qualquer um que tentou se aproximar de mim, o Charles não é excessão. Mas ele parece não se importar com isso, o que é deverás esquisito.

Amanhã é o meu aniversário, o dia no ano em que eu me sinto mais solitário do que nunca. Meus pais provavelmente não se lembram já que não se importam em pelo menos me dar um parabéns, mas não sinto falta disso, já que é só mais um dia em que eu fico mais velho e mais próximo de morrer velho e solitário dentro de um asilo, sendo otimista.

Saí das dependências da faculdade, fui ao parque próximo de lá, onde eu gosto de ficar sentado e observando os animais vivendo suas vidas simples e ficar no silêncio por algumas boas horas.

Me encostei na copa de uma árvore um pouco velha, pude sentir as folhas caindo na minha cabeça e o som dos passarinhos voando pra longe, rezei pra eles não cagarem na minha cabeça.

Nunca fui uma pessoa religiosa, até onde consigo lembrar, nem nunca me importei com isso, meus pais sempre quiseram que eu vivesse na igreja, mas nunca me senti confortável no meio de tanta gente, nem com um padre falando pra milhares de pessoas igual no tempo antigo onde todos eram ignorantes e burros.

Ficar sentado observando os animais me faz lembrar da época que eu e Carlos éramos crianças vivíamos brincando no parque durante as férias de verão. Lembrar disso me deixa com vontade de chorar, mas eu não posso mais chorar toda vez que eu lembrar dele. Não mais.

“O luto é o amor que perdura.” - Lembrei do que Charles disse ontem a noite. Não imagino por qual motivo ele está fazendo amizade comigo, também não sei se quero descobrir, estou começando a me acostumar com a ideia de fazer uma amizade nova, por mais que isso me assuste e me deixe com vontade de fugir.

Será que devo mandar uma mensagem? Ou seria estranho? Por mais que ele tenha dito que não teve problema comigo tratando ele daquele jeito, acho que mesmo assim pode ter sido uma impressão ruim que eu tenha causado.

Não me considero uma pessoa legal, eu nunca soube como manter uma conversa e nem como puxar assunto com alguém, é estranho eu querer falar com alguém.

Também estou com medo de me acostumar em ter alguém novo, um amigo novo. Tenho medo de me apegar de novo e a pessoa se matar ou ter um tumor no cérebro e acabar morrendo tentando tirar ele.

Me decidi, vou mandar a mensagem, se ele me ignorar, eu bloqueio e finjo que nunca conheci ele.

“Está livre agora de tarde?” - Enviei.

Estranhamente, Charles viu a mensagem rapidamente e digitou uma resposta, até que curta.

“Posso sim!”, junto à uma figurinha sorrindo.

“Você quer vir ao parque observar as aves?”, perguntei. Era uma pergunta muito estranha, não espero que ele queira.

“Só me mandar a localização!”, ele respondeu com uma figurinha da Agatha de Wandavision.

Enviei a localização, o que me deixou estranhamente ansioso, talvez seja por que eu finalmente estou conseguindo derrubar meus muros e começando a viver de novo.

Ver os patos na água me lembra das poucas vezes que fui pra fazenda com meu pai quando era criança, na época eu ainda era filho único, pescávamos e dávamos pães aos patos e no fim do dia cozinhavamos os peixes que pescamos.

Lembrar disso me deixa com vontade de chorar também, saber que nunca mais vou ter nada disso me abala bastante, por mais que eu tenha aprendido a ser sozinho, sinto falta do relacionamento que eu tive com meu pai, mesmo que não tenha sido duradouro.

Until Dawn Where stories live. Discover now