Capítulo 14 - Jun

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O príncipe é mudo.

Uma voz que nunca irá se levantar contra o Regente. Havia dito o Dragão e ele estava certo. Literalmente.

Estou tão chocada que não percebo quando a mulher levanta, levando o príncipe consigo. Não sei se ele está ferido, se pode ou não andar ou se o Dragão ainda está por perto, mas ela não se importa. Sai na frente, dispersando os soldados.

— Senhora! — eu a chamo, erguendo-me e a seguindo. O príncipe vai encolhido debaixo do braço dela como uma criança, embora seja bem mais alto que ela. — Senhora, não pode dispensar os guardas assim, é perigoso. O Dragão pode estar à espreita ainda!

— Eu já disse que ele fugiu pelos muros do fundo. Não viu o príncipe contando? — Ela pergunta com raiva. Tenho vontade de responder que não, não vi o príncipe contando porque não recebi nenhum treinamento especial para interpretar língua de sinais e estava chocada demais com a descoberta para prestar atenção ao que ela dizia.

Estou prestes a continuar argumentando com essa desconhecida quando Ren segura meu braço.

— Não se preocupe, Shang, nós vamos segui-lo. O palácio está todo cercado. O Dragão não vai ter chance de chegar perto do príncipe!

—Ele já chegou, Ren. — Argumento me desvencilhando e voltando a seguir a mulher, atravessando corredores e mais corredores até o que imagino que sejam os aposentos do príncipe. Durante todo o trajeto a mulher segue gritando ordens para qualquer criado que dê o azar de cruzar seu caminho.

Percebo que nenhum deles ousa encarar o príncipe e a maioria age como se ele não existisse. Estou em dúvida se eles o temem ou simplesmente desrespeitam abertamente.

Ou se existe uma terceira opção que ainda não me ocorreu.

Ren emparelha comigo em determinado ponto.

— Você foi muito corajoso e um pouco louco ao perseguir o Dragão sozinho. De novo.

Ele é muito amável, mas não tenho uma resposta boa no momento. A mulher à nossa frente grita por toalhas limpas, bacias e jarros com água, óleos aromáticos e mais um monte de coisas.

— Essa bobagem de festa já devia ter acabado há muito tempo! Pronto, chega desse circo! — ruge ela e não sei com quem está falando especificamente, se conosco, com os criados ou com o príncipe. — Você nunca deveria ter concordado com isso, JunJun.

JunJun.

Olho de esguelha para Ren, mas se ele achou estranho o apelido informal está escondendo bem, mantendo uma expressão neutra no rosto que é impossível decifrar.

— Quem é ela, afinal? — pergunto baixinho apertando o passo para alcança-los antes que ela nos tranque para fora de algum cômodo onde o Dragão pode estar escondido.

— Dan Dan. — Responde Ren. — É a ama seca do príncipe. Costumava ser ama de leite quando a imperatriz estava viva, mas depois que ela morreu virou uma substituta. E o defende com unhas e dentes!

— Até demais! — respondo mal humorada.

Dan Dan atravessa portas duplas douradas e eu a sigo rapidamente. Quando ela tranca a porta, Ren fica para trás, mas eu já me esgueirei e estou procurando sinais do Dragão.

— Soldados não são permitidos nos aposentos particulares do príncipe! — Anuncia Dan Dan com sua voz imperativa. Eu, que estou parcialmente curvada para fora da janela, investigando, viro-me para ela respirando fundo. Ela pode ser a ama seca dos deuses se quiser, mas não está acima de mim. Minha posição é defender o príncipe e eu respondo diretamente a ele, portanto, se quiserem que eu saia e o deixe desprotegido, ele terá que dar essa ordem pessoalmente.

Qingshan e o imperadorWhere stories live. Discover now