Capítulo II

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Enfim poderei sair desse hospital. Não aguento mais essa comida horrível e sem sal. Sei que é para meu bem, mas queria muito uma pizza agora.

Ouço meu estômago roncar. Caramba, quanto tempo faz que não como de verdade? Que vida triste a minha. Se bem que para uma pessoa que sobreviveu a um acidente, não posso reclamar tanto.

Já se passaram duas semanas desde o ocorrido, estou tentando levar tudo na maior tranquilidade, e de fato, isso não é um sonho.

Se não é um sonho, então o que poderia ser? Uma outra vida? Que bizarro.

- Ok, estou começando a ficar maluca! - Esmurro o travesseiro para tentar aliviar o estresse.

Deito novamente e começo a pensar. Apesar de tudo, ainda sinto falta dos meus pais, dos antigos. Esses são completamente o contrário, não sei se vou me acostumar.

De qualquer forma, preciso descobrir o que está acontecendo, não os conheço. Mesmo que meus pais sejam os mesmos em aparência, não são os mesmos no quesito personalidade.

Balanço minha cabeça espantando esses pensamentos, quem estou querendo enganar? As coisas com os meus outros pais nunca foram muito legais. Brigas constantes, traições, sacarmos, esse era o maravilhoso relacionamento deles, mas agora, aqueles dois são o oposto, um casal muito feliz, se assim posso dizer.

Aquele garoto. Me encontro pensando nele outra vez, talvez seja por estar observando as rosas que ele trouxe. Ouso pegar uma delas sentindo o aroma delicado. Me pergunto o motivo de trazer sempre rosas vermelhas.

Será que realmente somos apenas amigos? Seu olhar em mim é tão diferente, ninguém chegou a me olhar de tal forma, isso me deixa confusa. Sinto as famosas borboletas no estômago pela primeira vez, me deixando assustada.

Até então, tudo o que sei sobre romance se baseia nos livros que leio, cheguei a me envolver com alguém, porém as coisas não foram como imaginava, não mesmo.

- Mel! - Uma garota adentra o quarto rapidamente de forma eufórica, me dando um abraço apertado.

- Ei! Tá me sufocando! - Ela me solta e olha ainda chorando para mim.

Respiro aliviada, nunca gostei tanto de abraços, ainda mais desse jeito.

- Me perdoa por não ter vindo antes! - Dou um sorriso e antes de poder falar algo, ela continua.

- Sabe como meus pais são, estávamos de viagem e eles não queriam voltar antes do tempo previsto, implorei se todas as formas, mas foi em vão. - A olhei da forma mais amigável, consegui perceber o tanto que ela se preocupava com isso.

- Não se preocupa Nanda, já tô bem, olha! - Me levanto e mexo meu corpo de forma engraçada. A ouvi rir e instantaneamente comecei a rir também.

Ela é uma boa pessoa, Vina me falou bastante dela nesses últimos dias. Falando nele, suas visitas são animadas e divertidas, sempre me alegrando. O Matheus sempre vem junto, quase não fala muita coisa, porém demonstra um carinho enorme.

Todas as informações que tive até agora partiram do meu suposto melhor amigo, consegui de uma forma segura, para que ele não descobrisse, claro.

- Terra chamando Melissa! - Vejo uma mão balançar para os lados na minha frente, me fazendo sair do transe, a olho rapidamente.

- Você tá legal? - Sua feição, com os olhos semicerrados, ao invés de me sentir pressionada, me fez rir bastante.

- Desculpa, você fez uma cara muito engraçada agora. - Seco uma pequena lágrima com as costas da mão. - Sério, eu até chorei.

Ela parecia mais emburrada, não aguentei, dando altas gargalhadas. Senti algo acertar meu rosto, era um travesseiro.

- Para de rir, chata! - Não acredito que teve a audácia de me dar língua e começar a rir.

Peguei o travesseiro do chão e o joguei com tudo, ela caiu deitando sobre a cama.

- Bem feito. - Sorriu debochada.

E então iniciou uma guerra de travesseiros.

Deitamos na cama rindo. Pela primeira vez pude saber como eram essas simples coisas da vida e sinceramente, é muito bom.

- Nunca me diverti tanto. - Digo sincera, ela me olha e sorri.

- Mel, você mudou um pouco, mas pra melhor. - Levanta e se senta na cama olhando a janela.

Não sabia como reagir aquilo, será que ela estaria percebendo? O quão diferente eu posso estar parecendo agora?

- É mesmo? - Engoli em seco. - E como eu era antes? - Ela voltou sua atenção para mim e sorriu.

- Sabe, você costuma ser mais quieta, mesmo sendo sua amiga a tanto tempo, é difícil ter esses momentos juntas. - Vi seus olhos marejados. - Isso parece tão bobo, mas tô tão feliz! - Pisco algumas vezes processando sua fala.

- Obrigada, Fernanda! - Sorri e a abracei apertado, ela pareceu surpresa, mas retribuiu na mesma intensidade.

- Não precisa agradecer, boba! É como prometemos. Iremos sempre estar uma do lado da outra, independente de qualquer coisa! - Balancei a cabeça em concordância.

Nunca tinha tido uma amiga antes, sempre estava sozinha e contando comigo mesma para tudo.
Saber que essas pessoas se importam tanto comigo faz meu coração palpitar de felicidade, mas ainda sinto medo de não ser real.

Estava me perguntando se conseguiria me acostumar com tudo isso, talvez a verdadeira pergunta seja "Será que conseguirei desacostumar?"

Nota mental:
Abraços até que não são tão ruins assim.

Minha Outra VidaWhere stories live. Discover now