13 - NOS CORREDORES DO HOSPITAL

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Os momentos seguintes foram uma confusão só.

A polícia invadiu a lanchonete e me encontrou gritando nos fundos, com Pedro sangrando em profusão em meus braços.

- Socorro! Socorro, alguém me ajuda! - eu gritava tanto que a voz já parecia arranhar minha garganta.

Quando os primeiros policiais entraram no cômodo, um deles correu até nós dois enquanto o outro saiu correndo para chamar a ambulância.

- Eles chegaram, eles chegaram - eu falei para Pedro. Seus olhos pareciam pesados. Com uma mão eu o segurava, mantendo seu tronco erguido do chão. Com a outra, eu pressionava um pano em seu ferimento.

A bala tinha acertado a área entre seu peito e a sua barriga, entre as primeiras costelas. O pano estava encharcado de vermelho.

- O senhor vai ficar bem, vai ficar bem - eu murmurava, tanto para ele quanto para mim. Eu mal percebi quando o policial me afastou do corpo. Meu rosto estava encharcado de lágrimas. Eu via tudo o que estava acontecendo, mas era quase como se eu não estivesse consciente. O policial que me afastou começou a analisar Pedro. Tirou o pano do ferimento, analisou a ferida que sangrava em profusão e em seguida checou os sinais vitais dele.

- Precisamos da ambulância com urgência. Ele está perdendo muito sangue. - Avisou no rádio. - Você, garoto, o que foi que aconteceu aqui? - Ele se virou para mim. Eu olhei para ele. Eu tinha ouvido o que ele disse, mas minha mente não conseguia achar sentido nelas, como se fosse outro idioma. - Garoto! - Ele gritou mais uma vez. Olhei em sua direção, esforçando-me para compreender. Fechei os olhos com força, sentindo náuseas. Respirei fundo e contei até três.

- O que foi? - Falei ao abrir os olhos.

- O que foi que aconteceu aqui? - O policial perguntou novamente, falando mais devagar. Consegui compreendê-lo dessa vez.

- É... Eles invadiram, pegaram nós dois. Eles queriam o pen drive do meu pai, mas eu disse a eles que ele não era o meu pai, mas mesmo assim eles... Ele pulou na minha frente, era pra esse tiro ser em mim, bem aqui - apontei pro meu coração. Como Pedro era mais alto, o tiro não tinha acertado seu coração. E se tivesse acertado outro órgão? Olhei para minhas mãos, que estavam vermelhas com o seu sangue.

- Calma, garoto. Calma. A ambulância já está a caminho. Vamos fazer o possível para salvá-lo. O que você disse que eles queriam?

- O pen drive do meu pai, foi o que eles disseram, mas eu não tenho pais, eu cresci em um orfanato, eu...

- Respira. Olha nos meus olhos - O policial disse. Forcei meus olhos a se focarem nele. Era um homem na casa dos 35 anos, bonito, cabelos castanhos, eu não conseguia identificar a cor dos olhos, mas fixei o olhar neles como ele ordenou. - Vem aqui. Segura a mão dele até a ambulância chegar. Fale com ele, mantenha-o acordado.

- Tá... Tá bom. - Rastejei no chão até Pedro e peguei a mão dele. A cabeça de Pedro virou-se em minha direção. Ele estava acordado, e seu olhar revezava entre o policial e eu, como se ele não estivesse entendendo a situação muito bem. O que se falava com alguém nessa situação?

- Pedro... Dá pra acreditar que eles acharam que você fosse meu pai, quer dizer, olha só, não temos nada a ver - Dei uma risada nervosa. Distanciei meu cérebro daquela situação. Usei ele para fazer todas as orações que eu conseguia fazer, mentalizando com todas as minhas forças que Pedro ficaria bem, enquanto usava a boca para despejar palavras e mais palavras em cima dele. Pedro dava um sorrisinho ou outro enquanto falava. Imaginei quanta dor ele devia estar sentindo, meu Deus! A mancha de sangue embaixo dele era cada vez maior, mas eu me recusava a olhar para ela.

O Segredo da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora