5. João De Barro.

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— Lorenzo! — Meu pai gritou do outro lado da sala, mas eu já estava de pé, fechando o notebook com tanta raiva que a tela externa trincou sob o peso da minha mão. 

— Foda-se, pai! Você sabe que Devon nunca faria isso. — Eu gritei saindo pela porta do escritório. — Se existe alguém nessa porra que nunca faria isso, é Devon. 

— E é por isso que crianças não deveriam participar dessas reuniões. — Ouvi Thomaz dizer quando saí da sala, mas não esperei a resposta de ninguém. Ele nunca entenderia o quão péssimo pai era para Devon e até mesmo para Gabriel. Nenhuma criança abandonaria o pai e a mãe se não vivesse sob merda constante. Esperava que meu pai falasse com Thomaz sobre Devon passar o final de semana em Las Vegas, mas depois de minha explosão, seria quase impossível. 

— Você não parece bem. — Mamãe comentou quando entrei na cozinha num rompante. Minha cabeça estava girando de raiva, mas eu precisava me controlar. Lentamente forcei meu rosto em uma máscara indiferente, empurrando meus sentimentos para longe do meu semblante, mesmo que meu coração estivesse ardendo. — Odeio quando você se força a parecer indiferente quando claramente posso ver que está mal. 

— Não estou mal, estou irritado e é sempre bom saber controlar a raiva. — Era verdade. Se eu deixasse a raiva que sentia sair de mim, eu faria coisas que me arrependeria para sempre. Eu a sentia, correndo por meu sangue como a lava de um vulcão, mas diferentemente, eu nunca entraria em erupção. 

— Você precisa voltar ao psiquiatra? — Mamãe perguntou se encostando contra o balcão. Seus cabelos escuros como os meus estavam presos num coque desarrumado, mas suas roupas estavam impecáveis como sempre. Um vestido azul escuro justo que ressaltava suas curvas. Eu odiava pensar em minha mãe como uma mulher bonita, porque isso queria dizer que outros homens a olhavam, mas ela era linda. A mulher mais linda do mundo, porque o amor que eu sentia por ela fazia todas as outras parecerem simplórias, até mesmo sua gêmea idêntica. 

— Não. — Disse-lhe com firmeza. Eu sugeria terapia para todo mundo que me vinha com um problema emocional, por menor que fosse, mas eu nunca mais queria pisar num consultório psiquiátrico. Nunca mais queria tomar aqueles remédios que tiravam meu foco e me deixavam sonolento durante todo o dia. Aquilo era para pessoas comuns, não para um soldado da máfia que andava com uma arma letal. Alguém que poderia ferir uma pessoa porque a mão tremeu quando atirou… Empurrei os pensamentos para o fundo do minha mente. — Estou bem. 

— Pedi a Carina para mandar Devon esse final de semana. — Minha mãe disse com um sorriso gentil. — Disse que seria bom para os gêmeos passarem um tempo juntos. 

— E ela? 

— Disse que falaria com Thomaz. — Minha mãe disse revirando os olhos. — Ela não faz nada sem permissão do marido, isso me irrita. 

— E você faz? — Zombei fazendo mamãe revirar os olhos outra vez. 

— Seu pai é o Capo da Camorra, eu sou o Capo da casa. 

— Shhh. Não deixe ninguém ouvir. — Meu pai pediu falsamente entrando na cozinha. Mamãe sorriu quando ele beijou seu rosto e passou os braços ao redor de sua cintura. Eca. 

— É estranho quando vocês se comportam como um casal. Pensar que vocês… Urg. Credo. 

— E você acha que veio ao mundo como? — Papai provocou. — Se você não sabe, eu posso te contar. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Where stories live. Discover now