Capítulo 2: Veneno

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P.O.V WILHELM

O camponês que eu havia encontrado a três dias era impressionantemente inofensivo, o que era estranho, e suspeito, achei melhor deixá-lo andar por perto para não ser pego de surpresa caso ele resolvesse me atacar, estávamos agora perigosamente perto do castelo, ficava dentro da maior montanha da ilha, era perigoso para mim estar ali perto pois os guardas poderiam me ver e eu teria que voltar pra aquela "prisão", não importa quantas coisas eu tenho lá dentro, o que eu realmente quero está aqui fora, liberdade pra conhecer Callyum. Eu acho que Simon não faz ideia do que o espera aqui na floresta, senão, ele não teria vindo, levando em consideração que ele não é um caçador, como ele mesmo diz, e por aqui, se você é um camponês e não é caçador, você é caça.

Estávamos perto do riacho que atravessaria para a montanha, quando eu senti a presença de ninfas, elas são perigosas, lindas, sutis e perigosas, elas não temem ninguém e nem nada, apenas atacam tudo que vêem como ameaça, estou ciente disso, e por mais que eu seja de uma linhagem importante, duvido que elas abram uma excessão.
-Precisamos sair daqui. Agora.

-Mas já? Acabamos de parar, poderíamos descansar, beber água e só depois seguir.

-Não, tem ninfas por perto, não é seguro.

-Se elas forem como você, não tem problema, só preciso explicar que não caço e estaremos livres. -Simon disse enquanto riscava mapas em um pedaço de papiro.

-Não são, não pense que os seres aqui serão como eu, minha família odeia vocês, e a maior parte dos seres daqui também odeiam, vocês são sinal de perigo pra gente, ninguém vai perguntar nada antes de atacar, proteção própria. -Respondo verificando as árvores ao redor em busca de sinais de onde as ninfas poderiam já estar.
Minhas unhas são pontudas e grossas, o suficiente para escalar uma árvore próxima e apertar os olhos em busca de uma visão limpa.
Simon olha pra mim, a expressão dele denuncia medo, acho que tirei ele de algum conforto, talvez eu tivesse passado a sensação de segurança antes, mas a realidade é diferente, os olhos castanhos e pequenos dele olham pra frente em busca de um plano, talvez, gostaria de ler mentes nesse momento, para saber o que o camponês cacheado poderia estar pensando, mas não tenho muito tempo pra analisar, já que logo sinto uma pontada de dor e um vulto passando do meu lado. Puxo o braço de Simon rapidamente, na tentativa de nos esconder, mas as três ninfas param na nossa frente, com garras venenosas e asas exuberantes. Começam a nos analisar com aqueles olhos desconfiados, eu e Simon parados no meio delas, estou segurando o braço dele ainda então consigo sentir o tremor leve e a pulsação desregulada nas veias, ele olha pra mim buscando orientação do que fazer, e eu balanço a cabeça, igualmente preocupado.

-Que cena peculiar, não é? Quem poderia estar caçando quem aqui? Isso é um humano? Grudado em um elfo? Estou confusa, e tem um zumbido no meu ouvido que me diz que há boatos de que você, criança, está sendo procurado pela sua família, a família real, pela floresta toda.

-Será que receberiamos comida de elite se levassemos o menino para o rei? Ou será que nós faríamos melhor cortando sua pele com as unhas e usando pra fazer roupas novas? - A segunda responde rindo de forma sarcástica.

-Duvido muito que essa pele fina e pálida me seria vantajoso em um visual, mas eu não sei como eu deixaria um humano e um elfo dado como fugitivo pela própria família, a mais importante da ilha, saírem intactatos de um encontro com a gente - A terceira rebate com um sorriso malicioso e fingindo contar nos dedos as variadas opções que tinham para não nos deixar vivos ou inteiros.

Acontece que nesses momentos, não consigo me concentrar, e se eu não me concentro, eu não penso, e se eu não penso, eu não uso minhas habilidades pra me defender, e esse talvez seja o maior motivo para meus pais me proibirem de sair do castelo. Então eu apenas olho para Simon que já está desesperado e cochichando para que eu faça algo antes que elas façam. Mas ele não faz ideia, de que nesses momentos eu não sou capaz de fazer nada.

As ninfas começam a se aproximar e suas intenções são claras, nos levar daqui a força pra seja lá onde, mas assim que a primeira delas toca no meu braço, um barulho ensurdecedor surge, e elas caem no chão, vários cavalos e elfos de guarda surgem em volta, com chicotes e cordas, prendendo as três ninfas que estão no chão atordoadas tentando se livrar do som, fruto de habilidade dos elfos da família real, e antes que eu me de conta, meu pai aparece em outro cavalo do meu lado, e estende a mão para que eu suba, eu olho para o Simon que está em desespero e puxo ele comigo, antes que alguém possa impedir, a pior atitude que eu poderia ter tido, a mais irresponsável para com Simon, e ele percebe. Não sei se agradeço por terem aparecido bem na hora ou se temo pela vida dele, que agora está nas mãos da minha família.

Não sei por que eu me preocuparia com ele, é um humano, um garoto impulsivo, e poderia se virar contra mim a qualquer momento, e mesmo assim...eu estava com o coração tão apertado em preocupação, pensando no que fariam com ele quando chegassemos, eu nem mesmo conseguia ligar para a bronca que eu levaria por fugir de casa assim, não sei o que era mas tinha alguma coisa nele que me fazia flutuar em meio as possibilidades, as possibilidades de sair e ver tanto, ele saiu e chegou aqui, aonde poderíamos chegar se saíssemos daqui juntos?
Segurei a mão dele, que estava sentado atrás de mim no cavalo guiado pelo cavalo de meu pai, apertei a mão de Simon até sentir o tremor sumir, e a pele suavizar e se acalmar.
-Vai ficar tudo bem, não vou deixar que alguém te faça algo de mal na montanha. - cochichei
-Tem certeza, Wilhelm?
-Não, mas eu vou tentar, prometo. - olhei pra trás e vi um sorriso cabisbaixo se abrir aos poucos no rosto dele. Isso era suficiente. Por algum motivo.

Two Worlds, One Love (Wilmon fanfic-Young Royals)Onde histórias criam vida. Descubra agora