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Eu trabalhava no restaurante a todo tempo pensando na conversa de ontem do meu avô, minha mente estava uma bagunça.

-Como foi a festa da cidade? - Pergunta Jessica chegando em meus escritório.

-Foi boa...

-Queria tanto ter ido, mas não tinha como deixar Becky cuidando dos gêmeos doente sozinha. - Lamenta e eu sorrio fraco.

-Você não perdeu muita coisa, e além disso Becky realmente precisava de você.

-Você parece estar meio longe, pensativa demais...o que aconteceu? - Questionou.

-É que...- Meu celular toca e eu faço sinal para ela esperar. - Alô, mamãe?

-Oi...filha. - Sua voz estava embargada e meu coração logo disparou.

-Mãe? o que foi? - Pergunto tensa.

-O vovô Darke filha...ele...-Ela soluçava, aos prantos e eu já sabia do que se tratava. Minhas mãos tremiam, o ar me faltava e a tudo parecia estar desabando. - Ele faleceu...

Eu tenho absoluta certeza de que nada seria o mesmo para mim. Sem o meu avô eu não poderia continuar, não teria forças.

Não era justo, não era! não mesmo! meu AVÔ! O carinha que me ensinou a andar de bicicleta, que me ensinou a nadar, o bom velhinho que me ensinou tudo sobre filmes e livros, que me deu meu primeiro emprego em sua locadora, a pessoa que me ensinou a pescar e a lutar artes marciais, quem sempre me contou sobres as histórias do meu pai de quando ele era criança. O famoso vovô Darke conhecido na vizinhança e amado por todos, eu tive os melhores momentos da minha vida com ele, os melhores conselhos, melhores abraços, as melhores piadas. Meu avô é minha história de vida toda.

Não, não, não! EU NÃO ACEITO O PERDER PRA SEMPRE.

Dói, dói tanto quanto a dor de quando perdi minha vozinha. A dor de quando perdi meu pai. Dói, dói muito, dói na alma, no coração, no corpo, nas lembranças.

Meu celular cai no chão e eu também, Jessica vem rapidamente me acudir, eu chorava aos prantos, quase sem ar de tanto que doía, de tanto que machucava.

-Meu vôzinho não, ele não por favor...-Suplicava aos prontos e Jessica já tinha entendido.

[...]

Eu estava quieta a todo tempo, muitos vieram me abraçar, meus filhos estavam agarrados comigo o tempo todo. Enterros costumam ser ruins, a morte é ruim.

Mas é muito pior quando a pessoa faz parte de você, quando a pessoa é sua metade.

A pior imagem do mundo é vê-lo nesse caixão. Mas ele parecia tão sereno, sua feição estava leve e tranquila, parecia estar dormindo.

Eu queria rasgar meu peito, arrancar meu coração de tanto que doía.

Tudo ao meu redor parecia estar quieto, eu só ouvia o barulho da minha mente. Não conseguia ouvir nem ver ninguém, só ele, meu vôzinho.

-Estou aqui pra você. - Sinto seus braços acolhendo eu e nossos filhos. Era Bradley. Só consegui o apertar e chorar que nem bebê. A cerimônia já tinha começado e o pastor já estava dando oportunidade para alguém dar as últimas palavras como discurso.

-Acho que ele gostaria que você falasse...- Sussurrou Brad e eu o olhei amedrontada. Olho ao redor e todos me olhavam apreensivos e quietos esperando eu começar.

Respiro fundo e chego perto do caixão, e ali perco o ar.

-Você consegue. - Brad sussurra e me lança um sorriso acolhedor.

-Eu não estava preparada pra isso...- Começo. - Para morte da pessoa que mais amei nessa vida. - Meus olhos já se enchem de lágrimas e minha voz vacila. Respiro fundo mais uma vez. - Acho que ninguém nunca está preparado para perder quem ama, não importa qual situação, ninguém está preparado para sentir a dor da perda. Não é um sentimento que se aprende a lidar, não importa quanto tempo passe...- As lágrimas inundavam meu rosto e mesmo assim eu respirava fundo a todo momento para ter forças. - A dor sempre vai estar lá, presente, te corroendo. Mas acho que com o tempo, você passa a ter o conforto das lembranças boas, que mesmo que doa também, faz você sentir a exata sensação de quando aquela pessoa ainda estava ali...eu não vou aprender a conviver sem meu avô, nunca. Todos que estão aqui, sabem o quão único e querido ele era. O que eu aprendi com ele, o que vivi com ele, vou carregar pra sempre comigo até os últimos dias da minha vida...e sei que os momentos que cada um que está aqui tiveram com ele, também não será esquecido. - Limpo minhas lágrimas. - Ele me disse uma vez que família é a coisa mais mágica que existia...- Pauso entre soluços, lembrando exatamente do que ele me disse ontem, sua voz ecoou em minha cabeça com suas palavras. - E ele tinha razão, ele sempre tem...não tem nada mais mágico do que a família. Por isso, ame hoje, aproveite o hoje, viva grandes momentos com quem você ama...porque é isso que sempre irá ficar na memória e nas lembranças. Pois é a única coisa que não pode ser tirada após a morte.

Todos aplaudiram emocionados e eu fui correndo abraçar Bradley e meus filhos.

Conhecendo O Amor 2 - O reencontro.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora