10 - Como os animais

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Clara já chegou em casa se sentindo estranha, queria tomar um banho para tirar o cheiro da rua. Durante o banho, a água caindo pelo corpo parecia um bálsamo. Clara balançou a cabeça fazendo com que os cabelos molhados voassem para todos os lados, como fazem os animais.

Apenas com uma toalha ao redor do corpo, Clara ainda mantinha o cabelo enrolado em uma toalha quando deitou na cama.

— Não devia ter lavado o cabelo. Não estou com a menor disposição para secar. 

Danilo se inclinou sobre ela e abriu a toalha.

— Eu posso não entender muito de cabelo, mas sei que não é bom dormir com ele molhado, ainda mais enrolado na toalha. Teve uma época que o Eduardo usou cabelo comprido. Lembro da mãe brigando com ele por causa disso.

— O Eduardo usou cabelo comprido? Eu não consigo imaginar isso. Que idade ele tinha?

— Eu não lembro direito. Em torno de uns 10 eu acho ou menos.

— Como eu queria ter visto isso. Não consigo imaginar o Eduardo com o cabelo comprido.

Os dois riram juntos, mas Clara não estava bem. Ela não queria que Danilo percebesse, mas se sentia indisposta e enjoada. Danilo estava em cima dela e começou a beijá-la. Os beijos foram descendo até os seios, onde Danilo curtiu por cima da toalha mesmo. Clara percebeu que sua respiração estava ficando rasa. Não conseguia curtir o que Danilo estava lhe fazendo. Olhava para os lados, algo a incomodava, algo que não conseguia definir.  Se sentia estranha. Algo coçava sob a pele.

— Amor, tu está bem?

— Sim. Só estou me sentindo um pouco estranha. Não sei o que é. 

— É a conversão. Tu está sentindo o teu corpo mudar e a loba querendo sair. Agora tu vai ser capaz de mudar de forma, então, se sentir que a loba quer sair, só deixe ela sair. Eu vou estar aqui do teu lado para te apoiar no que precisar.

Clara não respondeu, mas achou assustadora a ideia de mudar para a forma loba. Não pensava que se sentiria tão mal na conversão. Sentia algo se movendo dentro dela e de repente ficou com medo de mudar para a forma loba e não conseguir voltar. Danilo disse que estaria com ela, precisava confiar nele, mas não sabia como conversaria com ele enquanto estivesse na forma loba.

Clara começou a ter pequenos espasmos pelo corpo todo. Percebeu que não teria mais controle sobre o que quer que estivesse por vir. 

— Se a loba quiser sair, deixa ela vir amor, eu vou estar aqui contigo. 

A voz de Danilo parecia distante,  mas podia sentir ele ao seu lado. Não olhou para ele,  não tinha certeza se foi porque não quis ou se não podia. Clara estava tentando não entrar em pânico. Sentia que estava perdendo cada vez mais o controle sobre o próprio corpo, até que fechou os olhos.

Clara não tinha certeza de como tinha acontecido, mas soube que havia algo diferente nela. Tinha medo de abrir os olhos. Tinha medo de ver o que havia acontecido com ela.

— Tu é linda meu amor — Danilo falou enquanto passava a mão no pêlo de sua companheira para apoiá-la. 

Clara era uma bela loba cinza. Os licantropos sempre tinham que se cuidar para nunca serem descobertos. Isso incluía se adaptarem fisicamente.  Na região em que viviam, o sul do Brasil, não há lobos, então precisaram refinar suas características para que, se um um dia alguém os visse, pensasse que era um grande cão e não um lobo. Clara já era um belo exemplar. Não era muito grande, branca com uma pelagem cinza por cima. De longe talvez alguém pudesse confundi-la com uma cruza de cão husky siberiano.

A Loba Profetizada - Livro 2 da série Lobos do SulOnde as histórias ganham vida. Descobre agora