Capítulo 1 - O início de tudo

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15 de janeiro de 2019

A minha história está intimamente ligada a história de Melissa Bartolomeu, uma moça jovial, linda, meiga, educada, e amável com todos. Acabara de fazer 18 anos, cheia de vida, mas irei começar nossa história pelo fim.

Na tarde de 15 de janeiro de 2019, eu recebi uma ligação. Estava tirando um cochilo após o almoço.

— Alô — digo com voz sonolenta.

— Edson, é o Delegado Bri — Delegado Marcos Antônio de Brito, ou, para todos, apenas Bri. Ele é uma pessoa icônica da pequena cidade de Vale Verde, interior do Rio de Janeiro. Não mencionei ainda, mas me mudei pra cá tem pouco mais de um ano, tantas coisas aconteceram em tão pouco tempo, e conhecer Melissa foi uma delas. Voltando ao delegado de uma pacata cidade, ele praticamente não tinha muito que fazer. Ao todo, na cidade têm três policiais. Delegado Bri, Paula e Pablo, que são subordinados e fãs do Bri.

— Oi, delegado Bri, tudo bom?

— Tudo, meu filho, mas receio ser portador de uma notícia ruim. Vou logo direto ao ponto: Melissa sofreu um acidente de carro.

— Como? — praticamente grito do outro lado do telefone. Como assim? Ela é uma motorista mil vezes melhor do que eu. Nas poucas vezes que saímos de carro, ela que sempre dirigia.

— Filho, ela está no Hospital Salvadores — não espero nem o delegado terminar de falar, levando de uma só vez e já saio trocando de roupa.
No corredor, meu pai me olha assustado.

— O que houve, filho? — passo por ele.

— A Melissa sofreu um acidente! — gritei. Ouço-o correndo para o quarto, provavelmente indo acordar a minha mãe, que está grávida da minha irmãzinha e deve nascer em maio.

Quando pego minha bicicleta, só penso em chegar logo no famoso Hospital Salvadores, uma referência na região. Sei que mesmo que minha mãe esteja grávida, ela e meu pai vão ao hospital. Eles me arrastaram para esse fim de mundo. Mudamo-nos do Rio de Janeiro, do sol, da praia, da agitação, dos amigos, do paraíso que era pra um rapaz de 17 anos, para Vale Verde, mas sei que meus pais querem o meu melhor e para o bebê que logo estará chegando.
Ando que nem um louco de bicicleta pelas ruas tranquilas do meu bairro. Quando chego ao centro da cidade, a coisa muda. Deparo-me com muitos veículos, porque apesar da cidade ser pequena, o povo daqui gostava de carros. O Hospital fica na avenida principal, a Avenida Dom Bartolomeu, em homenagem a família do Prefeito – ele sempre nos lembra desse título, Paulo Bartolomeu, pai da Melissa. Em nove meses de namoro, eu o vi cinco vezes e todas não foram agradáveis, mas isso não importa. Não hoje.

Chegando ao Hospital, peço informação sobre Melissa Bartolomeu. A enfermeira me olha com cara azeda, ou de desprezo, não sei bem.

— Ela está em cirurgia — a enfermeira disse e eu me sento na sala de espera. Olho para o lado e vejo os pais da Melissa chegando. Como disse, são o Prefeito e Dona Marta Bartolomeu, que era simpática só quando lhe coubesse ser, ela é dona de vários negócios na cidade, desde sorveteiras à construtora.

Eles me veem. O pai me ignora e senta, mas a mãe me olha e diz:

— Que bom que veio, Edson, que bom. — Ela parece em choque.
Um tempo depois, meus pais chegaram. Minha mãe sentou do meu lado, e o meu pai conversou com a família Bartolomeu. Um tempo depois ele volta e me diz:

— Ela bateu na traseira de um ônibus. É grave, filho — não sei por que ele diz isso, mas um tempo depois comecei a entender. Ele estava me preparando para o pior.

As horas se arrastam até a cirurgia acabar e o médico vir em nossa direção, calado por um tempo. Todos conheciam Melissa e a adoravam. A demora me deixou mais angustiado. Até que ele falou:

— Ela não resistiu. — Ele continua falando, mas caio na cadeira e não ouço mais nada. Minha namorada acabara de falecer e eu estava arrasado. Não podia ser. Eu devo ter ouvido errado, ela não podia estar morta!

Não sei o que aconteceu depois. Só me lembro de estar em casa, na minha cama, deitado. Acho que devo ter chorado por horas. Minha mãe está sentada desconfortável na minha poltrona de leitura. Não sei que horas são, mas me levanto e a levo para o quarto. Ela diz que estava ótima a posição na poltrona. Eu dou um sorriso sem graça e a levo. Meu pai está no quarto com uma expressão triste. Infelizmente a morte faz parte da nossa família. Lembro logo do tio que perdi quando era muito jovem, acho que meu pai nunca superou a perda do irmão. Talvez sair do Rio de Janeiro tenha sido uma forma da nossa família seguir em frente, ou não. Ele conseguiu um emprego de engenheiro chefe na Construtora Herz, da mãe da Melissa. Minha mãe adorou a ideia de se mudar e criar a família num lugar com ar mais puro e sem violência. No início detestei a ideia de vir pra Vale Verde, até ver Melissa com seu sorriso tão doce e meigo no primeiro dia de aula.

— Bom dia, Forasteiro. Seja bem-vindo ao colégio Estadual Vale Verde. — Eu sorri e fiquei sem fala. O cara da cidade grande, extrovertido, baladeiro, ficou sem fala. Esse era o efeito dela.

Coloquei minha mãe na cama e fui para o meu quarto, sem saber se dormiria de novo. Seria uma longa noite.

Vale Verde - Não Confie em Ninguém (EM ANDAMENTO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora