20 [ex•clu•si•vo] (!)

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"Obrigada. Eu posso emprestar o vestido, se quiser." Zomba, assim que termina de mastigar, me fazendo rir de novo.

"Eu tô falando sério." Reafirmo.

"E eu não?" Ela continua brincando, franzindo as sobrancelhas para fingir que está sendo honesta. "Azul fica bem em você. Ficaria lindo de costas nuas."

Escondo o rosto em uma das mãos, sentindo minhas bochechas esquentarem com o humor todo. Ela sempre arranca esses risos de mim.

"Irritantemente charmosa, minha garota sexy." Eu provoco, ainda sorrindo como um idiota.

"Minha, minha, minha. Sua palavra favorita recentemente." Observa, ficando realmente séria.

Eu sei que ela fica agitada quando eu digo isso, que rebate o pronome possessivo imediatamente, mas eu continuo usando o mesmo só porque tem um gosto bom na minha língua. Dessa vez, contudo, eu fiz sem perceber.

A fala dela me faz imaginar além. Como seria poder chamá-la de minha sem nenhum problema? Não há nada nas regras escritas que temos que me proíbe de fazer isso, está mais para algo implícito a natureza do nosso acordo. Não somos um casal e mesmo que fossemos, desconfio que o orgulho dela e sua modernidade não me permitiriam ficar tão confortável assim, a ponto de me deixar ter hábitos tão antiquados.

"Não é com más intenções, eu juro." Digo, abaixando os olhos para o asfalto abaixo de nossos sapatos.

"E é com qual intenção?" Ela questiona, não estando afim de deixar isso passar.

"A irrita tanto assim?" Enrolo em dar-lhe a verdade, sabendo que talvez eu vá cruzar algum limite invisível com a mesma. A ideia de aborrecê-la e perdê-la por algo tão tolo me dá arrepios ruins.

"Eu só quero entender." Charlotte explica e eu posso sentir seus olhos de mel queimando na lateral do meu rosto. Por um instante, eu tenho medo de que ela possa ler meus pensamentos com o quão intenso seu olhar é. Imagino se ela faz alguma ideia de como - e o quanto - mexe comigo.

Eu dou um gole no refrigerante, que está começando a ficar quente, só para ter um tempo antes de responder. Se eu disser uma besteira, sei que ela não irá hesitar em por um fim em nosso acordo. 'Minha' é um termo forte que pode implicar em muitas coisas, muitas delas sendo algo que Charlotte evita a todo custo. Eu só quero que ela entenda que não é bem assim que funcionaria pra mim, apesar.

Me recordo do momento em que a vi entrando no salão do restaurante. Ela me capturou apenas com seu andar. Um passo dentro desse vestido e foi fim de jogo pra mim. E então o sentimento ruim que se instalou no meu peito ao pensar que ela estava prestes a ter um encontro romântico com outra pessoa, bem na minha frente.

Eu não gostei. Ainda não gosto dessa ideia. E não é só porque seria na minha frente, mas porque eu odiaria a mera possibilidade disso ser verdade. A garota que não é minha com outro alguém. Ela não estaria fazendo nada de errado, ela é quem manda na própria vida, afinal. É só que... Me incomoda, por algum motivo irracional.

Eu sei o quão boa ela é. Quão doce e ríspida. Quão divertida e enlouquecedora. Distante e calorosa. Ela é um oxímoro o qual eu não consigo ficar sem, por mais complicado e fácil que possa ser. Eu estou viciado e nem ao menos consigo esconder. É perigoso e eu ainda quero.

"Desde que selamos o acordo, eu não transei com mais ninguém além de você, Char." Informo, cedendo as minhas próprias barreiras e a dúvida dela. Eu não sou um bom mentiroso e tentar enganá-la será muito pior.

A vejo abaixando a metade de seu hambúrguer inacabado dentro da sacola de papel pardo e engulo em seco ao notar como seus olhos me analisam profundamente. Um passo em falso e eu me ferro.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now