Cap. 2 - Tormenta

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[2ª Edição]

Henri Speltri

Estava exausto, porém, sem uma gota de sono. A bombástica mistura de cafeína com pó de guaraná cumpria bem o papel de mantê-lo atento a sua enorme pilha de processos, afinal, a madrugada prometia ser longa.

No pequeno e nada modesto escritório de advocacia, localizado em um dos prédios mais caros da cidade, Henri se perdia em meio ao tempo e à bagunça que fazia diante de suas pilhas de papéis. Tinha uma defesa oral para apresentar em poucos dias e precisava estar afiado. Recitava, treinava, falava.

Normalmente, era o tipo de pessoa que falava pelos cotovelos.

Em seus trinta e dois anos, tinha uma experiência profissional invejável, boa parte vinda de sua temporada como militar e outra pelo tempo que trabalhou no escritório que assessorava a magnata tia Elizabeth Detzel. Nesta atual etapa da vida preferia assumir casos menores, às vezes menos lucrativos, mas que o possibilitasse viver de forma mais leve e menos pretensiosa.

Depois de tanto gastar saliva, considerou uma pausa. Se levantou da mesa, alongou o pescoço, se serviu mais uma xícara de café, foi até a janela, acendeu um cigarro e, para desanuviar um pouco a mente, zapeou pelas redes sociais, até que uma notificação chamou sua atenção.

— Puta que me pariu... – era uma verdadeira surpresa o que estava lendo. Falava para si – Ela me mandou mensagem? Mano... Ela me mandou mensagem!

Segurou o ar.

Não era de seu feitio ignorar ninguém, mas precisava se fazer de difícil.

Sem se dar conta que já se passavam das três da manhã de uma segunda-feira, ligou para o irmão. Precisava mesmo consultar um especialista em transtornos mentais que poderia ser crucial para inocentar seu cliente, este seria o pretexto, pois, na verdade, a consulta era para si, no caso da mensagem que tava enrolando para ler. Solenemente ignorado pelo irmão, ligou para outro especialista, não na área que precisava, mas que ia captar bem o fio da meada, o grande neurologista Thiago Taurus e também melhor amigo do irmão, Benício.

— Grande Thiagão! Tá acordado?

— Não animal! Vai tomar no cu Henry! Me deixa dormir! – esbravejou do outro lado da linha.

— Mas eu preciso da sua opinião agora!

— Meu atendimento é em horário comercial das nove da manhã às dezoito horas. Marque com minha secretária.

— Não é caso clínico não, viado, mas pode vir a ser. A Jú me mandou mensagem e tô com medo de ler.

— Vai se fuder! Abre logo essa porra de mensagem e lê! Afinal, cadê o Benício? Cuidar de doido é com ele, não é comigo não!

O amigo teve a audácia de desligar na cara. Começou a morder o cantinho da unha de tanta ansiedade e medo da mensagem.

Seus pensamentos mirabolantes sobre o conteúdo da mensagem foram interrompidos. O telefone que chamava, olhou no visor um número desconhecido. Ah vá, quem ousa me ligar a essa hora da manhã? . Ignorou. Se arrependeu no mesmo instante. Será que algo aconteceu com a Jú? Um acidente, um sequestro, meu deus! Um incêndio?

Respirou fundo e temeroso abriu a mensagem de Júlia, sua ex-namorada:

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[Henri, eu te odeio e também odeio o Benício, 

mas vá atrás dele e não deixa ele tomar 

Terra Proibida - EssênciaWhere stories live. Discover now