Convivência

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Richard

— Você levou a garota para uma festa e a deixou sozinha?

Olhei para o teto da sala observando minha mãe andar de um lado para o outro, irritada.

Ela começou cedo hoje, mas isso porque a Annabelle fofoqueira foi abrir a boca sobre o que aconteceu no nosso passeio antes. A garota além de chata e sem graça era x9.

— Ela estava no banheiro, queria que eu entrasse junto com a garota? Ou melhor. Queria que eu urinasse por ela?

— Bastava ser humano, a garota é cega.

— Essa parte de ser cega eu já entendi. Mas foi você quem mandou eu fazer amizade com ela, a culpa é toda sua.

— Pra quem você puxou tão vazio desse jeito? — Helena me olhou com decepção. — Onde está meu garotinho Richard? 

Está o garotinho dela? Como se ela tivesse tempo para procurar. Deveria saber que eu já sou um homem há muito tempo.

— Não há nenhum garotinho aqui. Apenas um cara que tem mais o que fazer a brincar de babá para uma garota cega. — retruquei começando a me irritar.

— É uma pena, mas vou continuar brincando de babá, até criar algum juízo. Joshua e eu vamos passar três meses fora. Partimos amanhã. — avisou saindo da sala para atender um telefonema.

Ela estava brincando com a minha cara.

— Como assim três meses? Volta aqui mãe.

(...)

Helena não estava brincando.

Anabelle abraçava seu pai e minha mãe do lado de fora da casa enquanto eu espiava tudo pela janela do quarto. Helena ergueu o olhar me procurando e eu fechei a cortina com raiva.

Não daria esse gostinho de despedida para ela.

Aquela traíra estava me abandonando e castigando da pior forma possível. Mas se ela achava que eu ia colaborar com isso estava muito enganada.

Não vou ser babá de ninguém. Anabelle vai implorar para eles voltarem, não irão passar nem ao menos dois dias nessa viagem.

Liguei meu vídeo-game deixando o som de tiros alto o suficiente para incomodar toda a vizinhança.

Me chamem de vagabundo, seja o que for, eu não ligo.

Estava tudo certo se alguém não viesse encher o meu saco esmurrando minha porta.

Achei que ela foi rápida demais em encontrar o meu quarto. 

Fingi não estava ouvindo, mas a garota era insistente.

— Richard posso entrar? — ela gritou do outro lado.

Quem ela pensa que é para querer entrar no meu quarto?

Continuei a ignorar e a garota continuou insistindo até eu não suportar mais. Ela era muito irritante.

— O que você quer? — abri a porta de supetão encontrando a garota baixinha me procurando com os olhos, enquanto apertava a manga do seu moletom de borboletas.

Parecia perdida e nervosa.

— Só conversar. — respondeu baixo.

— Não quero conversar, e estou sem roupa.

— Bom, você pode se cobrir e eu não irei ver nada de qualquer forma. — abaixou a cabeça, com as bochechas vermelhas.

Não tinha como ter raiva dela. Era uma anã fofa.

Eu estava com muita raiva do seu pai e minha mãe e se ela continuasse na minha frente eu descontaram todas as minhas frustrações nela, mesmo a garota não tendo culpa de nada.

— Entra. — resmunguei voltando para o meu video-game.

Ela sorriu animada como sempre, e eu estava entediado.

— Olha Anabelle, precisamos estabelecer regras aqui. Você pode ficar no seu canto, não entra no meu quarto e é bom não encher meu saco. — avisei, notando que a garota pareceu envergonhada.

— É Annabeth. — corrigiu.

— Não tem importância.

— Por que está agindo dessa maneira? — perguntou baixo.

Com certeza magoei seus sentimentos e seu próximo passo será ir embora chorando. Garotas como ela são difíceis de lidar, elas podem quebrar a qualquer momento.

São fáceis de quebrar e eu era ótimo em fazer isso.

— Esse sou eu.

— Não acho que seja tão babaca assim. — a garota disse com uma certeza que me deixou duvidoso.

— Você não me conhece, não sabe nada sobre mim. — revirei os olhos.

— Sei o que escuto pelos corredores. Você é capitão do time, charmoso, disputado pelas garotas e um grande arrogante.

— O que é? Anda Stalkeando minha vida?

Ela caminhou pelo quarto e eu a observei encontrar a cama atrapalhadamente, onde se sentou no colchão sem ser convidada.

— É só que você é popular. Por que está tão arrogante agora?

— É o seguinte. Só me aproximei de você porque minha mãe estava me obrigando. Sou uma pessoa terrível e é melhor você se manter longe de mim.

— Tudo bem, não é como se eu estivesse implorando sua amizade. Na verdade, eu só queria ajudar. Você parece solitário. — respondeu calmamente.

Sorri com aquele absurdo. Ela estava mesmo falando que eu era solitário aqui?

— Solitário? Você é solitária aqui, eu tenho todos os amigos que quiser.

— Com certeza tem. De amigos falsos o mundo está cheio. — o deboche em sua voz não soou legal.

Ela não era boazinha?

— Acha que meus amigos são falsos? O que sabe sobre eles?

— Não acho. Na verdade, tenho certeza. E a sua namorada Savannah trai você com todo o time.

Todo o time? Agora Annabelle havia pegado pesado nas palavras. 

— Como sabe que é todo time? E ela não é mais minha namorada.

— Ouvi ela se vangloriando no banheiro. Tem uma cara para cada dia da semana, ela escolhe por ordem alfabética, na última sexta estava na letra L. — a garota comentou pensativa.

L? Que ótimo, sou o maior corno de todos os tempos e até a garota cega da escola sabe disso.

— Não quero saber daquela vadia. Já disse que não temos nada. — retruquei irritado e ela deu de ombros.

— Podemos assistir um filme?

— E eu tenho escolhas?

— Você tem Bela e a Fera? — deu um pulinho empolgada.

Por que ela achava que eu tinha esse filme idiota?

— Por que eu teria esse filme idiota?

— Não tem problema, eu trouxe nas minhas coisas, só preciso ir lá buscar. — sua empolgação estava me desanimando.

— Não vou assistir esse filme com você, prefiro a morte.

Annabelle me ignorou e saiu sorrindo do quarto quase se esbarrando na porta, indo buscar a porcaria do filme, pude ouvir ela tateando as paredes para achar o caminho.

Para alguém que ainda estava conhecendo a casa ela estava andando muito bem sozinha.

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Vou voltar com essa história aos poucos pessoal, sempre que tiver um tempinho.

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⏰ Last updated: Nov 15, 2021 ⏰

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