Vi Lucien se aproximando e tentei esconder meu nervosismo. 

— Deveria parar de tremer se não quer que ninguém veja — ele apontou com o queixo para minha mão que segurava a torta. Segui seu olhar e vi que tremia horrores. 

— Bom, não faço ideia do que esperar. Acho normal estar nervosa. 

— Deveria voltar, então. Ficar com Feyre. Deve estar sendo difícil para ela, escutar todos esses tambores, ver as fogueiras, saber que você está aqui. A tentação é grande. — Lucien pegou algum doce da bandeja de um dos criados. 

— Acha que ela viria para cá?

— Sinceramente? Não faço ideia. Agora, divirta-se. — Então como se seu conselho fosse bom o suficiente, o ruivo deu uma mordia no doce e saiu caminhando em direção a caverna em que a maioria estava. 

Aquela sensação de algo estar me procurando voltou, e me segurei ao máximo para não ir atrás. O Calanmai parecia inofensivo até agora, apenas um bando de feéricos juntos; comendo e tocando. 

Resolvi andar um pouco, feéricos com e sem máscara estavam espalhados por todos os cantos – para se perder ali não seria necessário mais que cinco minutos –. Estava tudo tão calmo, parecendo apenas a calmaria antes da tempestade. Como se a qualquer momento algo fosse arruinar toda a paz. 

Foi aí que vi a égua de Feyre amarrada em uma das colinas; estava sem sela, mas Tamlin havia a ensinado a como montar sem precisar da mesma. Meu coração começou a disparar e corri os olhos pela multidão afim de procurar Lucien, ou quem sabe Alis ou Lene. Não achei nenhum deles. 

Comecei a ir na direção em que estava a égua, seja lá o que sussurrava dentro de mim ficava mais alto. Durante todo o caminho fui procurando Feyre, algum lampejo, mas havia tantos feéricos juntos que era impossível sentir seu cheiro. 

Achei Lucien encostado em uma das paredes da caverna, os braços cruzados e uma pequena trança caindo ao lado do rosto. Parecia entediado, como se todo o Calanmai fosse uma verdadeira piada e, talvez, fosse mesmo. Me aproximei devagar parando quando cheguei ao seu lado, uma distância causal para parecer que estava pegando alguma comida da mesa ao seu lado. 

— Feyre está aqui — sussurrei, não tirei os olhos da mesa enquanto falava o restante: — Acabei de ver a égua dela aqui, mas ainda não achei. 

Não precisei dizer mais nada, ele saiu dali no mesmo instante. Se foi contar a Tamlin ou apenas procurá-la, não fazia ideia; mas, sinceramente, aquilo não importava. Tinha apenas que achar minha irmã e se alguém a machucasse enquanto não a achava, bem, era bom a pessoa estar em forma. 

Estava perto do limite da floresta quando comecei a sentir, ainda muito fraco, o cheiro de Feyre. Me esgueirei até as árvores e comecei a andar entre as sombras, desejei que estivesse de calça e bota para não ter que segurar o vestido ou torcer para que o salto não fizesse barulho. 

A cada passo que eu dava entre as sombras da árvore, o cheiro de Feyre ficava mais forte. Vi três feéricos pálidos e com os olhos arregalados saírem correndo da parte mais escura da floresta, onde a luz das fogueiras não chegavam; segui na direção de onde eles vieram e não demorei para encontrar Feyre, mas ela não estava sozinha. Um feérico de cabelos escuros como penas de corvo e pele clara estava junto dela, as roupas eram do mais escuro preto – como se tivessem sido criadas a partir da própria noite.

Continuei nas sombras e contornei os dois até estar atrás do feérico. Deixei que a água viesse até meu encontro e andei sorrateiramente até minha irmã e o macho; devagar, fiz com que a água circulasse o feérico dos pés até o ombro, fina a princípio – para não notarem –. Quando o mesmo já estava todo circulado a transformei em uma espécie de gelo, então eles perceberam minha presença. 

Corte de Amores e Segredos - ReescrevendoWhere stories live. Discover now