Cap. 1 - Sentimentos Ocultos

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— Se seu "bad boy" se resume a fumar, digamos que você está bem "aquém" da minha possibilidade de ser o cara mau da história.

— Aquém? Como assim?

— Olívia, minha... não sei nem se posso dizer, mulher, disse por mensagem de voz que vai me matar.

— Ela disse isso? Tá gravado? Já denunciou essa doida? Eu te disse pra não juntar com essa mulher, que ela é um demônio e você me ignorou. — Henri deu um forte trago, liberando a fumaça objetivamente — Conselho de advogado, faça um B.O. assim que voltar pro quarto. Melhor... Faz um B.O. AGORA!

— Deixa de ser paranoico! Ela tem uns parafusos a menos, mas não é má pessoa.

— Aham. Confia. Sabe quantos casos assim aparecem no meu escritório? Isso pode dar merda...

Enquanto o irmão enumerava as possibilidades de coisas ruins que podiam acontecer, falando sem parar, Benício estava em automático, sua mente e seus os olhos pairavam em outro lugar, no interior do salão. Seu pai e Elizabeth agora brindavam alegremente suas taças de champanhe e conversavam algo que parecia divertido. Seriam um casal perfeito, e constatar isso despertava uma pontadinha de ciúmes.

— Por que esses dois não ficam juntos e se beijam logo de uma vez? — perguntou retoricamente, ignorando o falatório do irmão.

— Como? — interrompeu o mais novo chateado.

— Ele pode, não pode? Viúvo e completamente desimpedido, mesma faixa etária, nada mais justo.

— Espera, você ignorou mesmo tudo o que eu tava falando?

— Claro.

— Olha só, Bê! Assim como eu levo em consideração tudo o que você me diz, você também deveria me ouvir. Sou seu advogado, porra! — tomou ar. Benício o ignorava solenemente — A tia Liz era a melhor amiga da nossa mãe, e por mais que eu ame o nosso coroa, não faz sentido! Nem ele e nem você são dignos de uma pessoa tão espetacular quanto ela. Acorda!

— Desse jeito, parece que você gosta dela mais que eu!

— Gosto. Mas meu sentimento por ela é o de filho. Ela é uma terceira mãe pra mim e não me confunda com você, que pegava qualquer menina ruiva na adolescência quando estava bêbado, jurando que era a tia e olha só no que deu? Terminou sendo ameaçado de morte por uma dessas doidas.

— Joga na minha cara o meu passado sórdido, santo Henri! — perdendo a paciência — Quer mexer nas merdas do passado mesmo? Não tem nenhuma mulher sozinha nessa festa pra você alugar, não?

— É. Esse assunto já tá ficando chato! Aliás, você é chato. — olhou multidão e focou em uma mulher acompanhada por um senhor caquético, a apontou mostrando a Benício. — vou dormir com aquela.

— Duvido.

— Aposta quanto?

— Vai se ferrar!

Com um piscadinha safada, Henri se dirigiu ao alvo enquanto Benício voltava à amargura. O garçom trocava mais uma vez o copo por um cheio e a resistência ao álcool começava a ruir. Gostava de Olívia, mas preferiu, por hora, não contar para Henri sobre o motivo da ameaça, pois sabia que ele não largaria do pé a noite toda para saber detalhes, e como contar detalhes que nem ele mesmo sabia quais eram?

Vislumbrou o próprio reflexo na vidraça que separava a sacada do interior do prédio e ao contrário de Henri, que passou por uma verdadeira metamorfose ao sair da puberdade, se tornando belíssimo, Benício se achava comum, ainda mais agora, nos seus trinta e quatro anos. No fundo, se desprezava. Era como se a pessoa que enxergasse refletido fosse outra e isso o fazia questionar o tamanho ciúme que Olívia sentia, porém, nada fazia sentido.

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