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Há uma linha tênue entre as coisas que eu gostaria de dizer e as coisas que eu digo.
Gostaria de dizer que o calor do sol machuca meus olhos, mas digo que os raios aquecem minha espinha. Gostaria de dizer que tenho medo do mar porque, por vezes, não tive fôlego para subir a superfície, mas digo que nadar me traz calma. Gostaria de dizer que odeio equações complexas porque me dão enxaqueca, mas digo que a profundidade me atrai.
Há uma série de coisas ditas e não ditas que eu guardo e que sufocam.
Odeio ser bom com palavras porque nem sempre elas me atendem como deveriam. Odeio chorar de noite e odeio como isso parece melodramático, como essas cenas ridículas de filmes disfarçados de cultos. É uma besteira sem fim. Não existe nada de bonito nisso.
Estar vulnerável, acho.
Sou medíocre e farsante. Gostaria de dizer que odeio ser assim. Daria minha vida para mudar. Mas não posso. Ao invés, digo que nasceu comigo. Que há certa coerência. Mas não é verdade.
Nada disso é. Nada do que eu sou, de fato é. Talvez esteja errado.
Não sei se, de fato, um dia conseguirei perceber isso.
