Capítulo 9

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Rubens Naluti

Tinha acabado de arrumar o material em seu quarto, Rubens olhou para o parceiro de dormitório, Johnny estava jogado na cama, a mala em um canto totalmente largada Realmente eram opostos.

—Vou lá fora, Johnny. Quer ir?

—Acho que vou ficar aqui um pouco, você sabe né? Descansar.

—Descansar.

E saiu, sem dizer mais nenhuma palavras, Rubens era conhecido por elas, pelas poucas palavras que pronunciava, não via muito sentido em um discurso de uma hora quando tudo podia ser resumido em vinte minutos ou menos, ele era prático e simplista, sempre foi.

Na sala comum do terceiro ano, encontrou aquela menina que tinha conversado antes, Carla Leone. Ela parecia um pouco perdida, sentada em um sofá, olhava tudo ao redor dela, tentando procurar alguma coisa que Rubens não tinha ideia do que poderia ser.

—Quer ir pro pátio?

A menina olhou para ele, estando sentada e ele de pé ficavam na mesma altura, muitas pessoas fariam comentários sobre aquilo, mas se Carla cogitou a ideia preferiu ficar em silêncio em relação ao assunto.

—Pode ser. Acho que minha irmã pode estar lá.

Rubens levou Carla até o pátio, sem nenhuma palavra mais. Encontraram Carina em alguns poucos minutos, que estava acompanhada de uma garota a qual Rubens estranhava o fato de estar vestindo o uniforme escolar, ele não disse nada, apenas assistiu as garotas conversarem.

A garota que Rubens não tinha certeza de quem era partiu para outro lado após falar alguma coisa com Carina, que permaneceu conversando com a irmã. O rapaz não sabia muito bem o que fazer, talvez voltasse para seu dormitório, mas não queria que Carla se sentisse sozinha, decidiu ficar mais um pouco.

Depois de conversarem mais um pouco, Carina disse que queria encontrar as outras pessoas, Rubens decidiu seguir a menina, já que Carla também tinha pensado naquilo. Viu vários rostos que já tinha visto pela escola, aquelas pessoas eram do segundo ano. Não era muito bom com nomes, mas aproveitou que o garoto chamado Thiago estava apresentando as pessoas para Carina e prestou muita atenção.

Quando viu que as duas garotas estavam conversando tranquilamente, Rubens se afastou daquele grupinho, preferia passar o tempo mais afastado de tantas pessoas, a confusão o incomodava algumas vezes.

Passou pelo professor de educação física, que fez questão de perguntar sobre Johnny, obviamente, já que Rubens era o melhor amigo do craque do time da escola. Continuou andando pelo pátio, querendo sair de lá, mas acabou esbarrando em um homem muito mais alto que ele, não que fosse difícil uma pessoa ser mais alta que Rubens Naluti.

—Opa! Tá perdido pitiquinho?

—Não. Indo pro dormitório.

O homem tinha um sorriso no rosto, vestia uma camisa social verde clara e uma calça bege. Seu cabelo era bem preto assim como o bigode, Rubens tinha total certeza que nunca tinha visto aquele rosto pela escola em nenhum dos três anos.

—Sabe o caminho, então?

—Sei.

—Certo pitiquinho. Qual seu nome?

—Rubens.

—Ótimo Rubinho! Eu sou o Balu, qualquer coisa só me procurar viu?

—Rubens. Beleza.

O garoto terminou a conversa indo embora, sem deixar a chance de Balu completar qualquer outra coisa que tinha para falar. Rubinho? Pitiquinho? Ele estava falando sério? Rubens não entendia qual era a graça naquilo. Seguiu caminho pelo corredor e entrou na sala comum do terceiro ano, onde viu Aaron sentado em um sofá, fez um sinal de cumprimento para o garoto, que logo foi retribuído. E voltou a seguir caminho para o dormitório, ele já não era uma pessoa de muita conversa, mas Aaron era bem menos comunicativo do que ele.

No dormitório, Rubens viu Johnny deitado na cama, sabia que o amigo não estava dormindo, apenas distraído. Se aproximou lentamente da cama mais próxima da janela, conseguindo ficar ao lado de Johnny, que observava a parte exterior do prédio.

—Surpresa!

Johnny parecia que tinha visto um fantasma, devido ao susto que levou. Rubens não conseguia controlar sua risada, não era sempre que encontrava seu amigo desprevenido daquela maneira, mas valeu muito a pena.

—Rubens! Nem toda surpresa é boa mesmo né?

—Eu não sou surpresa boa?

—Você é sim! Droga, falei o que não devia.

Os dois amigos começaram a dar risada, normalmente era assim quando estavam juntos, não conversavam muito, mas sempre davam boas risadas e tinham suas próprias piadas.

Rubens percebeu, então, que tinha algo faltando, foi até sua mochila e pegou o colar que ele possuía desde o ano passado, a ave rosa de pernas compridas como pingente, Johnny estava sentado na cama, observando tudo.

—Johnny. Galinha.

—Rubens, não acredito que você esqueceu da galinha!

—Aqui! Galinha!

E então ele colocou o colar da "galinha" em seu pescoço, não se lembrava ao certo do motivo de nomear o pingente daquela forma, mas ele e Johnny acabaram pegando a mania de fazer aquilo e era algo que se tornou presente em suas conversas.

—Tô pensando em ir lá fora um pouco. Ver se tem alguém pra jogar. Quer vir? Você pode ficar na arquibancada.

—Arquibancada. Sim.

Johnny levantou da cama e foi saindo do quarto, Rubens olhou para onde o amigo estava antes e viu a camiseta xadrez verde largada, sabia que o colega nunca ia a lugar nenhum sem ela, mas provavelmente tinha esquecido de pegar, ou nem tinha percebido que não a vestia. O garoto segurou a camiseta e amarrou em sua cintura, seguindo o amigo que já estava quase na sala comum.

De volta naquele ambiente, estava um grupo de pessoas que Rubens tinha total conhecimento de que Johnny não se dava muito bem, não haviam discussões ou brigas, mas entre aqueles rostos tinha um que sempre virava os olhos ao ver a dupla de amigos.

—Aquele pessoalzinho insuportável. Ainda corto o cabelo daquele garoto enquanto ele dorme, só pra parar de ser metido.

—Cabelo longo, bonito.

—Sim, o cabelo dele é bonito. Fazer o que?

Os dois passaram pela sala comum, fazendo mais alguns comentários sobre aquele grupo, o que já era bem comum entre eles, os dois tinham esse hábito de concordar suas opiniões sobre outras pessoas.

Na quadra, Johnny encontrou dois garotos que também eram do time de futebol da escola, Miguel e Kenan, os dois conversavam com a amiga deles, Mariana. Os três jogadores decidiram fazer uma partida para se divertirem, a garota de pele escura e cabelos pretos aceitou a proposta de ser a juíza da partida. Rubens foi para a arquibancada, assim como tinha aceitado.

Era muito legal ver Johnny jogar, mas Rubens aproveitava para analisar as diferentes maneiras como cada um dos garotos jogava. Miguel era bem mais físico, chegando perto de ser violento, mas não machucava ninguém, ele sabia bem controlar sua força. Kenan era quase o oposto, bem mais defensivo, ele parecia analisar o campo e encontrava as melhores saídas, ele era muito estratégico mesmo em campo. Johnny parecia uma mistura dos outros dois, mas ele ia mais pra frente do que Miguel. Era legal assistir isso.

Naluti nem percebeu quando uma pessoa se sentou ao seu lado, ele sabia que era uma das garotas daquele grupo o qual ele e Johnny tinham visto antes, ela não disse nada, apenas assistiu e depois de um tempo saiu, Rubens não podia reclamar do silêncio. Bem diferente do quanto ele podia reclamar de quem apareceu pouco tempo depois.

—Oi Rubinho! Tava procurando o dormitório e parou na quadra?

–Rubens. E vim com meu amigo.

Balu olhou para a quadra e ficou encarando, Rubens decidiu se levantar e ir para outro lado, só torcia para que Johnny não desse falta da camiseta verde, ele tinha gostado de usar ela em sua cintura.

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