Beatrice

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Acordei com os carros buzinando. Estávamos razoavelmente perto da divisa e presos em um trânsito péssimo, provocado por uma árvore que caiu depois de ser atingida por um raio algumas horas atrás. Olhei no relógio do carro e já era quatro da manhã novamente, me virei e vi minha mãe e meu irmão adormecidos enquanto meu pai parecia lutar contra o sono. O radio estava desligado então o liguei para anima-lo

- Com o que você vai trabalhar mesmo?- perguntei a ele

- Desenvolvimento de...- ele pensou melhor na sua resposta notando que eu provavelmente não entenderia informações muito técnicas depois de acabar de acordar de um cochilo- Desenhando prédios pra pessoas importantes

-Parece ser legal. Eu queria desenhar tão bem assim ao ponto de ganhar dinheiro só pra fazer isso

-Na verdade não é exatamente assim que funciona. Mas e você? ainda vai investir naquele negocio de banda ou vai abraçar de vez a gastronomia?

- A banda foi mais pra um romance de verão, ainda to pensando se meu negocio é na cozinha mesmo

- Todo mundo ficaria muito satisfeito em ter uma chef na família- nós rimos- pode voltar a dormir, eu aguento até a gente chegar lá

- Perdi o sono

Eu ainda estava sonolenta, mas fiquei acordada o resto da madrugada e demorou um pouco para conseguirmos atravessar aquele trecho. Enquanto esperávamos, eu só conseguia me perguntar se algum dos meus amigos já teria me mandado mensagem. Não que eu tenha muitos amigos, na verdade me perguntava mais se katie, minha melhor amiga, já teria me mandado mensagem. Nos conhecemos no jardim de infância e não nos desgrudamos desde então. Foi ela que teve a ideia no ano passado de formar uma banda com mais umas três garotas da nossa turma, eu era a baterista e ela a contrabaixista. Ela é como uma irmã para mim, sempre trocando segredos e apoiando uma a outra, como naquela vez em uma festa de Halloween que uma outra garota que assim como eu estava vestida de bruxinha riu de mim e chutou meu potinho de doces por ter uma fantasia simples de mais, era só um vestido preto com um chapéu enquanto a dela tinha rendas, brilhos e outras cores. Me lembro de chorar muito naquela noite até que Katie chegou e me deu uma outra cesta cheia de guloseimas que a principio eu não soube de onde tinham vindo, mas depois descobri que eram os doces da menina bruxinha de mais cedo.

Eu estava oficialmente dentro do colorado ( denver), os raios do sol que nascia começavam a surgir e todos dentro do carro já estavam despertos. Pude ver de longe os grandes prédios da cidade e no horizonte silhuetas de montanhas, o que achei reconfortante. Me fazia lembrar das montanhas do Canadá, apesar das árvores daqui serem bem mais amarelas do que as de lá.

Meu pai estava acabado depois de viajar quase sem parar por doze horas, então decidimos passar em uma lanchonete para comer e descansar um pouco, depois disso minha mãe assumiria o volante e meu pai com certeza iria dormir como um bebê no banco de trás. O clima estava agradável, um leve vento matinal soprava contra nós enquanto os raios de sol iluminavam nossos rostos. Na lanchonete, comemos hamburguer artesanal porque era o mais barato que eles tinham e todos os outros pratos eram extremamente caros, acho que a carne ou o pão estavam prestes a vencer ou algo do tipo. Enquanto terminava de comer, peguei meu diário e uma caneta de dentro de minha bolsa e comecei a escrever

Olá de novo diário, estou no colorado já fazem trinta minutos e até agora não me surpreendi com muita coisa. A paisagem é bonita, mas ainda assim não deixa de ser estranha para mim. Estou com meus pais e com Anthony neste exato momento em uma lanchonete perto da cidade chamada "Nhac" ( nome curto, nada criativo, porém tem a ver com o propósito do estabelecimento) comendo hamburguer, que por sinal está muito bom. Se houverem mais coisas nesse estado tão boas quanto esse hamburguer, então estarei bem.

