Don't Get Me Wrong

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A noite passada ainda está bem fresca na minha cabeça. Por mais estranho e louco que tenha sido, conversar com outra pessoa que não seja a Emma ou alguma das minhas personalidades foi estranhamente bom. Por mais que eu saiba que a luz do dia é improvável que eu vá conversar com ele de novo, eu me pergunto se vamos nos cruzar em algum momento.

Costumo sair de casa as 05h50, minha aula só começa de 07h, mas isso me dá um bom tempo pra ficar sozinho e não ter que ver ninguém de casa antes de sair.

Liguei meu telefone, deixei desligado desde que o Charles mandou mensagem, não quero conversar com ele online, eu mal sei conversar pessoalmente, online será pior ainda.

“Acho que agora eu sou amigo do bonitão.” - Enviei para Emma.

Mesmo sabendo que ela estaria dormindo, quis enviar a mensagem pra ela ver quando acordasse.

Pensando comigo mesmo, estou começando a perceber que talvez eu tenha sido ignorante até demais com o coitado. Nas duas vezes que nos encontramos ele foi tão gentil, apesar de ser curioso até demais. Talvez eu deva engolir meu orgulho e pedir desculpas? Não sei.

Meu celular começou a vibrar constantemente. Era Emma mandando várias mensagens repetidas.

“Você o que??” - Ela mandou repetidas vezes.

“Longa história. Se quiser saber a gente se encontra depois da aula.” - Respondi brevemente.

Ao passar pela casa dele, olhei para a janela, para garantir que não iria ter ninguém me observando desta vez.

Para minha sorte, estava tudo fechado.

[...]

Cheguei na universidade, fui em direção aos laboratórios de técnicas de sutura, mesmo tendo suturas perfeitas, quis praticar pra poder relaxar a mente. Ainda estou longe do caminho de ser um médico ainda e tenho que aprender a me comunicar com os pacientes. Pra minha sorte, existe uma disciplina somente pra isso, mas eu sabia perfeitamente no que estava me metendo quando fiz a inscrição e a prova pra esse curso.

Não que eu duvide da capacidade dos cirurgiões que operaram o Carlos, muito pelo contrário, pelo histórico todos eram mais que capacitados pra aquela cirurgia, mas no fim nem todo preparo e anos de carreira não impediu ele de ir para um das páginas de um obituário. Mas minha meta é ser melhor que eles.

Falta pouco pra eu começar a estagiar e ir para o internato, preciso vencer minha fobia social até lá. Talvez seja bom o Charles ter aparecido agora e aparentemente interessado em uma amizade, posso conhecer alguém novo e melhorar como ser humano.

Também não posso me aproximar muito dele, infelizmente não quero ter proximidade nem formar laços com algo ou alguém que pode morrer a qualquer momento, isso me destruiria por completo.

Saturar bananas e pensar no stalker não era como eu pretendia começar o meu dia, mas é melhor do que começar ele sendo xingado pelo meu pai.

Só de ter a imagem dele na minha cabeça minhas mãos já começaram a ficar trêmulas.

- Sabia que você iria estar aqui. - Disse Emma sentando do meu lado. - E então, qual é a do bonitão?

- Bom, ontem eu estava caminhando à noite e ele me viu e foi conversar comigo, nada demais... -

- E como ele é de perto?

- Mais bonito do que deveria.

- Já que agora você tem um "amigo" você não vai se importar de ir comigo de novo no departamento de jornalismo, certo? - Ela perguntou fazendo sinal de aspas com os dedos.

- Agora que eu tenho motivos pra não ir, além do que, estou envergonhado, ontem dei vários foras e patadas nele sem motivos, apenas por estar nervoso. - Respondi um pouco nervoso.

- Você já experimentou pedir desculpas, igual as pessoas normais fazem?

- Ainda não. - Falei enquanto pegava meu telefone e olhava a mensagem dele, ainda sem resposta e sem ter salvo o número dele também.

- Não mata nem vai tirar um pedaço de você, sabia? - Ela disse enquanto se sentava.

- Eu sei bem.

Abri a conversa e digitei brevemente dizendo que sentia muito por ter tratado ele mal ontem à noite e pedindo desculpas.

- Pronto, satisfeita? - Perguntei.

- Agora só falta salvar o número dele, ou você pretende deixar aí? - Ela perguntou de volta.

- Não sei ainda.

- Quando decidir algo me avise! Agora eu tenho que ir pra aula. - Emma respondeu enquanto pegava sua bolsa e se dirigia em direção à saída.

Guardei os kits de suturas e coloquei as bananas no lixo orgânico, depois de arrumar tudo nem parece que eu passei um bom tempo praticando.

Fui pra minha aula de anestesiologia, uma das minhas favoritas, apesar de permanecer em silêncio e indiferente a aula toda.

Senti meu celular vibrando levemente, dessa vez não era Emma, e sim Charles que havia respondido.

“Tudo bem, eu te perdôo!” - Ele respondeu junto com uma figurinha de uma xícara de café sorrindo.

Esbocei um sorriso de lado com aquela mensagem, mas ao mesmo tempo fiquei preocupado com ficar feliz em receber mensagens de alguém e estar criando laços novamente.

Until Dawn Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora