— Ei! — me viro para olhá-lo. Os olhos ainda fechados, mas a tristeza estava em suas feições. — Não tem problema. Você não tinha como saber. 

Encaro o quarto novamente, dessa vez prestando atenção nos detalhes. 

O quarto era grande, decorado em tons de laranja, vermelho e dourado, com leves traços de marrom. O que deveria ser uma mesa de café ao lado da janela tinha virado uma mesa de trabalho coberta com inúmeras armas e papéis – talvez mapas. Sua cama também tinha um dossel de madeira escura, diferente do meu e de Feyre que era mais claro. Uma verdadeira floresta no outono.

Resolvo mudar de assunto. Se falasse mais alguma coisa sobre aqueles anos choraria facilmente.

— Se conheço bem minha irmã eles devem estar apenas caminhando pelos corredores, talvez parando em algumas pinturas para que ela possa apreciá-las.

— Feyre gosta de pintar? — Lucien abriu o olho metálico e ficou me encarando.

— Interessado na minha irmã, raposinha? — Brinquei, ganhando um tapa no braço logo em seguida. — De qualquer jeito, ela é a melhor pintora que eu já conheci, e tem um talento incrível para isso, me sinto mal por não ter feito ela pintar mais. Agora, pare de me encarar com esse olho, ele pode ser maneiro e tudo mais, mas apenas ele é horripilante.

— Pela Mãe, Layla! Tem medo de um olho mecânico agora?!

— Não sei se lembra, mas convivi com humanos por toda minha vida. Para eles isso não é normal!

Ele riu da minha cara, relaxando os ombros.

— Certo, sem olho mecânico perto de você.

— Obrigada.

Passamos um tempo em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro. Imaginei o que minha irmã deveria estar fazendo, se foi certo eu deixá-la sozinha com Tamlin, pensei no que teria acontecido para Lucien perder um dos olhos – porque por mais que nos conhecêssemos nunca me contaram –, tentei imaginar o que poderia estar acontecendo com Nestha e Elain – se Tamlin estava realmente as ajudando.

— Como conseguiu a cicatriz? — pergunto me deitando ao seu lado.

— O quê?

— A do olho. — Lucien resmunga um ah. — Não precisa responder se não quiser.

— Não, tudo bem. Foi um pouco antes de um baile de máscara, 49 anos atrás, esse em que nossas máscaras ficaram presas nos nossos rostos — ele da uma leve batida na máscara de raposa —, fui enviar uma mensagem, coisa de emissário, e digamos que o destinatário não ficou muito feliz com a mensagem, ou com o que eu havia respondido. Decidiu que, invés de conversar com o remetente da amável mensagem, arrancar meu olho seria mais... divertido. Minha, talvez sorte, foi que tenho uma amiga na Corte Diurna que faz esse tipo de coisa — apontou para o olho de metal —, e ele funciona como um olho normal, o que é muito bom.

— Sinto muito...

— Não precisa. Já me acostumei.

— Do mesmo jeito, queria saber um jeito de ajudar.

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Estava no meu quarto tocando algumas músicas no piano, algumas vezes apenas para sentir a sensação boa que a música causava, quando Feyre entrou. Aljava e arco na costas, uma faca – que reconheci ser de Lucien – embainhada na lateral do corpo, uma sacola com uma galinha dentro e algumas cordas na mão esquerda; na direita segurava algumas roupas. Vestia uma túnica branca e calça e botas pretas. Jogou as roupas que segurava na mão direita na minha cama.

Corte de Amores e Segredos - ReescrevendoWhere stories live. Discover now