Finalizei carimbando minha digital com ketchup

A conta foi paga, retornamos para o carro e seguimos em direção à minha nova casa, que ficava no centro da cidade por ser mais perto da empresa do meu pai. Conforme iamos nos aproximando apareciam cada vez mais casas e prédios chiques onde provavelmente moravam pessoas ricas e felizes. As pessoas que andavam pela calçada, no entanto, se vestiam de forma modesta como se aquela fosse uma manhã de domingo nublado em que tudo o que a gente deseja é poder dormir um pouco mais.

Depois de algumas esquinas, subidas e descidas chegamos a nossa suposta casa nova. Pelo visto meus pais tinham gastado um montão para comprar aquele casarão com um quintal enorme na frente, parecia até que eramos pessoas importantes.

Surpreendentemente o caminhão de mudanças ja estava no local há algum tempo e por isso não demorou muito até que nossos pertences estivessem por completo dentro da casa, que agora também nos pertencia. Era uma casa moderna, sem nenhum traço rustico ou vintage, totalmente moderna e meio sem graça.

Depois de ajudar meus pais a desempacotarem as coisas, peguei as minhas caixas e subi as escadas correndo para onde seria meu quarto. A casa tinha dois quartos além do dos meus pais, parecia ter sido projetada exatamente para minha familia morar. Um dos quartos ficava próximo à escada que levava de volta para a sala, o outro era mais afastado e tinha uma linda janela redonda que me lembrava os vitrais que um dia vi em uma aula de artes na minha antiga escola (definitivamente esse seria meu quarto)

A lembrança do vitral me fez lembrar também de katie, será que ela já havia me ligado principalmente depois da grande chuva da noite anterior? A dúvida de me fez correr para organizar minhas coisas na esperança de encontrar meu celular em alguma das caixas. Encontrei. Desbloqueei a tela que piscava no canto devido a falta de bateria, eu teria apenas alguns instantes para responder as mensagens e por isso torcia para que não fossem muitas.

Achei estranho quando verifiquei as notificações e o app de mensagens e não encontrei nada. Conferi se meus dados moveis estavam ligados e sim, eles estavam. Então por que não apareciam as mensagens? Eu já deveria ter recebido algo a não ser que uma coisa muito importante tivesse acontecido. Não digo isso querendo ser arrogante nem nada do tipo, mas nossa amizade simplesmente é assim, trocar mensagens por mais que nada de importante esteja acontecendo com nenhuma das duas é o padrão.

abri o Instagram para checar rapidamente o que tinha perdido no ultimo dia. O primeiro storie a aparecer foi o de Katie, privado apenas para os melhores amigos, talvez fosse explicando que quebrou o celular ou algo mais grave, cliquei apreensiva em sua foto de perfil

Um chá de bebê, ela estava em um chá de bebê, com as garotas da banda, umas meninas da nossa escola e algumas outras pessoas que eu não conhecia. Que alívio! Liguei para ela.


/oi, ta muito ocupada??

Beatrice que saudade que eu tava, já chegou nos Estados Unidos?

Cheguei hoje mais cedo, tava sem o celular, fiquei com medo de você ter mandado alguma coisa e eu não conseguir responder

Que bom que chegou bem, ontem fiquei a noite toda arrumando as coisas que faltavam pro chá de bebê

E quem é a "sortuda"?

Não te contei porque você já ia se mudar mesmo, mas sou eu a sortuda

como assim?

Eu tô gravida, vai se chamar Joseph, agora tenho que ir lá, depois a gente conversa

E ela desligou. Boquiaberta, chocada e um pouco confusa, preciso me sentar na cama pra assimilar o que eu acho que acabei de ouvir

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⏰ Last updated: Jan 12, 2023 ⏰

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amo-te de A a ZWhere stories live. Discover now