– Ai... – digo gemendo de dor enquanto me levanto para a faculdade, eu queria parar, mas minha mãe não deixou então...

Visto uma blusa de manga comprida apesar do calor e uma saia que bate quase no chão. Ontem Evandro acabou comigo, ele só parou de me bater quando se cansou, e depois disso ele me deixou largada no chão. Meu corpo esta literalmente ardendo, não tomei banho ate agora por isso, tem hematomas por todos os lados.

– Preparei um café da manhã pra você querida. – minha mãe diz perto da mesa onde sempre jantávamos. É óbvio que ela quer se remidir depois de ontem.

– Não estou com fome. – falo saindo de casa, mas ela vem andando atrás de mim

– Hoje temos culto querida – ela diz – Peça a Deus para Evandro melhorar.

Ela me abraça e eu desfaço rapidamente.

– Minhas feridas doem. – digo e saio de casa.

Enquanto ando para o ponto de ônibus da escola, me olho em um carro e percebo que há um hematoma no meu pescoço.

– Porcaria! – digo pegando meu cachecol dentro da bolsa. O calor esta me matando.

Depois de alguns minutos. Chego na faculdade e todos dirigem os seus olhares para mim, provavelmente porque nos noticiários eu era mais famosa do que a Angelina Julie por causa do meu sumiço.

– Cecília Moura? – a diretora da faculdade vem correndo atrás de mim.

– Algum problema? – pergunto colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

– Sim. Pode me acompanhar ate a minha sala, por favor?

Assenti e fomos andando ate a sala da diretora. Assim que chegamos lá ela se senta na mesa de frente para mim enquanto meche em alguns papeis.

– O que aconteceu? – pergunto com a testa franzida

– Sua matricula foi cancelada. – ela fala suspirando baixo.

– Quê? – sorri tentando me conter.

– É... – ela diz – Você não irá mais poder cursar a sua faculdade aqui, seus dados não aceitam mais o sistema dessa faculdade.

Levanto e abaixo as sobrancelhas enquanto me acomodo na cadeira dura. Hector... Com certeza Hector, penso eu, mas por que motivo ele não iria querer que eu faça faculdade? Aliás... Por que motivo eu virei a escrava dele se ele não me manda nenhuma ordem?

– Entendi. – digo – Bom... Sendo assim...

– Sua matricula foi transferida para uma aqui perto, em Medicina, estou transferindo os seus papeis agora mesmo, seja lá o que você fez me perdoe eu pensei que você não tinha condições para pagar uma faculdade tão cara, e também ela...

– Espera – digo a interrompendo estendendo a minha mão – Você disse que eu estou sendo transferida? Pra uma faculdade de medicina?

– Sim – ela diz – Como pode achar isso estranho?

– Não estou compreendendo. – balanço a cabeça

– Se quiser pode ver no sistema – ela diz olhando para o computador – você foi transferida para outra faculdade, e é você que esta pagando tudo.

– Não é possível... – digo sussurrando

– Bom... Pode pegar as suas coisas já esta liberada, se eu fosse você eu corria se não vai perder o seu primeiro dia de faculdade – ela diz e me entrega um papel com algo escrito – Aqui esta o endereço, boa sorte e parabéns!

Sorrio para ela e imediatamente pego minha humilde bolsa e vou correndo para minha "humilde" faculdade. Fala sério... Caramba... Por que Hector daria isso por mim?

Reviro os olhos, bufando alto ao perceber que só tenho dinheiro de volta da faculdade, então o jeito é ir andando.

– Cecília? – um homem me para na rua. O mesmo taxista particular de Hector – Está indo para a faculdade? O senhor Adams mandou te levar.

Sem pensar duas vezes me enfio no taxi amarelo e vejo as pessoas de lá me encarar, estou tão empolgada que não paro de conversar por um segundo com o taxista.

– Será que não é incômodo ele ta pagando isso tudo pra mim? – pergunto a ele

– Claro que não – o taxista responde – O senhor Adams tem dinheiro que não acaba mais!

– Ah... – digo tentando arrumar meu cabelo. Droga! Primeiro dia de faculdade e eu estou super na moda... pra uma freira!

– Não é a empregada doméstica dele né? – ele diz me olhando através do retrovisor

– Não – engulo um seco. Hector disso para manter em segredo a história de escravidão.

Não demora muito e eu estou vendo meu sonho na frente dos meus olhos. A faculdade é muito grande, eu só a vi uma vez no computador porque não temos televisões, é o que eu sempre sonhei para mim, aí dentro esta parte da única coisa que pode me fazer feliz.

– Boa sorte mocinha – o taxista diz e eu vou andando ate a entrada da faculdade.

Sinto–me insegura e confesso que um pouco rebaixada. Assim que entrei, as pessoas que estão no corredor enorme me encaram estranho, procuro a secretária ou algo do tipo e assim que chego lá...

– Oi tudo bem? – digo para a moça da secretaria. Ela é loira e tem os olhos claros e esta com uma roupa bastante chique. – sou a garota transferida, pode me falar minha sala?

– Cecília Moura? – ela pergunta e eu assinto – É a primeira sala no corredor de cardiologista.

Sorrio para ela andando pelos corredores, depois que finalmente acho entro sem pensar duas vezes na primeira sala do corredor. A sala me lembra cinema, é enorme e as cadeiras são próximas uma das outras. As cadeiras estão quase todas ocupadas, e só há pessoas bonita sentada, pessoas que parecem ter boas condições.

– Precisa de ajuda? – o professor pergunta. Ele é alto tem a pele negra e os cabelos grisalhos

– Essa é a minha sala – digo enquanto esfrego os dedos igual Judite faz quando esta nervosa – Vim transferida.

Vejo alguns grupos comentarem sobre isso, mas tento ignorar. Meu coração quase pula pela boca por estar nesse lugar.

– Tudo bem, mocinha – ele diz – Pode procurar algum lugar fixo para se sentar, hoje estou orientando como devemos ficar diante uma cirurgia.

Sorrio forçado para ele e sento no único lugar onde tem um grupo de pessoas que parece que não cochicham sobre mim, ou são mais discretos talvez.

– Alguém tem uma pergunta? – o professor pergunta. Eu queria muito levantar a mão agora mesmo mas não sei absolutamente nada o que esta acontecendo.

– Você mocinha – ele diz apontando para mim – Alguma pergunta?

Desfaço meus olhos arregalados e suspiro baixo tentando conter minhas bochechas coradas

– Hã... Não – digo – eu acabei de chegar não sei nada sobre isso ainda.

– Qual curso fazia antes desse? – o professor pergunta curioso.

– Nutricionista. – falo e esse foi o maior motivos de comentários da sala.

– Tudo bem – ele diz – vamos voltar a nossa atenção?

Todos se calam e o professor começa a explicar várias coisas interessantes. Estou tão focada na matéria que não percebo o grupinho me olhar com cara feia, eu pensei que as pessoas eram mais maduras, mas também não sei o que se passa na cabeça delas. O intervalo bate e todos vão para o pátio ou cantina seja la o que for. Fico sentada no mesmo lugar esperando ansiosamente a aula voltar ate que...

– Oi – uma garota diz se sentando no meu lado. Ela é baixa tem os cabelos curtos ate a orelha e os olhos pretos. do seu lado esta dois garotos e uma garota – Prazer, meu nome é Alice. – ela diz estendendo a mão e eu aperto

– Cecília. – digo sorrindo. Não sei ao certo se essas pessoas querem mesmo fazer amizade comigo.

– Essa é Júlia – ela diz apontando pra uma garota negra com o cabelo black power – Aquele João e esse o Thiago. – ela diz. O Thiago ate que é bonitinho. Todos me cumprimentam e se senta do meu lado – Deve ter percebido que ficamos cochichando sobre você a aula inteira, viemos pedir desculpas.

– É, percebi – digo – Sobre o que estavam falando?

– Que é impossível uma pessoa ser transferida assim dessa forma – ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha – você não ganhou por bolsa né? Porque assim... É muito difícil alguém passar com bolsa pra essa faculdade, e mesmo que se fosse você estaria na televisão e nos noticia...

– Hector paga mim. – digo. O que eu poderia falar? Para mim esse é o argumento mais claro e óbvio.

– Hector? – Julia pergunta – não conhecemos... – ela diz com um olho aberto e o outro estreito

– É claro que conhece – digo a encarando – Hector Adams, o senhor Adams.

Alice tenta segurar o riso, mas acaba soltando fazendo algumas salivas pingar no meu rosto.

– Me desculpe! – ela diz com a mão na boca.

– Caralho! Pior mentira que alguém já ouviu no universo. – Thiago diz e percebo que sua voz é meio afeminada. Todos colocam a mão na boca e se entreolham caçoando de mim.

– Por que não acreditam? – pergunto fechando a cara – realmente... Ele paga pra mim.

– Ta bom, Cecília. – Alice diz se levantando – Se não quer contar o seu segredo tudo bem ok? Mas não precisa mentir. Nós quarto demos duro para estar aqui, estudamos a beça porque não somos tão ricos pra estar em uma faculdade como essa, ai do nada uma garota puff! É transferida?

– Você está com inveja? – digo e ela me encara. Não falei para ofender, falei por sinceridade. Por que ela teria inveja de mim?

– Não... – ela estreita os olhos – Não estou com inveja de uma pessoa ridícula como você, você não tem roupas para estar num lugar como esse, você não tem classe, e não parece ser inteligente.

– Alice... Não precisa exagerar a garota é bonita, só não tem estilo. – João o garoto albino que ate então estava calado diz.

– Ela é vulgar João – ela diz – Não vê o que eu vejo? Ela esta no lugar de outra pessoa, isso é uma injustiça, porcaria de cotas!

– Eu estou aqui por causa de uma cota  Alice. – Júlia diz olhando para ela de relance – Sou negra esqueceu?

– Mas você é inteligente Júlia. Dã! – ela revira os olhos.
– Eu não quero confusões – digo – Não estou aqui para isso, eu acho que se cada um cuidar da sua vida tudo vai ficar bem.

– Mas tá – Alice diz – Então foi o senhor Adams que pagou sua faculdade?

– Como eu disse. – digo colocando as mãos no colo.

– Acho que a professora Verônica vai gastar de saber disso. – Júlia diz e Alice da um sorriso malicioso.

– Quem é Verônica? – pergunto curiosa

– Ela não sabe – Thiago diz – pobrezinha.

– Verônica, Cecília... – ela se senta no meu lado – é nada mais nada menos... Ali, ali esta ela.

Alice aponta para uma mulher que entra na sala e uau... Ela é... Muito bonita.

– Quem é ela? – pergunto com minha curiosidade saltando dentro de mim.

– Ela é a ex esposa do senhor Adams – Alice diz sorrindo olhando para mim enquanto eu fito Verônica fazer os preparativos da aula.

– E diretora dessa faculdade – Júlia diz.

– Quem é o dono? – pergunto, mas eu acho que já sei a resposta.

– A própria Verônica – Alice diz e eu a encaro – Hector deu pra ela de presente de noivado essa imensa faculdade. Acho que ela vai gostar de saber que ele esta bancando você.

Engulo um seco e encaro o chão.

TUDO POR UM CONTRATO - Vol 1 - +18Where stories live. Discover now